Moços de recados


Os recados dos moços e das moças sempre existiram e sempre existirão, não podem é ser padrão para torpedear as instituições, a cidadania e a democracia.


A política está pejada de gente que não fala claro, não explica o sentido das coisas, verbaliza para as entrelinhas e cria um mercado enorme para a especulação sobre o alcance das intervenções, das opções e das notícias plantadas nos media. São os Moços de Recados, elevados nos últimos tempos ao expoente máximo dos arrufos de alecrim e manjerona entre Belém e São Bento, com um cruzamento de recados entre Marcelo e Montenegro como se não fossem farinha do mesmo saco, um mais urbano que o outro, nas palavras presidenciais de um jantar com jornalistas estrangeiros de 2024, não repetido em 2025 ou sem nota pública.

Antigamente os recados faziam parte do processo de crescimento infantil, recompensados com pequenos mimos pela concretização de tarefas básicas para os familiares ou vizinhos. Era um desafio linear, embora as distrações o pudessem transformar em grandes aventuras ou desastres por concretização ao lado do pretendido. Hoje a “recadaria” instalada, onde se integram os ensaios governativos de sopro para os media de ideias para avaliação das perceções, é uma praga que coloca em risco a essência da política e o ambiente democrático.

A política existe para concretizar soluções para as pessoas e os territórios, mas se os protagonistas não são lineares, não são coerentes e decidem sem explicar o sentido das opções políticas, por vezes sem critério inteligível, fundamento, equidade ou sustentação, está criado o caldo de cultura para o desencanto, o afastamento e a falta de compreensão popular com as ideias, as iniciativas e os projetos.

50 anos disto deu um país com um frágil sentido de coesão no desenvolvimento; crescentes debilidades de funcionamento do Estado que fazem emergir soluções privadas para quem dispõe de rendimentos para não perder o acesso a bens e serviços; uma falta de visão integrada, estratégica e de antecipação dos problemas e das tendências; e cidadãos pouco exigentes com o exercício de funções políticas públicas em linha com o nível de afirmação cívica da cidadania, com direitos e deveres. Neste alforge de contradições, à esquerda e à direita, é normal a presença em barda de Moços de Recados, cada vez mais preocupados com a parte do que com o todo. A pulverização do ambiente social, real e digital, propicia a emergência da “recadaria” geral, o sobressalto e os truques, entre a norma e o vale tudo.

Sim, quem exerce funções públicas tem obrigação de explicar o sentido, o alcance e os objetivos das opções políticas que são assumidas, mas também das omissões.

Sim, quem está em funções públicas deve ser escrutinado, mas também deve ter tempo para desenvolver os programas que propôs, devendo gerar condições para o efeito, em diálogo com quem diverge e na construção de compromissos de estabilidade, num país com recursos finitos e problemas que parecem, mais do que estruturais, eternos.

Sim, tem de haver a capacidade de avaliação, de autocrítica e de distanciamento da função para analisar o que correu bem e o que falhou estrondosamente, sobretudo em função dos resultados, sem narrativas ou tribalismos partidários.

Não fazer nada disto, é persistir na geração de pastos para os populismos, os oportunismos e a afirmação de egos que conseguem ir pouco mais do que além da esfera de liberdade individual e das bolhas de poder e de presença social em que se movimentam muitos dos moços de recados em presença no espaço público. Falam muito, encriptado, sem nunca terem tido necessidade, oportunidade ou obrigação de “meter a mão na massa” na construção de soluções.

Belém quer dizer algo, e quantas vezes falou devendo estar calado, que o faça de forma clara, frontal e transparente.

São Bento quer falar, e quantas vezes está omisso quando deveria estar presente, que comunique de forma esclarecedora, explicativa e inteligível sobre as opções políticas, a separação de poderes e funcionamento democrático.

Os líderes querem expor as suas ideias e posições, que o façam sem entrelinhas, com transparência, mínimos de elevação e respeito pela diferença, para que o diálogo democrático possa fluir e servir de exemplo para a sociedade cada vez mais crispada.

