E o novo aeroporto?


Precisamos de informação constante e rigorosa sobre o novo aeroporto, as gigantescas obras envolventes e a situação da Portela.


Nota Prévia: O atentado falhado contra Donald Trump serviu para ele apelar à moderação, numa primeira entrevista coincidente com o início da convenção republicana. Trump falou em milagre e quase num homem novo e renascido por proteção divina. Um escolhido por Deus. Percebe-se a estratégia pacificadora porque uma versão radical estaria balizada pelo facto de o atirador, abatido na altura, ser um branco de 20 anos, tido por republicano e obviamente desequilibrado. Trump sempre foi defensor do uso e venda de armas e é duvidoso que mude por causa do seu eleitorado radical. Se o terrorista fosse negro ou um extremista religioso, o seu discurso renovado não teria cabimento. Trump elogiou a sua segurança que, na verdade, se mostrou incompetente na prevenção de ângulos de tiro. As imagens do momento em que Trump é retirado são icónicas e favorecem a sua propaganda. Joe Biden reagiu ao atentado com a elevação de um chefe de Estado civilizado e também pediu moderação. É, porém, duvidoso que o atentado desvie muito tempo o debate sobre as suas capacidades cognitivas, depois das suas gafes lamentáveis, embora frequentes em qualquer idade. A feroz luta política pela Casa Branca vai prosseguir noutros termos estratégicos, mas com os Estados Unidos e o mundo cada vez mais divididos e as democracias em regressão.

1. Anunciada com tambores e trombetas, a construção do futuro aeroporto Luís de Camões e das gigantescas obras complementares deixou de ser notícia, o que é deplorável. Se há empreendimento nacional que carece de ser monitorizado e explicado a cada passo, é esse. Não pode agora estar tudo numa nebulosa. O país precisa de pontos de situação regulares. Precisa de ser informado das negociações. Precisa de saber timings. Precisa de conhecer os efeitos ambientais. Precisa de saber como se vão arrumar as autarquias situadas na zona do novo aeroporto. E precisa de saber o que, em concreto, vai ser feito no local onde está o aeroporto Humberto Delgado. Exige-se transparência máxima para que depois não venham os problemas do costume, que vão do Tribunal de Contas às denúncias e intervenções da Justiça. Em simultâneo, é essencial haver informação sobre a desminagem do campo de tiro de Alcochete e o local onde vai ser construído o novo, se é que vai. Há dias, a presidente da comissão técnica que elaborou a proposta aprovada falava na hipótese de, em 2030, haver aviões a aterrar em Alcochete por causa do mundial de futebol. É um timing que nem dava para os chineses, quanto mais para nós! O aeroporto e tudo o que o envolve é uma obra colossal. Não pode ser uma nova Igreja de Santa Engrácia, nem ser envolvida em escândalos. É curioso que André Ventura esteja agora calado, quando foi o primeiro a questionar o timing da obra.

2. Por mais que surjam arrufos e divergências, é cada vez mais evidente que Montenegro e Pedro Nuno Santos (PNS) querem um orçamento aprovado para 2025, de uma forma que nenhum deles perca a face. Tal não significa que os dois líderes encarem as coisas da mesma maneira. Antes pelo contrário. É mesmo desejável que os portugueses distingam o que os separa. Só uma improvável clivagem grave impedirá que haja Orçamento. Mas, se, por absurdo, não houver, está adquirido que o chumbo não impedirá Montenegro de se manter em funções, até porque o Presidente Marcelo não tenciona proceder a uma terceira dissolução. Montenegro assegura que só cairá através uma moção de uma censura, coisa que se sabe ser mais do que improvável. Cavaco Silva também admite a passagem do documento, mas faz questão de sublinhar que o executivo pode manter-se e governar por duodécimos sem ele. Quanto a 2026, mesmo que não haja OE pela primeira ou segunda vez, as circunstâncias políticas já terão a especificidade de não permitir ao Presidente uma dissolução, visto que estará em fim de mandato. Juntando a tudo isto, a afirmação positiva de Montenegro e a consolidação de PNS como indiscutível líder da esquerda, geram uma boa probabilidade de o governo durar até às autárquicas. É, aliás, curioso verificar que as autárquicas têm tido o condão de atirar governos abaixo, tanto ou mais do que moções e eleições legislativas.

