Alqueva: Estado já arrecadou mais de três mil milhões de euros

Alqueva: Estado já arrecadou mais de três mil milhões de euros


Estado mais do que recuperou o investimento aplicado. A somar há que contar com o peso do projeto para o PIB e para a criação de postos de trabalho diretos e indiretos, rondando os 28 mil. ‘Em nenhum país da Europa conheci uma coisa tão importante e com impacto tão grande como o Alqueva’.


O investimento feito pelo Estado no Alqueva já foi mais do que recuperado. Em causa está um montante de investimento na ordem dos mil milhões de euros e um retorno anual de 3,2 mil milhões de euros que se traduz em impostos arrecadados e no impacto económico que criou.As contas são de um estudo promovido pelo EDIA, empresa pública gestora do empreendimento de Alqueva, que irá ser apresentado este mês, a que o Nascer do SOL teve acesso.

«O estudo mostra valores surpreendentes de impacto económico deste projeto: o esforço do investimento do orçamento nacional foi superior a mil milhões de euros, mas as receitas fiscais adicionais que foram induzidas pelo projeto já são três vezes superiores. O projeto Alqueva e toda a atividade económica que induziu representa um valor anual de produção superior a 3.200 milhões de euros», revela ao nosso jornal José Pedro Salema, presidente do conselho de administração da EDIA. E acrescenta: «Cada vez que fazemos um investimento vamos dar dinheiro a empresas de construção e essas empresas vão pagar impostos, vão pagar Seguranças Social, a par dos impostos adicionais». O investimento, lembra, contou com o apoio de fundos comunitários, a par de verbas do Orçamento do Estado.

Além do impacto em termos de cofres do Estado deve-se somar a riqueza criada em termos de Produto Interno Bruto (PIB), assim como o valor apresentado bruto, no que diz respeito às empresas e aos empregos criados, diretos e indiretos – agricultura e indústria –, na ordem dos 28 mil, o que veio ultrapassar as estimativas iniciais.

«Há impactos muitos positivos e este é um exemplo de um investimento público que funcionou. Gastámos muito dinheiro durante muitos anos, mas o retorno está a ser muito superior. São investimentos que valem a pena», refere.

Também Luís Mira, secretário-geral da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) considera que este «é o projeto europeu de coesão de território mais importante» que conhece. «Em nenhum país da Europa conheci uma coisa tão importante com impacto tão grande numa mudança e numa mudança territorial, como é o caso do Alqueva, porque mudou o tipo de agricultura e trouxe capacidade de produzir riqueza», diz ao nosso jornal.

E recorda que, no passado, chegou a ser dito que o concelho de Beja gerava qualquer coisa como 10 milhões de euros, um valor bem abaixo dos 200 milhões que são faturados atualmente – 20 vezes mais. «Não havia desenvolvimento na região e a grande diferença é que ao investir-se mil milhões no Alqueva, o próprio Estado já teve retorno». Mira nota que se em vez de tantas autoestradas «tivessem sido feitos mais investimentos produtivos para a gestão eficiente da água ou para outra qualquer atividade produtiva se calhar o país agora seria diferente».

Em relação à hipótese de o Governo avançar com mais projetos desta dimensão, não hesita: «Não há mais Guadianas para fazer mais Alquevas». Refere, no entanto, que há matérias em que se pode melhorar, nomeadamente com a nova estratégia do Governo a ‘Água que une’ . Ainda assim, lamenta o atraso dos projetos delineados nos últimos anos. «Estes não são planos de agora, tem tudo 50 anos e, por isso, não estamos a descobrir nada de novo», diz Luís Mira. «Tudo isto estava planeado e a única coisa que faz sentido equacionar é todas as barragens que temos construído e que foram concessionadas para a produção de energia e que estão nas mãos do Estado». Recorde-se que a própria barragem do Alqueva demorou cerca de meio século a concretizar.

Continua Luís Mira: «Não precisamos dos espanhóis para nada, a água que chove no território nacional chega se for bem gerida e isso iria permitiria aumentar a nossa capacidade, mas na verdade não temos feito nada e o fizemos nos últimos 50 anos foi o Alqueva. Anunciar é importante, mas há 50 anos que anunciam o novo aeroporto e ainda não há a nova infraestrutura».

Como tudo começou

O projeto começou a ser pensado em 1957, altura, em que foi elaborado o Plano de Rega do Alentejo, que assumiu a necessidade de construção da barragem do Alqueva. A infraestrutura chegou a ser aprovada em Conselho de Ministros, em 1975, mas só cinco mais tarde é houve uma nova resolução a determinar a retoma dos trabalhos.

O projeto entrou de novo em ‘standby’ até à decisão definitiva de avançar, em 1993, pelo governo de Cavaco Silva. Ainda em 1993 foi criada a Comissão Instaladora do Alqueva, seguindo-se os estudos de impacte ambiental e a criação da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), assim como o reinício dos trabalhos com as escavações da primeira fase.

A empreitada para execução do primeiro bloco de rega do Sistema Global de Rega, conhecido como infraestrutura 12, que está situado em Ferreira do Alentejo, foi adjudicada em 2000.

Em 2004 pelas mãos do primeiro-ministro Durão Barroso entrou em funcionamento a Central Hidroelétrica do Alqueva, altura em que é apresentado 2015 como novo prazo para concluir as infraestruturas de rega do Alqueva, dez anos antes do inicialmente previsto. Em 2011 assiste-se à conclusão da instalação das cinco centrais mini-hídricas do projeto e cinco anos depois a EDIA conclui a construção de todas as infraestruturas para regar os 120 mil hectares da primeira fase do projeto.

O projeto ganha outra vida em 2019 com o início de obras da segunda fase para ampliação do regadio, em que a EDIA anuncia um investimento de 50 milhões de euros para a instalação de 10 centrais fotovoltaicas flutuantes no empreendimento, criando «o maior projeto fotovoltaico flutuante da Europa».