Os comentadores, com ou sem agendas, querem participar no debate público, que o façam com sentido pedagógico, promoção da explicação que falta aos políticos, de antecipação das realidades e sem lançar mais achas para a fogueira do espaço público.

Os recados dos moços e das moças sempre existiram e sempre existirão, não podem é ser padrão para torpedear as instituições, a cidadania e a democracia.

NOTAS FINAIS

A SÍNDROME PRESIDENCIAL DE DONA FLOR E SEUS DOIS AMORES. Como no romance de Jorge Amado, Dona Flor de Belém parece ter saudades do “defundo” Valdinho governativo e incomodo com o Teodoro vigente na governação. À procura de registo para o presente, com recorrente falta de senso e excesso de simbolismo, será bom que a Dona Flor, mesmo que com 2 amores, não hipoteque o que resta que crédito para a promoção da governabilidade, que será sempre um tango de dois ou mais.

MORTE DA PROXIMIDADE- PARTE 2. A folha de Excel é precisa, mas não pode ser o critério que mina a democracia e o sentimento de pertença do indivíduo à comunidade. A Caixa Geral de Depósitos, montada em lucros substanciais, está a retirar-se da prestação de serviços presenciais sustentados em diversos territórios do país, sem ter em conta o perfil da população e o compromisso que o banco público deve ter com o combate ao sentimento de abandono das comunidades pelo Estado. É inaceitável.

INFINITA GERAÇÃO DE MERCADOS PRIVADOS PELO PÚBLICO. Foi na segurança social, com os PPR, depois na saúde, com mais de 4 milhões de segurados e agora na educação, com mais escolas privadas (60%) do que públicas em Lisboa e Porto. No que não há privado, é um desastre, da pobreza aos sem-abrigo, da falta de coesão territorial ao soçobro da vida urbana. Um bocadinho de mão na consciência de uma certa esquerda, sempre enfunada pela alegada excelência do seu exercício político era o mínimo. São, no exercício público, os maiores catalisadores dos mercados privados. O problema é que quem não tem rendimentos, resta-lhe os bloqueios do acesso, a exclusão, a falta de compromisso social e a adesão aos populismos.

Moços de recados


Os recados dos moços e das moças sempre existiram e sempre existirão, não podem é ser padrão para torpedear as instituições, a cidadania e a democracia.


A política está pejada de gente que não fala claro, não explica o sentido das coisas, verbaliza para as entrelinhas e cria um mercado enorme para a especulação sobre o alcance das intervenções, das opções e das notícias plantadas nos media. São os Moços de Recados, elevados nos últimos tempos ao expoente máximo dos arrufos de alecrim e manjerona entre Belém e São Bento, com um cruzamento de recados entre Marcelo e Montenegro como se não fossem farinha do mesmo saco, um mais urbano que o outro, nas palavras presidenciais de um jantar com jornalistas estrangeiros de 2024, não repetido em 2025 ou sem nota pública.

Antigamente os recados faziam parte do processo de crescimento infantil, recompensados com pequenos mimos pela concretização de tarefas básicas para os familiares ou vizinhos. Era um desafio linear, embora as distrações o pudessem transformar em grandes aventuras ou desastres por concretização ao lado do pretendido. Hoje a “recadaria” instalada, onde se integram os ensaios governativos de sopro para os media de ideias para avaliação das perceções, é uma praga que coloca em risco a essência da política e o ambiente democrático.

A política existe para concretizar soluções para as pessoas e os territórios, mas se os protagonistas não são lineares, não são coerentes e decidem sem explicar o sentido das opções políticas, por vezes sem critério inteligível, fundamento, equidade ou sustentação, está criado o caldo de cultura para o desencanto, o afastamento e a falta de compreensão popular com as ideias, as iniciativas e os projetos.

50 anos disto deu um país com um frágil sentido de coesão no desenvolvimento; crescentes debilidades de funcionamento do Estado que fazem emergir soluções privadas para quem dispõe de rendimentos para não perder o acesso a bens e serviços; uma falta de visão integrada, estratégica e de antecipação dos problemas e das tendências; e cidadãos pouco exigentes com o exercício de funções políticas públicas em linha com o nível de afirmação cívica da cidadania, com direitos e deveres. Neste alforge de contradições, à esquerda e à direita, é normal a presença em barda de Moços de Recados, cada vez mais preocupados com a parte do que com o todo. A pulverização do ambiente social, real e digital, propicia a emergência da “recadaria” geral, o sobressalto e os truques, entre a norma e o vale tudo.

