A floresta de regresso aos rodapés


A delapidação de vidas e de património exorta-nos a todos a focarmo-nos no essencial, antes de embarcarmos em novas utopias acessórias, em temas fraturantes ou em nichos do mercado eleitoral.


Agora que a floresta paulatinamente volta aos rodapés das preocupações e da relevância mediática, não se perde nada em voltar a equacionar alguns pontos fundamentais para que o problema da prevenção e do combate aos incêndios rurais possam ter melhorias graduais.

Não, ao contrário do que pensam os mimados urbanos e alternativos dos Climáximos, empossados em reiteradas violações da lei para afirmar as suas ideias sem nexo com a realidade, a principal causa de tudo não é o eucalipto e as celuloses, mas o abandono dos territórios e a falta de valor económico da floresta. Por regra, os territórios dos eucaliptos até são dos mais cuidados e protegidos, até com bombeiros próprios como acontece com a Afocelca.

Não, a situação não melhora com mais fustigação penalizadora sobre os proprietários ou pretensos proprietários, num país de contradição onde abundam as quintinhas burocráticas de quem manda nos serviços e modelos de organização do Estado, mas não se sabe quem é o proprietário que manda em milhares de parcelas de terra, em especial, com a debandada para o litoral e o esvaziamento de gente a viver, a trabalhar e a usufruir do espaço rural. Só a existência de valor económico na manutenção da floresta poderá gerar ação e reação para intervir antes da meta final da venda da madeira das plantações. Uma possibilidade, além dessa, é os líricos dos protestos urbanos se voluntariarem para, longe do conforto das cidades, assumirem o papel de povoadores do interior, em defesa da floresta autóctone e da produção agroalimentar sustentável, colocando em prática as teorias que propalam nos eventos de perturbação da ordem pública e da vandalização da propriedade privada.

Sem políticos com capacidade para estabelecer compromissos de longo prazo e uma proliferação de modelos de organização do país, é hoje possível constatar um conjunto de disparates cometidos ao longo dos últimos anos com impacto efetivo nos territórios, na prevenção e no combate:

• foi um disparate o desmantelamento dos governos civis como entidade de proteção civil com capacidade de integração de meios e de proximidade às populações, que, por exemplo no caso do distrito de Lisboa, teria investido nos corpos de bombeiros desde 2011, cerca de 6,5 milhões de euros, e prosseguido uma lógica de promoção de rotinas de articulação. É uma evidência que há mínimos de proximidade às populações e aos territórios e uma visão supramunicipal que estão em falta, tendo sido destruídos por decisão política, com o apoio de muitos media que vertem lágrimas de crocodilo face às ocorrências e aos fenómenos de inconsistência. São cúmplices das disfunções geradas, com os programas populistas que assinaram.

• é um disparate ter diversos modelos de organização do território e das instituições, em que, sob o ponto de vista operacional, nada bate certo, a dos bombeiros com a das forças de segurança, a do território – concelhos e comunidades intermunicipais- com as da saúde.

• a floresta tem de ter retorno económico para os proprietários, não apenas no final do processo, com a venda da madeira. Seja com benefícios fiscais, com apoios ou com qualquer outra solução, tem de haver respostas, sob pena de para o pequeno e médio proprietário, as propriedades serem um sorvedouro financeiro insustentável, só para preservar o património familiar e as memórias. Não há quem faça as limpezas, por vezes, são precisas duas por ano, os que existem são caríssimos, mesmo sem fatura, e o retorno da venda da madeira é inferior ao custo das manutenções até ao crescimento pleno.

• o país não é igual, tem território de maior risco, que precisam de respostas específicas, que responda às necessidades de manutenção, à exiguidade dos efetivos de combate aos incêndios e à escassez de recursos gerados pela desertificação e falta de músculo das dinâmicas comunitárias. É preciso um outro posicionamento preventivo de recursos humanos e materiais nas épocas críticas, com rotinas e conhecimento dos territórios, que evite as deslocações desenfreadas de pessoas e veículos em marca de urgência para acorrer às ocorrências. E não, não é possível a profissionalização total dos bombeiros, não há dinheiro, mas tem de haver capacidade de gerar mais atratividade, mais reconhecimento e melhores condições de segurança operacional.

É preciso afinar os modelos de organização do Estado, assente nas dinâmicas concretas das pessoas e dos territórios, não na ambição de cada governo de deixar marcas, de desfazer o que outros fizeram para fazer diferente.

