A Palestina como objecto negocial


É conhecida a origem da “questão palestiniana”: aquando da partilha do império Otomano, a perfídia inglesa ofereceu o mesmo território a duas populações: os palestinianos, que já o habitavam e os judeus, que, em muito maior número, para lá queriam emigrar.


A partir deste mau começo a história encarregou-se de transformar a questão palestiniana numa arma de arremesso entre as duas superpotências, durante a guerra fria, e entre as potências regionais (Egipto, Turquia, Irão, Arábia Saudita), em permanente luta pelo estatuto de campeão da causa islâmica. Cada potentado patrocinou uma ou mais facções dentro da população palestiniana e usou-as para defender os seus interesses, muitas vezes fora das fronteiras históricas da Palestina. Foi assim que a Jordânia descobriu que os refugiados palestinianos que acolhia poderiam facilmente revoltar-se e tomar o poder, foi assim que o Líbano descobriu o poder atractivo dos refugiados palestinianos para as diversas invasões israelitas ou para a presença indesejada das forças armadas sírias. No eterno conflito entre xiitas e sunitas, surgiram alianças tácticas anti-Israel, com o Hamas a ser armado pelo Irão, via Hezbollah, mas a beneficiar de financiamento de algumas das petro-monarquias do Golfo. O Iémen teve direito a mais uma guerra civil, agora com claras linhas de clivagem entre xiitas e sunitas, com a equipa xiita local (os houthis) a apoiar a causa palestiniana. Mas o principal, e melhor sucedido, promotor da cizânia entre palestinanos, é Netanyahu, que alimentou politicamente o Hamas em detrimento da Autoridade Palestiniana, mantendo esta no limbo do proto-Estado palestiniano desenhado pelos acordos de Oslo.

            Os palestinianos podem queixar-se, com razão, do colonialismo britânico e da má vizinhança, desde logo a israelita, mas também a dos vizinhos contíguos (Jordânia e Egipto) que temem as consequências dos fluxos de refugiados palestinianos. Mas devem queixar-se da sua incapacidade de gerar lideranças fortes, legitimadas pelo voto (as últimas eleições legislativas acontecerem em 2006, com a vitória do Hamas…) e capazes de oferecerem à comunidade internacional um mínimo de credibilidade que justifique o investimento financeiro e político na Autoridade Palestiniana.

            O ataque do Hamas a Israel, em 7 de Outubro de 2023, tinha como objectivo político evitar o retomar das relações diplomáticas entre Israel e uma série de Estados árabes, com destaque para a Arábia Saudita, por via dos denominados Acordos de Abraão, um pet project do genro de Donald Trump. Os 15 de meses de guerra garantiram que esse objectivo não era atingido. Mas a guerra debilitou, e muito, o Hamas, o Hezbollah e o Irão. A chegada do cessar fogo e do segundo mandato de Donald Trump permitirão retomar as relações diplomáticas entre Israel e os Estados árabes, unidos, mais uma vez, para fazer face ao Irão.

            Neste vasto tabuleiro de xadrez os palestinianos continuarão isolados e sem valor político que desperte o interesse dos restantes jogadores. Isolamento e impotência são também os apodos da União Europeia, desaparecida por completo neste processo. A nova-velha gerência da UE aparenta só se conseguir preocupar com um problema geo-político de cada vez, olhando em exclusivo para a fronteira leste, sem perceber as implicações globais do que possa acontecer no Médio Oriente. A história ensinou-nos a seguir com atenção o que se passa nas fronteiras do império. Devemos vigiar todas as fronteiras e não só naquelas que mais preocupam os azulinos olhos alemães e bálticos.

A Palestina como objecto negocial


É conhecida a origem da “questão palestiniana”: aquando da partilha do império Otomano, a perfídia inglesa ofereceu o mesmo território a duas populações: os palestinianos, que já o habitavam e os judeus, que, em muito maior número, para lá queriam emigrar.


A partir deste mau começo a história encarregou-se de transformar a questão palestiniana numa arma de arremesso entre as duas superpotências, durante a guerra fria, e entre as potências regionais (Egipto, Turquia, Irão, Arábia Saudita), em permanente luta pelo estatuto de campeão da causa islâmica. Cada potentado patrocinou uma ou mais facções dentro da população palestiniana e usou-as para defender os seus interesses, muitas vezes fora das fronteiras históricas da Palestina. Foi assim que a Jordânia descobriu que os refugiados palestinianos que acolhia poderiam facilmente revoltar-se e tomar o poder, foi assim que o Líbano descobriu o poder atractivo dos refugiados palestinianos para as diversas invasões israelitas ou para a presença indesejada das forças armadas sírias. No eterno conflito entre xiitas e sunitas, surgiram alianças tácticas anti-Israel, com o Hamas a ser armado pelo Irão, via Hezbollah, mas a beneficiar de financiamento de algumas das petro-monarquias do Golfo. O Iémen teve direito a mais uma guerra civil, agora com claras linhas de clivagem entre xiitas e sunitas, com a equipa xiita local (os houthis) a apoiar a causa palestiniana. Mas o principal, e melhor sucedido, promotor da cizânia entre palestinanos, é Netanyahu, que alimentou politicamente o Hamas em detrimento da Autoridade Palestiniana, mantendo esta no limbo do proto-Estado palestiniano desenhado pelos acordos de Oslo.

            Os palestinianos podem queixar-se, com razão, do colonialismo britânico e da má vizinhança, desde logo a israelita, mas também a dos vizinhos contíguos (Jordânia e Egipto) que temem as consequências dos fluxos de refugiados palestinianos. Mas devem queixar-se da sua incapacidade de gerar lideranças fortes, legitimadas pelo voto (as últimas eleições legislativas acontecerem em 2006, com a vitória do Hamas…) e capazes de oferecerem à comunidade internacional um mínimo de credibilidade que justifique o investimento financeiro e político na Autoridade Palestiniana.

            O ataque do Hamas a Israel, em 7 de Outubro de 2023, tinha como objectivo político evitar o retomar das relações diplomáticas entre Israel e uma série de Estados árabes, com destaque para a Arábia Saudita, por via dos denominados Acordos de Abraão, um pet project do genro de Donald Trump. Os 15 de meses de guerra garantiram que esse objectivo não era atingido. Mas a guerra debilitou, e muito, o Hamas, o Hezbollah e o Irão. A chegada do cessar fogo e do segundo mandato de Donald Trump permitirão retomar as relações diplomáticas entre Israel e os Estados árabes, unidos, mais uma vez, para fazer face ao Irão.

            Neste vasto tabuleiro de xadrez os palestinianos continuarão isolados e sem valor político que desperte o interesse dos restantes jogadores. Isolamento e impotência são também os apodos da União Europeia, desaparecida por completo neste processo. A nova-velha gerência da UE aparenta só se conseguir preocupar com um problema geo-político de cada vez, olhando em exclusivo para a fronteira leste, sem perceber as implicações globais do que possa acontecer no Médio Oriente. A história ensinou-nos a seguir com atenção o que se passa nas fronteiras do império. Devemos vigiar todas as fronteiras e não só naquelas que mais preocupam os azulinos olhos alemães e bálticos.