Sim, quem exerce funções públicas tem obrigação de explicar o sentido, o alcance e os objetivos das opções políticas que são assumidas, mas também das omissões.

Sim, quem está em funções públicas deve ser escrutinado, mas também deve ter tempo para desenvolver os programas que propôs, devendo gerar condições para o efeito, em diálogo com quem diverge e na construção de compromissos de estabilidade, num país com recursos finitos e problemas que parecem, mais do que estruturais, eternos.

Sim, tem de haver a capacidade de avaliação, de autocrítica e de distanciamento da função para analisar o que correu bem e o que falhou estrondosamente, sobretudo em função dos resultados, sem narrativas ou tribalismos partidários.

Não fazer nada disto, é persistir na geração de pastos para os populismos, os oportunismos e a afirmação de egos que conseguem ir pouco mais do que além da esfera de liberdade individual e das bolhas de poder e de presença social em que se movimentam muitos dos moços de recados em presença no espaço público. Falam muito, encriptado, sem nunca terem tido necessidade, oportunidade ou obrigação de “meter a mão na massa” na construção de soluções.

Belém quer dizer algo, e quantas vezes falou devendo estar calado, que o faça de forma clara, frontal e transparente.

São Bento quer falar, e quantas vezes está omisso quando deveria estar presente, que comunique de forma esclarecedora, explicativa e inteligível sobre as opções políticas, a separação de poderes e funcionamento democrático.

Os líderes querem expor as suas ideias e posições, que o façam sem entrelinhas, com transparência, mínimos de elevação e respeito pela diferença, para que o diálogo democrático possa fluir e servir de exemplo para a sociedade cada vez mais crispada.

Os comentadores, com ou sem agendas, querem participar no debate público, que o façam com sentido pedagógico, promoção da explicação que falta aos políticos, de antecipação das realidades e sem lançar mais achas para a fogueira do espaço público.

Os recados dos moços e das moças sempre existiram e sempre existirão, não podem é ser padrão para torpedear as instituições, a cidadania e a democracia.

NOTAS FINAIS

A SÍNDROME PRESIDENCIAL DE DONA FLOR E SEUS DOIS AMORES. Como no romance de Jorge Amado, Dona Flor de Belém parece ter saudades do “defundo” Valdinho governativo e incomodo com o Teodoro vigente na governação. À procura de registo para o presente, com recorrente falta de senso e excesso de simbolismo, será bom que a Dona Flor, mesmo que com 2 amores, não hipoteque o que resta que crédito para a promoção da governabilidade, que será sempre um tango de dois ou mais.

MORTE DA PROXIMIDADE- PARTE 2. A folha de Excel é precisa, mas não pode ser o critério que mina a democracia e o sentimento de pertença do indivíduo à comunidade. A Caixa Geral de Depósitos, montada em lucros substanciais, está a retirar-se da prestação de serviços presenciais sustentados em diversos territórios do país, sem ter em conta o perfil da população e o compromisso que o banco público deve ter com o combate ao sentimento de abandono das comunidades pelo Estado. É inaceitável.

INFINITA GERAÇÃO DE MERCADOS PRIVADOS PELO PÚBLICO. Foi na segurança social, com os PPR, depois na saúde, com mais de 4 milhões de segurados e agora na educação, com mais escolas privadas (60%) do que públicas em Lisboa e Porto. No que não há privado, é um desastre, da pobreza aos sem-abrigo, da falta de coesão territorial ao soçobro da vida urbana. Um bocadinho de mão na consciência de uma certa esquerda, sempre enfunada pela alegada excelência do seu exercício político era o mínimo. São, no exercício público, os maiores catalisadores dos mercados privados. O problema é que quem não tem rendimentos, resta-lhe os bloqueios do acesso, a exclusão, a falta de compromisso social e a adesão aos populismos.