3. Ainda no PS, nota-se a progressiva afirmação de Alexandra Leitão enquanto referência de esquerda mais global, indo de uma ala do partido até ao Bloco. A número dois de PNS beneficia da sua mediatização. É uma política bem preparada academicamente. Integrou o governo Costa, do qual foi expelida sem nunca se perceber porquê. Tem toques de Syriza grego e o verbo fácil de Mélenchon, sem o mesmo extremismo. É ambiciosa, uma vez que já admitiu a possibilidade de um dia ser primeira-ministra. Incomoda a ala moderada do PS, que, de qualquer forma, está pouco ativa.

4. Pela segunda vez em pouco tempo, a ministra da Saúde foi buscar um militar para resolver um problema no setor. Primeiro para a direção do SNS. Agora para o INEM, cujo funcionamento é deficiente. É, a priori, uma solução sensata, uma vez que os militares portugueses são conhecidos pela sua competência e capacidade de organização. Muitos passam à reserva bastante jovens quando podem ainda prestar serviços relevantes ao Estado. A experiência com Gouveia e Melo, organizador da campanha de vacinação da covid, foi um exemplo eloquente. Obviamente, é de bom tom os militares escolhidos não aproveitarem depois as suas apetências técnicas e operacionais para se transferirem para a vida política.

5. Lisboa está um caos. A gestão de Carlos Moedas é mediática e pouco mais. Anunciam-se medidas de apoio à habitação, mas a burocracia é enorme e os funcionários contradizem-se uns aos outros. As obras públicas eternizam-se. Muitas são mal feitas. A substituição das paragens da Carris derrapa no tempo e não traz vantagem aos passageiros. Pode ser herança, mas deixou-se andar. Num dos maiores eixos de Lisboa, a Avenida António Augusto Aguiar, a mexida no trânsito põe em perigo a própria vida dos automobilistas que mudam de direção. A incompetência é tremenda. Quando houver um acidente grave, já se vê que ninguém irá preso, e devia. À frente do Hospital Santa Maria há passadeiras que estão a verde meros 20 segundos para peões, muitos deles com mobilidade reduzida e saídos de tratamentos. É maldade porque a situação já foi denunciada muitas vezes. As escadas rolantes do Metro (é verdade que são Estado central) não funcionam. As ruas estão sujas. A câmara só pensa na receita do turismo, mas não a reverte para benefício da população. A beira-rio está pejada de barraquinhas com produtos da treta, caros, e música foleira e incómoda. A confusão de TVDE e Tuk-Tuk é enorme. Com Lisboa assim, os grandes eventos económicos tendem a fugir. Sábias, as grandes cidades espanholas aproveitam e investem na qualidade. O turismo não pode ser uma selva de oportunismos. A culinária portuguesa está em extinção e não há campanhas para o evitar. Sobra o bacalhau à Brás rançoso. O normal são Pizzas, Pita Shoarma, Sushi e uns ridículos pastéis de bacalhau com queijo da Serra. Para comer português temos de demandar a periferia. A EMEL é um centro de faturação. A Polícia Municipal é inútil em termos de segurança pública. Serve para multar condutores e fiscalizar obras pequeninas. Os monos gigantes de grandes grupos crescem à vontadinha. Moedas acha que soma e segue. Pode até voltar a ganhar, mas os lisboetas estão a perder qualidade de vida. Que diferença para Santana Lopes, para falar apenas de um ex-presidente do mesmo partido.

6. Morreu Armando Carvalheda, um grande nome da rádio. Durante anos proporcionou dezenas de notáveis momentos de boa música portuguesa no seu Viva a Música na Antena 1, por onde desfilaram muitos dos melhores. A rádio portuguesa está de luto. RIP, Armando.

