Portugal – Uma Ilha Ferroviária na Europa


A decisão da AD de continuar a desastrosa política ferroviário do PS é uma nova traição  aos interesses de Portugal, já que o transporte de mercadorias para a Europa por rodovia está condenado por razões energéticas, ambientais e de custo.


Assisti no Tagus Parque a um debate de dois dias sobre Mobilidade e saí de lá desesperado pela forma como inúmeras instituições organizam supostos debates que são monólogos de alguns convidados escolhidos, muitos dos quais funcionários públicos, a defenderem as teses do chefe, ou do partido, o que é quase a mesma coisa. O tema que mais me interessava era o da ferrovia. Grande inocência, quase todos os palestrantes eram burocratas sem pinga de pensamento estratégico, falaram muito sobre o que fizeram no passado, mas sem mencionar os erros cometidos: excesso de autoestradas, abandono e fecho de inúmeras linhas férreas, fecho da indústria ferroviária (Bombardier e Sorefame) e nada sobre as promessas não cumpridas. Sobre o futuro, ou tudo o que pudesse ter a ver com os planos europeus financiados pela União Europeia (EU) do  chamado Corredor Atlântico,  nem uma palavra.

Quanto à bitola acredito que nenhum ser humano no seu juízo compreenderá a escolha da bitola ibérica e pelas seguintes razões:

1 -Por a bitola europeia ser a única forma de chegar de forma económica com os comboios de Portugal, passageiros e mercadorias, a toda a Europa e da construção das novas linhas em bitola europeia serem financiadas a 70 % do seu custo pela UE, como acontece em Espanha.

2-  Os anteriores governos do PS justificaram a escolha porque com a bitola ibérica as empresas portuguesas – CP (passageiros) e Medway (mercadorias) – ficarão protegidas da concorrência internacional, dado que os concorrentes não poderão entrar em Portugal com os seus comboios de bitola europeia, ou seja, beneficiam no mercado português e numa parte do mercado espanhol (nas regiões onde as linhas existentes ainda são de bitola ibérica) de uma situação de monopólio. Escolha absurda, porque na Europa e em todas as democracias do mundo existe uma economia de mercado onde os monopólios são combatidos. Ou seja, trata-se de condenar Portugal a ser uma ilha ferroviária na Europa, uma espécie de país da antiga cortina de ferro.

3 – O último governo de António Costa decidiu construir a linha de Lisboa ao Porto e a Vigo em bitola ibérica, perdendo com essa decisão a maioria dos apoios financeiros a fundo perdido de 70% do custo, optando, sem explicação, pelo financiamento nacional através de três parcerias público/privadas. Mais recentemente fala-se de um financiamento de 3.000 milhões de euros do BEI- Banco Europeu de Investimento, para a primeira fase da construção.

4 – A decisão da EU de há mais de vinte anos foi a de financiar o chamado “Corredor Atlântico” previsto entrar em Portugal pelo Norte a partir de Salamanca em direcção a Aveiro, depois por Coimbra e Lisboa, para passar pelo Poceirão e daí voltar a entrar em Espanha por Badajoz. Foi este o projecto aprovado na Figueira da Foz pelos governos de Durão Barroso e espanhol de Aznar, que Portugal votou ao esquecimento até à governação de José Sócrates que encomendou o projecto Elos para a ligação do Poceirão, Évora e Badajoz e com a ideia de ligar a Sines para mercadorias. Ou seja, a linha de Lisboa ao Porto ficaria construída em dois terços do seu percurso e paga pela União Europeia.

5 – O projecto Elos parou no período de recuperação da bancarrota do PS durante o governo de Passos Coelho e Portugal ainda deve cerca de 200 milhões de euros (custo inicial mais juros) à empresa internacional que fez o projecto e o assunto continua em tribunal. Foi posteriormente que os governos de António Costa optaram pela bitola ibérica, sendo que o ministro Pedro Nuno Santos justificou a escolha pela vantagem de ligar por ferrovia todas as capitais de distrito, ou seja, uma visão caseira de uma economia fechada em si mesma, deixando para mais tarde a mudança para a bitola europeia, com os custos acrescidos da mudança. 

