A III Guerra Mundial aqui tão perto


Terá a Rússia sido empurrada para o conflito pelo Ocidente? Como sabemos, alguns animais, quando se veem encurralados, podem atacar. Ou será que a invasão reflete antes a visão neo-imperialista de Putin, empenhado em restaurar a grandeza da nação?


Numa entrevista à BBC publicada a 20 de fevereiro de 2022, o então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, declarava que a Rússia estava a planear “a maior guerra na Europa desde 1945”, ou seja, desde a II Guerra Mundial.

Quem o ouvisse na altura poderia achar que Johnson estava a carregar nas tintas para pintar um cenário mais negro do que a realidade. O facto é que quatro dias depois, a 24 desse mês, o exército russo invadiu efetivamente a Ucrânia.

Dois anos e meio volvidos, estamos em condições de dizer: 1. que o Kremlin mentiu descaradamente quando descreveu os rumores de invasão como “histeria e propaganda ocidentais”; 2. que a sombria previsão do então primeiro-ministro britânico se confirmou por completo. A única dúvida que subsiste é se o pior ainda está para vir – e, eventualmente, de quem é a culpa de termos aqui chegado.

Terá a Rússia sido empurrada para o conflito pelo Ocidente? Como sabemos, alguns animais, quando se veem encurralados, podem atacar. Ou será que a invasão reflete antes a visão neo-imperialista de Putin, empenhado em restaurar a grandeza da nação?

Ambas as hipóteses são defensáveis e talvez cada uma delas contenha o seu fundo de verdade. Ainda assim, há argumentos russos que não colhem. Em primeiro lugar, o Ocidente pode certamente querer ter influência no Leste da Europa – mas daí a querer atacar a Rússia vai um grande passo. Putin queixou-se de uma espécie de cerco, com a colocação de mísseis em territórios vizinhos, etc. Ora, alguém acredita mesmo que a NATO iria atacar militarmente a Rússia? Em segundo lugar, se Putin não queria a guerra (como se depreende da sua argumentação) por que foi ele dar o primeiro passo e iniciar o conflito?

Em certo sentido, a invasão da Ucrânia – como aliás a retaliação implacável de Israel aos ataques terroristas do Hamas de 7 de outubro do ano passado – faz-nos lembrar as expedições punitivas das legiões romanas, como a que arrasou a cidade de Jerusalém no ano 70 da nossa era, na sequência da Grande Revolta Judaica. Os romanos viam essas ações como essenciais para manter a paz e a ordem no Império. Talvez Putin e Netanyahu vejam as respetivas ofensivas da mesma maneira: como meios de forçar a paz obliterando o adversário. Mas pelo meio devem ter cometido algum terrível erro de cálculo porque, para já, o que sabemos é que nunca a III Guerra Mundial esteve aqui tão perto.

A III Guerra Mundial aqui tão perto


Terá a Rússia sido empurrada para o conflito pelo Ocidente? Como sabemos, alguns animais, quando se veem encurralados, podem atacar. Ou será que a invasão reflete antes a visão neo-imperialista de Putin, empenhado em restaurar a grandeza da nação?


Numa entrevista à BBC publicada a 20 de fevereiro de 2022, o então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, declarava que a Rússia estava a planear “a maior guerra na Europa desde 1945”, ou seja, desde a II Guerra Mundial.

Quem o ouvisse na altura poderia achar que Johnson estava a carregar nas tintas para pintar um cenário mais negro do que a realidade. O facto é que quatro dias depois, a 24 desse mês, o exército russo invadiu efetivamente a Ucrânia.

Dois anos e meio volvidos, estamos em condições de dizer: 1. que o Kremlin mentiu descaradamente quando descreveu os rumores de invasão como “histeria e propaganda ocidentais”; 2. que a sombria previsão do então primeiro-ministro britânico se confirmou por completo. A única dúvida que subsiste é se o pior ainda está para vir – e, eventualmente, de quem é a culpa de termos aqui chegado.

Terá a Rússia sido empurrada para o conflito pelo Ocidente? Como sabemos, alguns animais, quando se veem encurralados, podem atacar. Ou será que a invasão reflete antes a visão neo-imperialista de Putin, empenhado em restaurar a grandeza da nação?

Ambas as hipóteses são defensáveis e talvez cada uma delas contenha o seu fundo de verdade. Ainda assim, há argumentos russos que não colhem. Em primeiro lugar, o Ocidente pode certamente querer ter influência no Leste da Europa – mas daí a querer atacar a Rússia vai um grande passo. Putin queixou-se de uma espécie de cerco, com a colocação de mísseis em territórios vizinhos, etc. Ora, alguém acredita mesmo que a NATO iria atacar militarmente a Rússia? Em segundo lugar, se Putin não queria a guerra (como se depreende da sua argumentação) por que foi ele dar o primeiro passo e iniciar o conflito?

Em certo sentido, a invasão da Ucrânia – como aliás a retaliação implacável de Israel aos ataques terroristas do Hamas de 7 de outubro do ano passado – faz-nos lembrar as expedições punitivas das legiões romanas, como a que arrasou a cidade de Jerusalém no ano 70 da nossa era, na sequência da Grande Revolta Judaica. Os romanos viam essas ações como essenciais para manter a paz e a ordem no Império. Talvez Putin e Netanyahu vejam as respetivas ofensivas da mesma maneira: como meios de forçar a paz obliterando o adversário. Mas pelo meio devem ter cometido algum terrível erro de cálculo porque, para já, o que sabemos é que nunca a III Guerra Mundial esteve aqui tão perto.