No meio de prateleiras repletas de miniaturas e itens raros, Ana Lopes da Silva – uma devota colecionadora do universo de Star Wars – abre as portas para falar sobre a sua coleção. Para ela, o colecionismo vai além do simples ato de reunir objetos. É um exercício de paixão, uma jornada que a aproximou de uma comunidade com interesses comuns e, acima de tudo, um caminho para explorar lições e filosofias presentes neste universo. «Comecei a colecionar há muitos anos, quando os meus filhos cresceram e eu pude dedicar mais tempo a este hobby», partilha Ana, que menciona como o colecionismo se tornou um caso sério apenas numa fase mais tranquila da vida. «Deixei de ter certos encargos e foi quando me dediquei mais à minha coleção», conta a colecionadora de 53 anos, destacando o caráter terapêutico e a liberdade financeira que permitiram investir mais tempo e recursos no seu passatempo.
A coleção de Ana é diversa e inclui desde pins e emblemas bordados até figuras de ação detalhadas e peças exclusivas. «Tenho, por exemplo, emblemas bordados, como os das capas académicas», comenta. A paixão pelos detalhes e a ligação emocional com esses itens são evidentes quando fala das suas peças favoritas. Para Ana, a coleção não é apenas sobre valor material: «A peça mais importante para mim nem precisa de ser a mais cara. O que realmente importa é o que me toca emocionalmente», sublinha.
O universo de Star Wars, criado por George Lucas em 1977, transformou-se num fenómeno cultural, encantando gerações com as suas histórias épicas de aventura, poder e redenção. Ambientado numa galáxia fictícia «muito, muito distante», Star Wars construiu ao longo dos anos um império de filmes, séries, livros, banda desenhada, jogos e muito mais, além de uma base de fãs apaixonada. A obra mistura elementos de fantasia e ficção científica com temas universais como a luta entre o bem e o mal, a busca pela identidade e a importância de resistir à opressão, oferecendo um conjunto vasto de narrativas que vão além do entretenimento.
Ao longo da entrevista, Ana revela como este universo ultrapassa o entretenimento e se conecta com aspetos mais profundos da sua vida. «Star Wars traz uma mensagem de que a origem não nos define, que podemos fazer o bem e lutar pelo que é justo», reflete. Esse aspeto inspirador é o que a faz continuar a investir no hobby e defender as mensagens contidas na saga. «Acho que é uma grande lição», diz Ana, que vê nas histórias e personagens uma espécie de guia moral.
Para Ana, ser fã não significa negar as fragilidades humanas, mas sim admirá-las. «Ver personagens que cobram as suas próprias fraquezas, mas que ainda lutam pela justiça e pelo bem, é algo que eu tento levar comigo», explica. Entre as várias personagens de Star Wars, Ana tem os seus preferidos, como a princesa Leia, mas para ela, é o conjunto da obra que oferece lições valiosas para a vida. Parte do encanto de colecionar está também na troca de experiências com outros fãs, seja pessoalmente ou em grupos e fóruns online. Ana destaca o lado positivo de fazer parte de uma comunidade de pessoas que partilham o mesmo interesse. «Tenho amigos que também são aficionados, alguns gostam só dos primeiros filmes, outros não perdem uma série nova. Eu gosto de tudo, gosto de um pouco de cada coisa», comenta.
No entanto, reconhece que a visão sobre colecionismo ainda enfrenta preconceitos em Portugal. «Parece que há pessoas que ainda acham que quem coleciona não tem mais nada que fazer ou que está a gastar dinheiro à toa», desabafa. Mas, para Ana, colecionar é mais do que um passatempo: é uma forma de expressar quem é e de preservar algo que traz significado. «Cada um gosta do que gosta e não tem de ser entendido por todos», afirma.
Ana espera que o colecionismo de Star Wars continue a encantar novos fãs e, especialmente, as gerações mais jovens. Acredita que transmitir essa paixão é uma forma de incentivar valores positivos. «Acho importante que as crianças comecem a ter as suas paixões, que aprendam a gostar de algo e que cresçam com isso. Ofereço Funko Pops aos miúdos, por exemplo», defende. Em casa, tenta passar essa ideia para os filhos, mesmo que eles tenham interesses distintos.
Ana conclui a entrevista deixando uma mensagem para quem, como ela, encontra no colecionismo uma verdadeira paixão. «É muito bonito ver pessoas de várias idades e origens unidas por algo em comum», diz. «É como um universo paralelo onde podemos ser nós mesmos, sem julgamentos», conclui.