É preciso focar no retorno económico da floresta para valorizar a prevenção, agilizar a capacidade operacional de projeção no terreno em função do risco, valorizar os pilares do dispositivo de emergência e proteção civil e assegurar que quem prevarica, ao provocar ignições, é mesmo penalizado, tudo debaixo de um novo olhar consequente para os territórios rurais e para o Interior, além das catástrofes e das comoções nacionais de ocasião.

A delapidação de vidas e de património exorta-nos a todos a focarmo-nos no essencial, antes de embarcarmos em novas utopias acessórias, em temas fraturantes ou em nichos do mercado eleitoral. É o básico que não estamos a cumprir. Uma vez mais, no interior, rural, despovoado, com pessoas, terras e património.

NOTAS FINAIS

O DESEQUILÍBRIO VAI “MATAR” ESTE GOVERNO. Apesar da assertividade eleitoral e popular das narrativas políticas e dos anúncios de medidas, são cada vez mais evidentes os relevantes desequilíbrios de prestação dos diversos membros do governo, entre o indigente e o acertado. Este quadro de desequilíbrio dos protagonistas coloca Luís Montenegro na linha da frente de tudo, como garante de mínimos, expondo-o ao bom e ao mau.

FINALMENTE KHAMOV. No país das culpas que morrem solteiras, livrámo-nos dos Khamov para a Ucrânia. Um negócio de Estado ruinoso de António Costa, como MAI, que quase nada serviu os propósitos de emergência e proteção civil, tantas as avarias e paragens. Não havendo culpas, nós é que devíamos retaliar a Rússia, pela venda dos chaços.

BE A COLONIZAR AMÍLCAR CABRAL. Despojado de relevância eleitoral de outros tempos, com dificuldades de mobilização na rua, além do previsível, o BE ensaiou o recurso a outros nichos pela colonização da memória e pensamento de Amílcar Cabral, no centenário do seu nascimento. Não há limites para a instrumentalização e a tentativa de reescrita do passado.

JÁ CHEGA DE CAPOTES NO ORÇAMENTO. A ânsia desenfreada para sacudir a água do capote da responsabilidade entre governo e PS está a assumir foros de puerilidade. Já chega de espetáculo inconsequente. É bom que a melhor versão de adultos entre para a sala.

A floresta de regresso aos rodapés


A delapidação de vidas e de património exorta-nos a todos a focarmo-nos no essencial, antes de embarcarmos em novas utopias acessórias, em temas fraturantes ou em nichos do mercado eleitoral.


Agora que a floresta paulatinamente volta aos rodapés das preocupações e da relevância mediática, não se perde nada em voltar a equacionar alguns pontos fundamentais para que o problema da prevenção e do combate aos incêndios rurais possam ter melhorias graduais.

Não, ao contrário do que pensam os mimados urbanos e alternativos dos Climáximos, empossados em reiteradas violações da lei para afirmar as suas ideias sem nexo com a realidade, a principal causa de tudo não é o eucalipto e as celuloses, mas o abandono dos territórios e a falta de valor económico da floresta. Por regra, os territórios dos eucaliptos até são dos mais cuidados e protegidos, até com bombeiros próprios como acontece com a Afocelca.

Não, a situação não melhora com mais fustigação penalizadora sobre os proprietários ou pretensos proprietários, num país de contradição onde abundam as quintinhas burocráticas de quem manda nos serviços e modelos de organização do Estado, mas não se sabe quem é o proprietário que manda em milhares de parcelas de terra, em especial, com a debandada para o litoral e o esvaziamento de gente a viver, a trabalhar e a usufruir do espaço rural. Só a existência de valor económico na manutenção da floresta poderá gerar ação e reação para intervir antes da meta final da venda da madeira das plantações. Uma possibilidade, além dessa, é os líricos dos protestos urbanos se voluntariarem para, longe do conforto das cidades, assumirem o papel de povoadores do interior, em defesa da floresta autóctone e da produção agroalimentar sustentável, colocando em prática as teorias que propalam nos eventos de perturbação da ordem pública e da vandalização da propriedade privada.

