Uma espada afiada sob o pescoço da águia

Uma espada afiada sob o pescoço da águia


Benfica, na visita ao Mónaco, está em situação tremida na Liga dos Campeões. O Sporting vive descansado.


A fase de eliminatórias da Liga dos Campeões, que apesar do novo formato não deixa de ser a primeira divisão entre quem tem cabedal para seguir em frente e os que acabarão já fora dos lugares que qualificam diretamente para os oitavos-de-final, para os ‘play-off’ ou para coisa alguma, entra esta semana na sua segunda metade. E os dois clubes portugueses em liça estão em situações diametralmente diferentes. Relativamente à vontade o Sporting; a precisar de voltar a ganhar o Benfica depois das duas derrotas nos dois últimos jogos.

Dizem os especialistas da UEFA, que inventaram este campeonato de jogos meio à toa, que 15 pontos serão suficientes para a qualificação direta. Recebendo o Arsenal na próxima terça-feira, pelas 20h00 em Alvalade, ficam os leões com 13 pontos em caso de vitória, a um passo pequenino desse desidério, ainda por cima porque logo em seguida, no dia 10 de dezembro, vai ao campo do Brugge, uma adversário com muito de acessível.

Com a saída de Ruben Amorim a questão mais premente que envolve os leões não tem tanto que ver com a solidez do conjunto – João Pereira tem agora nas mãos a que é, de longe, a melhor equipa portuguesa, e cabe-lhe manter a consistência de que tem dado mostras até ao momento – mas mais como ela irá reagir à ausência daquele que foi o seu criador ao longo de três anos e quase meio. Em termos mentais o Sporting não continuará a ser decididamente o mesmo, embora não esteja a insinuar que ficará pior. É na diferença de personalidade entre Amorim e João Pereira que se jogará muito do futuro imediato da equipa. É na forma como o novo técnico construirá o seu diálogo com os jogadores que pode estar a divergência entre o sucesso e o insucesso.

Não restarão dúvidas, na hora da despedida e por todos os gestos de amizade que os atletas dirigiram ao homem que tem agora a responsabilidade de reconstruir o Manchester United, que ninguém conseguirá facilmente estabelecer tamanha empatia. E foi com essa empatia que o Sporting obteve resultados significativos (alguns brilhantes), por vezes até dando a volta a circunstâncias negativas.

Frente ao Arsenal, que está prevenido pelo que aconteceu ao City em Alvalade e joga de uma forma diferente do que a da equipa de Pep Guardiola (numa crise tão profunda que somou quatro derrotas consecutivas), apesar de Mikel Arteta também ser um estudioso da posse de bola, poderemos tirar ilações mais concretas do posicionamento leonino frente a um conjunto na teoria mais forte. E João Pereira tem tudo a ganhar se se apresentar com a coragem que foi argumento de Ruben Amorim.

Aflitos estão agora os benfiquistas que viram Bruno Lage desperdiçar com duas derrotas a posição agradável em que se encontrava depois das duas vitórias iniciais. No Mónaco, na quarta-feira, mais um jogo fora depois da vergonha de Munique, é preciso fazer qualquer coisa por uma vitória que será fundamental. Com seis pontos apenas em quatro jogos, e dois adversários de grande peso ainda por defrontar, Barcelona e Juventus, diria que só com vitórias no Mónaco e depois em casa frente ao Bolonha é que o conjunto de Bruno Lage pode ainda sonhar com a ida aos play-off, nada de muito agradável mas ainda assim a última porta aberta para chegar aos oitavos-de-final.

Sonhar com o play-off

Depois do que se viu na Luz, frente ao Atlético de Madrid, criou-se entre os adeptos a ideia de que seria possível ficar entre os oito primeiros. Não fora aquele ridículo jogo face ao Feyenoord, que tirou proveito de um total desmembramento do Benfica para vir a Lisboa enxovalhar um adversário que no passado lhe deu algumas tristezas. essa ideia ainda perduraria. Se ainda custa perceber o que passou pela cabeça de Lage ao apresentar-se fanfarrão e displicente, convencido certamente que os holandeses vinham lá de_Roterdão a tremer de medo, todos os pontos de interrogação que pairam sobre a águia são justificados. Para atingir a tal barreira dos 15 pontos o Benfica teria de realizar uma espécie de milagre: ou quatro vitórias nos quatro jogos que lhe faltam ou, numa visão muito otimista do futuro, três vitórias e mais um empate, esperando que os que boiam na zona medíocre da tabela também não desatem a ganhar as partidas em catadupa.

Sendo o mais objetivo possível não sou capaz de ver nesta equipa encarnada nem robustez, nem determinação nem sequer coragem capazes de a conduzirem a uma posição muito melhor do que aquela em que se encontra. A ida aos play-off é, a meu ver, a única saída possível para se aguentar em prova, algo de aceitável para aquilo que tem feito e não foi grande coisa para além da tal goleada aos madrilenos. O pavor a que assistimos em Munique já fora posto em campo em Belgrado, sobretudo depois de chegar à vantagem de 2-0. Sinceramente o Benfica não tem arcaboiço para uma prova desta dimensão e qualquer resultado que não seja uma vitória no_Principado fará esfumar a réstia de esperança que se mantém viva no peito de alguns prosélitos mais empedernidos. A derrota face ao Feyenoord, em casa, dinamitou a ilusão.