6 – Agora o governo da AD manteve a escolha da bitola ibérica, acrescentando-lhe a ligação a Madrid, absurdo dos absurdos, com a justificação de que os espanhóis manterão as ligações a Portugal em bitola ibérica, isto é, será uma decisão espanhola que condiciona a escolha portuguesa da bitola. O que nos conduz à explicação de que tendo a Espanha, nosso maior concorrente na Europa, verificado que Portugal não cumpria a sua parte do acordo da Figueira da Foz, viu nisso uma oportunidade de condicionar a expansão das exportações portuguesas, forçando Portugal à utilização dos centros logísticos espanhóis construídos em Espanha junto à fronteira. Ou seja, já que os comboios portugueses não poderão chegar a França, serão substituídos pelos espanhóis de bitola europeia e a Espanha passou então a utilizar os fundos europeus para dar prioridade às ligações para a Galiza e, principalmente, para o corredor do Mediterrâneo, desde Barcelona (já ligado a França) até ao porto de Algeciras a Sul, concorrente de Sines para o Atlântico. 

7 – A decisão da AD de continuar a desastrosa política ferroviário do PS é uma nova traição aos interesses de Portugal, já que o transporte de mercadorias para a Europa por rodovia está condenado por razões energéticas, ambientais e de custo, sendo política de Bruxelas a criação de uma rede europeia em que todas as empresas ferroviárias possam actuar no mercado em livre concorrência, com a correspondente redução dos custos e a substituição do avião, no caso dos passageiros, o que já acontece em Espanha.

Notas finais: para compreender o futuro do transporte de mercadorias na Europa, é necessário ver que esse futuro passa pelo transporte ferroviário, o qual comporta o transporte porta a porta de camiões colocados em plataformas ferroviárias para as longas distâncias, sem cargas e descargas, solução que já existe na Itália e na Suíça.  Infelizmente, os governos portugueses não pensam no futuro e trabalham para consolidar a posição portuguesa na cauda da Europa.

Portugal – Uma Ilha Ferroviária na Europa


A decisão da AD de continuar a desastrosa política ferroviário do PS é uma nova traição  aos interesses de Portugal, já que o transporte de mercadorias para a Europa por rodovia está condenado por razões energéticas, ambientais e de custo.


Assisti no Tagus Parque a um debate de dois dias sobre Mobilidade e saí de lá desesperado pela forma como inúmeras instituições organizam supostos debates que são monólogos de alguns convidados escolhidos, muitos dos quais funcionários públicos, a defenderem as teses do chefe, ou do partido, o que é quase a mesma coisa. O tema que mais me interessava era o da ferrovia. Grande inocência, quase todos os palestrantes eram burocratas sem pinga de pensamento estratégico, falaram muito sobre o que fizeram no passado, mas sem mencionar os erros cometidos: excesso de autoestradas, abandono e fecho de inúmeras linhas férreas, fecho da indústria ferroviária (Bombardier e Sorefame) e nada sobre as promessas não cumpridas. Sobre o futuro, ou tudo o que pudesse ter a ver com os planos europeus financiados pela União Europeia (EU) do  chamado Corredor Atlântico,  nem uma palavra.

Quanto à bitola acredito que nenhum ser humano no seu juízo compreenderá a escolha da bitola ibérica e pelas seguintes razões:

1 -Por a bitola europeia ser a única forma de chegar de forma económica com os comboios de Portugal, passageiros e mercadorias, a toda a Europa e da construção das novas linhas em bitola europeia serem financiadas a 70 % do seu custo pela UE, como acontece em Espanha.

