À espera do Presidente. Política caseira opta pela prudência

À espera do Presidente. Política caseira opta pela prudência


A hora da verdade aproxima-se nos Estados Unidos e os responsáveis políticos medem cada palavra para evitar problemas diplomáticos no dia seguinte. Chega já celebra esperada vitória de Donald Trump.


À medida que a data das eleições nos Estados Unidos da América se aproxima, a classe política torna-se mais cautelosa nos comentários. Seja quem for o candidato vencedor, será Presidente da maior potência do ocidente com quem Portugal tem particulares relações de proximidade, não só por integrar a União Europeia, mas também pela relação e aliança bilateral que sempre foi uma prioridade para o país em matéria de política externa.

É a cautela que leva os principais partidos de governo, PS e PSD a evitarem comentários mais assertivos que, no dia 6 de novembro possam ser interpretados como declarações hostis ao novo Presidente americano.

“Portugal vai ter que se relacionar com o novo inquilino ou inquilina da Casa Branca num ambiente de amizade, normalidade e respeito pela escolha do povo norte-americano, como sempre aconteceu na relação histórica entre os dois países”, ouviu o i a um responsável diplomático, que recusou fazer juízos de valor sobre os candidatos, ou mesmo, traçar cenários em caso de vitória de um ou de outro.

Aconteça o que acontecer, a verdade é que nos bastidores da política nacional já se fazem muitas contas sobre os possíveis cenários pós eleitorais, até porque, todos sabem que o que acontece do outro lado do atlântico pode ter muito mais influência na política caseira do que as decisões nacionais.

Governo acompanha e PSD não tem posição Muito criticado por no verão ter dito ao jornal Expresso que entre os dois candidatos não saberia quem escolher, Hugo Soares, líder parlamentar do PSD explicou no fim de semana ao jornal Nascer do SOL o que o leva a esta aparente indecisão: “Não sabia que em Portugal havia tão profundos conhecedores da política americana e dos Estados Unidos que permitissem fazer os comentários com a densidade supérflua e com a ligeireza que fizeram sobre a minha declaração. O que eu disse foi uma coisa muito simples ganhe quem ganhar, Portugal vai ter que ter relacionamento diplomático com quem ganhar as eleições nos Estados Unidos. É um país demasiado importante, nosso aliado de sempre, num contexto geopolítico complexo. É natural que o líder parlamentar do PSD que apoia um governo, não possa ter uma posição fechada sobre uma matéria como essa. Mas eu não tenho problema nenhum em dizer, ao contrário desses profundos conhecedores ligeiros da política norte americana, eu não me revejo em nenhum dos candidatos. Eu sou obrigado a rever-me nalgum dos candidatos?”. Palavras que resumem a posição dos sociais-democratas que neste momento assumem funções governativas e que fazem o possível para não pôr areia na engrenagem das relações diplomáticas dos dois países, numa altura em que os resultados das eleições são muito incertos.

Sousa Pinto teme pelo futuro da Ucrânia O presidente da comissão parlamentar de negócios estrangeiros, o socialista Sérgio Sousa Pinto ressalva que “qualquer dos candidatos merece igual respeito por parte dos deputados”, mas não esconde que uma hipotética vitória de Donald Trump lhe levanta preocupações sobretudo com o que possa vir a significar uma alteração profunda no apoio à Ucrânia.

Para o deputado socialista, se Donald Trump vencer “receio que pela primeira vez os Estados Unidos façam um recuo histórico e optem por uma política de isolacionismo. Se isso acontecer, temo pelo futuro da Ucrânia que é o que mais me preocupa”. Ainda assim, Sousa Pinto diz esperar que “o maltratado deep state funcione” e que a máquina do departamento de estado norte-americano trave a tentação de dar passos muito radicais na política externa. O deputado não desvaloriza os passos que foram dados na última presidência de Trump, com o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e a consequente transferência da embaixada de Tel Aviv para esta cidade, uma decisão que provocou alterações profundas na posição americana no médio oriente. Outro facto que deixou o seu rasto nefasto para o evoluir da realidade internacional, segundo Sérgio Sousa Pinto, foi a decisão tomada no consulado de Trump de precipitar a saída das forças militares da coligação internacional do Afeganistão.

Chega aposta tudo numa vitória de Trump Ao i, Ricardo Regala, que lidera os deputados do Chega na comissão parlamentar de negócios estrangeiros, revela que está tranquilo com os resultados eleitorais nos Estados Unidos. «Apesar do empate técnico anunciado pelas sondagens que têm saído, há outros dados que indicam a vitória de Trump». O deputado diz que essa é a expetativa do seu partido e rejeita leituras que apontam para um retrocesso no apoio à Ucrânia caso a vitória caiba aos republicanos. “Parece-nos que uma voz mais forte como a de Donald Trump pode conseguir resultados favoráveis à Ucrânia”, diz o deputado que garante ver na vitória de Trump “uma mais-valia” para a resolução dos problemas internacionais que se têm vindo a agudizar.