A alimentação do ser humano sempre esteve muito ligada à sua evolução sociocultural, respondendo a necessidades de adaptação devido a diversos fatores, como a disponibilidade de recursos, alterações no clima e avanços tecnológicos. A história mostra-nos isso. Desde a Pré-história, passando pelas revoluções agrícolas e industriais, são percetíveis as alterações profundas na produção alimentar e, consequentemente, na alimentação do ser humano.
Nunca tivemos tanta disponibilidade e variedade alimentar como nos dias de hoje. Contudo, a elevada produtividade promovida pelo panorama atual de produção industrial, automatizada e mecanizada, causa vários danos ambientais e à saúde humana.
Será necessária uma nova mudança e potencial revolução alimentar? Há uma crescente consciência da necessidade de implementar práticas mais sustentáveis e resilientes. E assim, surgem as proteínas alternativas. A boa notícia é que estas têm como principal objetivo reduzir a pegada de carbono da produção agrícola, proteger a biodiversidade, melhorar a saúde do solo e promover um sistema alimentar que seja mais justo e resiliente às mudanças climáticas.
E o que são proteínas alternativas? Como o nome indica, estas alternativas, traduzem-se em opções alimentares diferentes da tradicional ou convencional, que tipicamente recorre ao consumo de carne, peixe e ovos, como fonte proteica primária. As proteínas alternativas podem ser consideradas alimentos complementares aos já existentes ou uma nova e distinta forma de alimentação. As proteínas alternativas são diversas e incluem proteínas vegetais e de algas, proteínas derivadas de fermentação biomassa e de precisão, carne cultivada, e insetos comestíveis. O que têm todas em comum? O potencial de diversificar a dieta humana, enquanto transformam a produção alimentar num processo mais sustentável e com menor impacto sobre os ecossistemas.
Vou focar-me nas primeiras três categorias de proteínas alternativas, que para além de promoverem a sustentabilidade alimentar, incentivam ao bem-estar animal.
As proteínas de origem vegetal ou derivadas de algas já podem ser encontradas nos supermercados, e muitas delas fazem parte da alimentação de inúmeras pessoas. O grão, o feijão, a soja, as lentilhas são exemplos de proteínas vegetais, já incorporados na alimentação humana há muitos anos. A novidade acerca destas fontes proteicas está na forma como as apresentamos. Assim, surgiram produtos como o tofu (derivado dos grãos de soja), o seitan (glúten), ou o tempeh (derivado da fermentação de grãos). Para além destas opções, existem ainda os substitutos vegetais da carne. Estas têm como principal objetivo replicar o aspeto visual, o sabor, o valor nutricional e a textura de produtos convencionais específicos, como por exemplo, de um hambúrguer, um bife ou de um filete de peixe. Com que objetivo? Facilitar a escolha destes novos produtos por parte do consumidor, visto que se assemelham mais aos produtos convencionais.
No caso da fermentação, estamos a falar de um processo dominado pelo Homem há muito tempo, de onde historicamente resultam alimentos como os iogurtes, o queijo, e a cerveja. Podemos dividir as proteínas alternativas produzidas por fermentação em dois tipos: de biomassa ou de precisão. A primeira utiliza microrganismos para produzir elevadas quantidades de proteína, como é o caso das mico-proteínas, fabricadas através de fungos. No caso da fermentação de precisão, o microrganismo é programado para produzir compostos específicos. Assim, é possível produzir proteínas como gelatina, ou a caseína e a albumina, proteínas presentes no leite e nos ovos, respetivamente.
Por último, mas não com menos interesse, surgem o peixe e a carne cultivada. Esta carne e peixe são produzidos através do cultivo de células animais, em ambientes controlados, fornecendo os nutrientes necessários para promover o crescimento destas células. Afinal um bife ou um filete de peixe não passam de tecidos celulares. Será então possível crescer estes tecidos sem crescer um animal inteiro? Sim, através da colheita de células numa biópsia, e do cultivo das mesmas em bioreatores (como os tanques de produção de iogurte e cerveja), sendo possível obter biliões de células e transformar as mesmas num bife ou num filete de peixe. Estes filetes podem estar mais perto de si do que imagina! Um grupo de investigação do Instituto Superior Técnico, liderado pelo professor Frederico Ferreira, no qual estou a desenvolver o meu doutoramento, está neste momento a produzir filetes de peixe que são impressos em 3D. Estes filetes contêm células de robalo, ómega-3, macroalgas e proteínas vegetais e a sua cor, textura, e cheiro já se assemelham a um filete de peixe convencional.
Em suma, todas estas alternativas surgem com o propósito de mudança para um futuro melhor. Em breve, a dúvida poderá ser entre qual delas escolher. Assim, e para esclarecer qualquer tipo de dúvidas, um grupo de estudantes da Universidade de Lisboa criou um projeto cujo objetivo é promover as proteínas alternativas perante comunidade universitária. “The University of Lisbon Alt Protein Project”, do qual sou co-fundadora, tem a finalidade de informar e dar oportunidades de saber mais sobre este tema, por exemplo, através de cursos e estágios nesta área. Este projeto é suportado por uma organização sem fins lucrativos, a The Good Food Institute, e é parte de uma rede de 70 universidades, incluindo Stanford, Oxford e Cambridge. Quem melhor que os jovens para promover a mudança?
Estudante de doutoramento Instituto
Superior Técnico, Universidade de Lisboa