E o novo aeroporto?


Precisamos de informação constante e rigorosa sobre o novo aeroporto, as gigantescas obras envolventes e a situação da Portela.


Nota Prévia: O atentado falhado contra Donald Trump serviu para ele apelar à moderação, numa primeira entrevista coincidente com o início da convenção republicana. Trump falou em milagre e quase num homem novo e renascido por proteção divina. Um escolhido por Deus. Percebe-se a estratégia pacificadora porque uma versão radical estaria balizada pelo facto de o atirador, abatido na altura, ser um branco de 20 anos, tido por republicano e obviamente desequilibrado. Trump sempre foi defensor do uso e venda de armas e é duvidoso que mude por causa do seu eleitorado radical. Se o terrorista fosse negro ou um extremista religioso, o seu discurso renovado não teria cabimento. Trump elogiou a sua segurança que, na verdade, se mostrou incompetente na prevenção de ângulos de tiro. As imagens do momento em que Trump é retirado são icónicas e favorecem a sua propaganda. Joe Biden reagiu ao atentado com a elevação de um chefe de Estado civilizado e também pediu moderação. É, porém, duvidoso que o atentado desvie muito tempo o debate sobre as suas capacidades cognitivas, depois das suas gafes lamentáveis, embora frequentes em qualquer idade. A feroz luta política pela Casa Branca vai prosseguir noutros termos estratégicos, mas com os Estados Unidos e o mundo cada vez mais divididos e as democracias em regressão.

1. Anunciada com tambores e trombetas, a construção do futuro aeroporto Luís de Camões e das gigantescas obras complementares deixou de ser notícia, o que é deplorável. Se há empreendimento nacional que carece de ser monitorizado e explicado a cada passo, é esse. Não pode agora estar tudo numa nebulosa. O país precisa de pontos de situação regulares. Precisa de ser informado das negociações. Precisa de saber timings. Precisa de conhecer os efeitos ambientais. Precisa de saber como se vão arrumar as autarquias situadas na zona do novo aeroporto. E precisa de saber o que, em concreto, vai ser feito no local onde está o aeroporto Humberto Delgado. Exige-se transparência máxima para que depois não venham os problemas do costume, que vão do Tribunal de Contas às denúncias e intervenções da Justiça. Em simultâneo, é essencial haver informação sobre a desminagem do campo de tiro de Alcochete e o local onde vai ser construído o novo, se é que vai. Há dias, a presidente da comissão técnica que elaborou a proposta aprovada falava na hipótese de, em 2030, haver aviões a aterrar em Alcochete por causa do mundial de futebol. É um timing que nem dava para os chineses, quanto mais para nós! O aeroporto e tudo o que o envolve é uma obra colossal. Não pode ser uma nova Igreja de Santa Engrácia, nem ser envolvida em escândalos. É curioso que André Ventura esteja agora calado, quando foi o primeiro a questionar o timing da obra.

2. Por mais que surjam arrufos e divergências, é cada vez mais evidente que Montenegro e Pedro Nuno Santos (PNS) querem um orçamento aprovado para 2025, de uma forma que nenhum deles perca a face. Tal não significa que os dois líderes encarem as coisas da mesma maneira. Antes pelo contrário. É mesmo desejável que os portugueses distingam o que os separa. Só uma improvável clivagem grave impedirá que haja Orçamento. Mas, se, por absurdo, não houver, está adquirido que o chumbo não impedirá Montenegro de se manter em funções, até porque o Presidente Marcelo não tenciona proceder a uma terceira dissolução. Montenegro assegura que só cairá através uma moção de uma censura, coisa que se sabe ser mais do que improvável. Cavaco Silva também admite a passagem do documento, mas faz questão de sublinhar que o executivo pode manter-se e governar por duodécimos sem ele. Quanto a 2026, mesmo que não haja OE pela primeira ou segunda vez, as circunstâncias políticas já terão a especificidade de não permitir ao Presidente uma dissolução, visto que estará em fim de mandato. Juntando a tudo isto, a afirmação positiva de Montenegro e a consolidação de PNS como indiscutível líder da esquerda, geram uma boa probabilidade de o governo durar até às autárquicas. É, aliás, curioso verificar que as autárquicas têm tido o condão de atirar governos abaixo, tanto ou mais do que moções e eleições legislativas.

