Lore Segal. Uma vida de resiliência, criatividade e empatia

Lore Segal. Uma vida de resiliência, criatividade e empatia


1928-2024. A história de uma das crianças resgatadas pelo Kindertransport.


Escritora e tradutora aclamada pela crítica, faleceu aos 96 anos, deixando um legado literário notável e uma vida marcada por resiliência, criatividade e empatia. Nascida Lore Groszmann em 1928, em Viena, na Áustria, foi uma das crianças judias resgatadas pelo Kindertransport – um esforço humanitário que levou cerca de 10 mil crianças judias de países ameaçados para o Reino Unido – em 1938, escapando à perseguição nazi. Ela e a mãe conseguiram sobreviver, embora o pai tenha sido uma das vítimas do Holocausto.

Após a guerra, Segal mudou-se para os EUA, onde começou a sua trajetória literária. Em 1964, publicou Other People’s Houses, um relato semiautobiográfico inspirado na sua infância como refugiada e nas suas memórias do período do Kindertransport. O livro foi elogiado pela forma delicada através da qual abordava temas complexos, como a migração forçada, o trauma e a identidade. Nesta obra, relatava aquilo que tinha vivido em casas de acolhimento, em Inglaterra, mostrando o impacto do exílio e da adaptação a uma nova cultura.

Segal continuou a explorar essas questões em obras como Her First American (1985) – a história de uma imigrante austríaca que se apaixona por um americano negro – ou Shakespeare’s Kitchen(2007) – uma coletânea de contos, alguns dos quais já haviam sido publicados em revistas –, que refletem a sua habilidade para combinar humor, ironia e crítica social. Esta obra foi finalista do Prémio Pulitzer, consolidando a sua posição no cenário literário como uma autora capaz de captar as nuances das relações humanas e os dilemas morais da vida contemporânea.

Destacou-se por olhar para o sofrimento com uma sensibilidade única, usando a ficção para examinar a vida de refugiados e imigrantes, sempre com uma perspetiva de compaixão e profundamente humana.

Além da sua produção literária, Lore Segal também foi tradutora e contribuiu com ensaios e contos para revistas como a The New Yorker. Reconhecida com prémios ao longo da sua carreira, inspirou gerações de escritores e leitores com a sua dedicação à escrita e a sua compreensão da condição humana. Também lecionou Escrita Criativa em universidades como Columbia ou Princeton.

Será lembrada pelo seu talento literário, a sua coragem e a sua capacidade de transformar experiências dolorosas em histórias que tocam o coração de todos que as leem.