Os desabridos palradores na eminência do regresso às rotinas


Com as lideranças acossadas pela preservação dos poisos alcançados, Portugal não sairá da rota das governações de turno, da mediania e amiúde de alguma mediocridade.


Em breve regressam boa parte das rotinas pós-verão, com a incontornável tensão do Orçamento de Estado para 2025, que foi presença constante no éter em agosto, apesar das alegadas combinações de calendários para as negociações, dos assomos de compromisso com a estabilidade e de anestésico posicionamento perante problemas dos serviços públicos, em especial, na saúde, a toque de governantes também sem unhas para o curto-prazo.

O verão foi enxameado com proclamações entre o “qual é a pressa” e o “já vais tarde”, sem pingo de noção do exercício pirómano em curso, para o país, mais do que para as respetivas posições de poiso dos protagonistas. Por regra, até ao fim de semana passado, os protagonistas mandaram dizer por terceiros o que servia as respetivas estratégias, na certeza, de que qualquer uma das derivas radicais nos levará a uma crise política, a relevantes impactos económicos e sociais, à aceitação da extrema-direita como parte da solução de suporte ao governo e ao definitivo acantonamento do Partido Socialista à esquerda, na órbita dos consultores vigentes do Rato e das convicções mais profundas que qualquer ambição política.

O palrar dos protagonistas está orientado para o definhar, porque anunciar sem conseguir concretizar as soluções, no plano parlamentar, ou agitar respostas que não foram concretizadas em 8 anos de governo, quando o podiam ter sido, é gerar um quadro de indefinição, incerteza e instabilidade com relevância para o país, para as pessoas e para os territórios, carentes de ação e de concretização. Bem podem os protagonistas ensaiar posições, posicionamento e narrativas, cheios dos seus poisos de poder, mais ou menos alheados das necessidades e dos riscos, que a vida concreta dos cidadãos é, em boa parte, a de insonsas rotinas, sem as respostas que merecem, porque não há nem houve vontade para o compromisso em relação às questões estruturais, que precisam de recursos sustentados, estabilidade e persistência.

O quotidiano precisava de outro sentido de presente e de futuro além da preservação da herança governativa do passado, da verbalização tardia de insatisfação com os resultados ou do esforço de construção de um acervo de governação em jeito de maioria absoluta, sem suficiente suporte parlamentar. Com as lideranças acossadas pela preservação dos poisos alcançados, projetados numa sustentada verve para português ver, Portugal não sairá da rota das governações de turno, da mediania e amiúde de alguma mediocridade dos comportamentos e dos funcionamentos, muito distantes do potencial existente. É gigantesca a contradição de termos realidades cada vez mais complexas, no país e no mundo, mas contarmos com exercícios políticos que se resumem a proclamações ideológicas sem nexo com a realidade e a esforços de manutenção do poder, quase a qualquer custo, ainda que no quadro democrático, também ele fustigado por renovados riscos.

Os portugueses regressarão em breve às rotinas escolares, profissionais, sociais e das vidas para enfrentar alguns dos desafios de sempre, na gestão dos rendimentos disponíveis, nas interações com os serviços públicos, na persistência de problemas estruturais mais ou menos mediáticos e no exercitar de vivências em contextos com preocupantes sinais de deslaço, egoísmo e falta de compromisso social e nacional.

Neste contexto, a vertigem de degradação será inevitável se não houver senso, equilíbrio e capacidade de gerar respostas que cheguem às pessoas e aos territórios, que sejam sustentáveis no tempo, independentemente de quem está de turno no exercício do poder em cada momento.

O exercício político tem de ser muito mais do que a sua circunstância, mas está transformado há muito num jogo de sobrevivência, de preservação de poisos, em que as envolventes, o bem comum e o país como um todo são pouco mais do que acessórios nas verbalizações e nas ações. Prevalecem, em demasiadas ocasiões, nichos eleitorais e interesses particulares em detrimento do geral.

A questão do orçamento de Estado para 2025 é só mais uma vítima da consagração dos particulares sobre o geral, tocados à visão estratégica do turno e dos poisos alcançados. Mais diálogo e menos conversa. Enquanto isso, bons regressos às rotinas!

NOTAS FINAIS

EM MEMÓRIA DOS MILITARES FALECIDOS NA QUEDA DE HELI. O risco fustiga ao acaso, a exigência da concretização das funções do Estado na emergência e na proteção civil acrescenta fatores de risco. Portugal perdeu 5 dos seus distintos servidores em missão. Honra à sua memória e eficácia no apoio aos seus familiares.

A FOTO TREMIDA DE MONTENEGRO.A “selfisização” do primeiro-ministro Luís Montenegro no bote nas buscas da trágica queda do helicóptero de combate a incêndios rurais é uma expressão abusiva do compromisso e da solidariedade que é devida a quem concretiza as funções do Estado. É uma expressão excessiva das ânsias de substituição de Marcelo no terreno. Podia ter estado no local, é abusivo o desvario propagandístico e miserável o esforço de imputação ao segurança de responsabilidades na divulgação. Nem tudo que deve ser feito, tem de ter expressão pública e mediática. Chama-se sentido de Estado.

PARALÍMPICOS PREMIUM EM PARIS. A participação já é uma enorme expressão de superação num país pouco dado a investimentos na inclusão, no desporto e na atividade física, mas os resultados obtidos até agora são um importante sinal de excelência, persistência e resiliência dos nossos atletas.

SINAIS GERMÂNICOS. Depois do susto em França e nos Países Baixos, a vitória da extrema-direita Alternativa para a Alemanha nas eleições regionais da Turíngia é um sinal de que as conveniências de circunstância são um efetivo risco para as sociedades desenvolvidas e os valores civilizacionais europeus.