Sem políticos com capacidade para estabelecer compromissos de longo prazo e uma proliferação de modelos de organização do país, é hoje possível constatar um conjunto de disparates cometidos ao longo dos últimos anos com impacto efetivo nos territórios, na prevenção e no combate:

• foi um disparate o desmantelamento dos governos civis como entidade de proteção civil com capacidade de integração de meios e de proximidade às populações, que, por exemplo no caso do distrito de Lisboa, teria investido nos corpos de bombeiros desde 2011, cerca de 6,5 milhões de euros, e prosseguido uma lógica de promoção de rotinas de articulação. É uma evidência que há mínimos de proximidade às populações e aos territórios e uma visão supramunicipal que estão em falta, tendo sido destruídos por decisão política, com o apoio de muitos media que vertem lágrimas de crocodilo face às ocorrências e aos fenómenos de inconsistência. São cúmplices das disfunções geradas, com os programas populistas que assinaram.

• é um disparate ter diversos modelos de organização do território e das instituições, em que, sob o ponto de vista operacional, nada bate certo, a dos bombeiros com a das forças de segurança, a do território – concelhos e comunidades intermunicipais- com as da saúde.

• a floresta tem de ter retorno económico para os proprietários, não apenas no final do processo, com a venda da madeira. Seja com benefícios fiscais, com apoios ou com qualquer outra solução, tem de haver respostas, sob pena de para o pequeno e médio proprietário, as propriedades serem um sorvedouro financeiro insustentável, só para preservar o património familiar e as memórias. Não há quem faça as limpezas, por vezes, são precisas duas por ano, os que existem são caríssimos, mesmo sem fatura, e o retorno da venda da madeira é inferior ao custo das manutenções até ao crescimento pleno.

• o país não é igual, tem território de maior risco, que precisam de respostas específicas, que responda às necessidades de manutenção, à exiguidade dos efetivos de combate aos incêndios e à escassez de recursos gerados pela desertificação e falta de músculo das dinâmicas comunitárias. É preciso um outro posicionamento preventivo de recursos humanos e materiais nas épocas críticas, com rotinas e conhecimento dos territórios, que evite as deslocações desenfreadas de pessoas e veículos em marca de urgência para acorrer às ocorrências. E não, não é possível a profissionalização total dos bombeiros, não há dinheiro, mas tem de haver capacidade de gerar mais atratividade, mais reconhecimento e melhores condições de segurança operacional.

É preciso afinar os modelos de organização do Estado, assente nas dinâmicas concretas das pessoas e dos territórios, não na ambição de cada governo de deixar marcas, de desfazer o que outros fizeram para fazer diferente.

É preciso focar no retorno económico da floresta para valorizar a prevenção, agilizar a capacidade operacional de projeção no terreno em função do risco, valorizar os pilares do dispositivo de emergência e proteção civil e assegurar que quem prevarica, ao provocar ignições, é mesmo penalizado, tudo debaixo de um novo olhar consequente para os territórios rurais e para o Interior, além das catástrofes e das comoções nacionais de ocasião.

A delapidação de vidas e de património exorta-nos a todos a focarmo-nos no essencial, antes de embarcarmos em novas utopias acessórias, em temas fraturantes ou em nichos do mercado eleitoral. É o básico que não estamos a cumprir. Uma vez mais, no interior, rural, despovoado, com pessoas, terras e património.

NOTAS FINAIS

O DESEQUILÍBRIO VAI “MATAR” ESTE GOVERNO. Apesar da assertividade eleitoral e popular das narrativas políticas e dos anúncios de medidas, são cada vez mais evidentes os relevantes desequilíbrios de prestação dos diversos membros do governo, entre o indigente e o acertado. Este quadro de desequilíbrio dos protagonistas coloca Luís Montenegro na linha da frente de tudo, como garante de mínimos, expondo-o ao bom e ao mau.

FINALMENTE KHAMOV. No país das culpas que morrem solteiras, livrámo-nos dos Khamov para a Ucrânia. Um negócio de Estado ruinoso de António Costa, como MAI, que quase nada serviu os propósitos de emergência e proteção civil, tantas as avarias e paragens. Não havendo culpas, nós é que devíamos retaliar a Rússia, pela venda dos chaços.

BE A COLONIZAR AMÍLCAR CABRAL. Despojado de relevância eleitoral de outros tempos, com dificuldades de mobilização na rua, além do previsível, o BE ensaiou o recurso a outros nichos pela colonização da memória e pensamento de Amílcar Cabral, no centenário do seu nascimento. Não há limites para a instrumentalização e a tentativa de reescrita do passado.

JÁ CHEGA DE CAPOTES NO ORÇAMENTO. A ânsia desenfreada para sacudir a água do capote da responsabilidade entre governo e PS está a assumir foros de puerilidade. Já chega de espetáculo inconsequente. É bom que a melhor versão de adultos entre para a sala.