3. Ainda no PS, nota-se a progressiva afirmação de Alexandra Leitão enquanto referência de esquerda mais global, indo de uma ala do partido até ao Bloco. A número dois de PNS beneficia da sua mediatização. É uma política bem preparada academicamente. Integrou o governo Costa, do qual foi expelida sem nunca se perceber porquê. Tem toques de Syriza grego e o verbo fácil de Mélenchon, sem o mesmo extremismo. É ambiciosa, uma vez que já admitiu a possibilidade de um dia ser primeira-ministra. Incomoda a ala moderada do PS, que, de qualquer forma, está pouco ativa.

4. Pela segunda vez em pouco tempo, a ministra da Saúde foi buscar um militar para resolver um problema no setor. Primeiro para a direção do SNS. Agora para o INEM, cujo funcionamento é deficiente. É, a priori, uma solução sensata, uma vez que os militares portugueses são conhecidos pela sua competência e capacidade de organização. Muitos passam à reserva bastante jovens quando podem ainda prestar serviços relevantes ao Estado. A experiência com Gouveia e Melo, organizador da campanha de vacinação da covid, foi um exemplo eloquente. Obviamente, é de bom tom os militares escolhidos não aproveitarem depois as suas apetências técnicas e operacionais para se transferirem para a vida política.

5. Lisboa está um caos. A gestão de Carlos Moedas é mediática e pouco mais. Anunciam-se medidas de apoio à habitação, mas a burocracia é enorme e os funcionários contradizem-se uns aos outros. As obras públicas eternizam-se. Muitas são mal feitas. A substituição das paragens da Carris derrapa no tempo e não traz vantagem aos passageiros. Pode ser herança, mas deixou-se andar. Num dos maiores eixos de Lisboa, a Avenida António Augusto Aguiar, a mexida no trânsito põe em perigo a própria vida dos automobilistas que mudam de direção. A incompetência é tremenda. Quando houver um acidente grave, já se vê que ninguém irá preso, e devia. À frente do Hospital Santa Maria há passadeiras que estão a verde meros 20 segundos para peões, muitos deles com mobilidade reduzida e saídos de tratamentos. É maldade porque a situação já foi denunciada muitas vezes. As escadas rolantes do Metro (é verdade que são Estado central) não funcionam. As ruas estão sujas. A câmara só pensa na receita do turismo, mas não a reverte para benefício da população. A beira-rio está pejada de barraquinhas com produtos da treta, caros, e música foleira e incómoda. A confusão de TVDE e Tuk-Tuk é enorme. Com Lisboa assim, os grandes eventos económicos tendem a fugir. Sábias, as grandes cidades espanholas aproveitam e investem na qualidade. O turismo não pode ser uma selva de oportunismos. A culinária portuguesa está em extinção e não há campanhas para o evitar. Sobra o bacalhau à Brás rançoso. O normal são Pizzas, Pita Shoarma, Sushi e uns ridículos pastéis de bacalhau com queijo da Serra. Para comer português temos de demandar a periferia. A EMEL é um centro de faturação. A Polícia Municipal é inútil em termos de segurança pública. Serve para multar condutores e fiscalizar obras pequeninas. Os monos gigantes de grandes grupos crescem à vontadinha. Moedas acha que soma e segue. Pode até voltar a ganhar, mas os lisboetas estão a perder qualidade de vida. Que diferença para Santana Lopes, para falar apenas de um ex-presidente do mesmo partido.

6. Morreu Armando Carvalheda, um grande nome da rádio. Durante anos proporcionou dezenas de notáveis momentos de boa música portuguesa no seu Viva a Música na Antena 1, por onde desfilaram muitos dos melhores. A rádio portuguesa está de luto. RIP, Armando.