Os desabridos palradores na eminência do regresso às rotinas


Com as lideranças acossadas pela preservação dos poisos alcançados, Portugal não sairá da rota das governações de turno, da mediania e amiúde de alguma mediocridade.


Em breve regressam boa parte das rotinas pós-verão, com a incontornável tensão do Orçamento de Estado para 2025, que foi presença constante no éter em agosto, apesar das alegadas combinações de calendários para as negociações, dos assomos de compromisso com a estabilidade e de anestésico posicionamento perante problemas dos serviços públicos, em especial, na saúde, a toque de governantes também sem unhas para o curto-prazo.

O verão foi enxameado com proclamações entre o “qual é a pressa” e o “já vais tarde”, sem pingo de noção do exercício pirómano em curso, para o país, mais do que para as respetivas posições de poiso dos protagonistas. Por regra, até ao fim de semana passado, os protagonistas mandaram dizer por terceiros o que servia as respetivas estratégias, na certeza, de que qualquer uma das derivas radicais nos levará a uma crise política, a relevantes impactos económicos e sociais, à aceitação da extrema-direita como parte da solução de suporte ao governo e ao definitivo acantonamento do Partido Socialista à esquerda, na órbita dos consultores vigentes do Rato e das convicções mais profundas que qualquer ambição política.

O palrar dos protagonistas está orientado para o definhar, porque anunciar sem conseguir concretizar as soluções, no plano parlamentar, ou agitar respostas que não foram concretizadas em 8 anos de governo, quando o podiam ter sido, é gerar um quadro de indefinição, incerteza e instabilidade com relevância para o país, para as pessoas e para os territórios, carentes de ação e de concretização. Bem podem os protagonistas ensaiar posições, posicionamento e narrativas, cheios dos seus poisos de poder, mais ou menos alheados das necessidades e dos riscos, que a vida concreta dos cidadãos é, em boa parte, a de insonsas rotinas, sem as respostas que merecem, porque não há nem houve vontade para o compromisso em relação às questões estruturais, que precisam de recursos sustentados, estabilidade e persistência.

O quotidiano precisava de outro sentido de presente e de futuro além da preservação da herança governativa do passado, da verbalização tardia de insatisfação com os resultados ou do esforço de construção de um acervo de governação em jeito de maioria absoluta, sem suficiente suporte parlamentar. Com as lideranças acossadas pela preservação dos poisos alcançados, projetados numa sustentada verve para português ver, Portugal não sairá da rota das governações de turno, da mediania e amiúde de alguma mediocridade dos comportamentos e dos funcionamentos, muito distantes do potencial existente. É gigantesca a contradição de termos realidades cada vez mais complexas, no país e no mundo, mas contarmos com exercícios políticos que se resumem a proclamações ideológicas sem nexo com a realidade e a esforços de manutenção do poder, quase a qualquer custo, ainda que no quadro democrático, também ele fustigado por renovados riscos.

Os portugueses regressarão em breve às rotinas escolares, profissionais, sociais e das vidas para enfrentar alguns dos desafios de sempre, na gestão dos rendimentos disponíveis, nas interações com os serviços públicos, na persistência de problemas estruturais mais ou menos mediáticos e no exercitar de vivências em contextos com preocupantes sinais de deslaço, egoísmo e falta de compromisso social e nacional.

Neste contexto, a vertigem de degradação será inevitável se não houver senso, equilíbrio e capacidade de gerar respostas que cheguem às pessoas e aos territórios, que sejam sustentáveis no tempo, independentemente de quem está de turno no exercício do poder em cada momento.

O exercício político tem de ser muito mais do que a sua circunstância, mas está transformado há muito num jogo de sobrevivência, de preservação de poisos, em que as envolventes, o bem comum e o país como um todo são pouco mais do que acessórios nas verbalizações e nas ações. Prevalecem, em demasiadas ocasiões, nichos eleitorais e interesses particulares em detrimento do geral.

A questão do orçamento de Estado para 2025 é só mais uma vítima da consagração dos particulares sobre o geral, tocados à visão estratégica do turno e dos poisos alcançados. Mais diálogo e menos conversa. Enquanto isso, bons regressos às rotinas!

NOTAS FINAIS

EM MEMÓRIA DOS MILITARES FALECIDOS NA QUEDA DE HELI. O risco fustiga ao acaso, a exigência da concretização das funções do Estado na emergência e na proteção civil acrescenta fatores de risco. Portugal perdeu 5 dos seus distintos servidores em missão. Honra à sua memória e eficácia no apoio aos seus familiares.

A FOTO TREMIDA DE MONTENEGRO.A “selfisização” do primeiro-ministro Luís Montenegro no bote nas buscas da trágica queda do helicóptero de combate a incêndios rurais é uma expressão abusiva do compromisso e da solidariedade que é devida a quem concretiza as funções do Estado. É uma expressão excessiva das ânsias de substituição de Marcelo no terreno. Podia ter estado no local, é abusivo o desvario propagandístico e miserável o esforço de imputação ao segurança de responsabilidades na divulgação. Nem tudo que deve ser feito, tem de ter expressão pública e mediática. Chama-se sentido de Estado.

PARALÍMPICOS PREMIUM EM PARIS. A participação já é uma enorme expressão de superação num país pouco dado a investimentos na inclusão, no desporto e na atividade física, mas os resultados obtidos até agora são um importante sinal de excelência, persistência e resiliência dos nossos atletas.

SINAIS GERMÂNICOS. Depois do susto em França e nos Países Baixos, a vitória da extrema-direita Alternativa para a Alemanha nas eleições regionais da Turíngia é um sinal de que as conveniências de circunstância são um efetivo risco para as sociedades desenvolvidas e os valores civilizacionais europeus.