2-  Os anteriores governos do PS justificaram a escolha porque com a bitola ibérica as empresas portuguesas – CP (passageiros) e Medway (mercadorias) – ficarão protegidas da concorrência internacional, dado que os concorrentes não poderão entrar em Portugal com os seus comboios de bitola europeia, ou seja, beneficiam no mercado português e numa parte do mercado espanhol (nas regiões onde as linhas existentes ainda são de bitola ibérica) de uma situação de monopólio. Escolha absurda, porque na Europa e em todas as democracias do mundo existe uma economia de mercado onde os monopólios são combatidos. Ou seja, trata-se de condenar Portugal a ser uma ilha ferroviária na Europa, uma espécie de país da antiga cortina de ferro.

3 – O último governo de António Costa decidiu construir a linha de Lisboa ao Porto e a Vigo em bitola ibérica, perdendo com essa decisão a maioria dos apoios financeiros a fundo perdido de 70% do custo, optando, sem explicação, pelo financiamento nacional através de três parcerias público/privadas. Mais recentemente fala-se de um financiamento de 3.000 milhões de euros do BEI- Banco Europeu de Investimento, para a primeira fase da construção.

4 – A decisão da EU de há mais de vinte anos foi a de financiar o chamado “Corredor Atlântico” previsto entrar em Portugal pelo Norte a partir de Salamanca em direcção a Aveiro, depois por Coimbra e Lisboa, para passar pelo Poceirão e daí voltar a entrar em Espanha por Badajoz. Foi este o projecto aprovado na Figueira da Foz pelos governos de Durão Barroso e espanhol de Aznar, que Portugal votou ao esquecimento até à governação de José Sócrates que encomendou o projecto Elos para a ligação do Poceirão, Évora e Badajoz e com a ideia de ligar a Sines para mercadorias. Ou seja, a linha de Lisboa ao Porto ficaria construída em dois terços do seu percurso e paga pela União Europeia.

5 – O projecto Elos parou no período de recuperação da bancarrota do PS durante o governo de Passos Coelho e Portugal ainda deve cerca de 200 milhões de euros (custo inicial mais juros) à empresa internacional que fez o projecto e o assunto continua em tribunal. Foi posteriormente que os governos de António Costa optaram pela bitola ibérica, sendo que o ministro Pedro Nuno Santos justificou a escolha pela vantagem de ligar por ferrovia todas as capitais de distrito, ou seja, uma visão caseira de uma economia fechada em si mesma, deixando para mais tarde a mudança para a bitola europeia, com os custos acrescidos da mudança. 

6 – Agora o governo da AD manteve a escolha da bitola ibérica, acrescentando-lhe a ligação a Madrid, absurdo dos absurdos, com a justificação de que os espanhóis manterão as ligações a Portugal em bitola ibérica, isto é, será uma decisão espanhola que condiciona a escolha portuguesa da bitola. O que nos conduz à explicação de que tendo a Espanha, nosso maior concorrente na Europa, verificado que Portugal não cumpria a sua parte do acordo da Figueira da Foz, viu nisso uma oportunidade de condicionar a expansão das exportações portuguesas, forçando Portugal à utilização dos centros logísticos espanhóis construídos em Espanha junto à fronteira. Ou seja, já que os comboios portugueses não poderão chegar a França, serão substituídos pelos espanhóis de bitola europeia e a Espanha passou então a utilizar os fundos europeus para dar prioridade às ligações para a Galiza e, principalmente, para o corredor do Mediterrâneo, desde Barcelona (já ligado a França) até ao porto de Algeciras a Sul, concorrente de Sines para o Atlântico. 

7 – A decisão da AD de continuar a desastrosa política ferroviário do PS é uma nova traição aos interesses de Portugal, já que o transporte de mercadorias para a Europa por rodovia está condenado por razões energéticas, ambientais e de custo, sendo política de Bruxelas a criação de uma rede europeia em que todas as empresas ferroviárias possam actuar no mercado em livre concorrência, com a correspondente redução dos custos e a substituição do avião, no caso dos passageiros, o que já acontece em Espanha.

Notas finais: para compreender o futuro do transporte de mercadorias na Europa, é necessário ver que esse futuro passa pelo transporte ferroviário, o qual comporta o transporte porta a porta de camiões colocados em plataformas ferroviárias para as longas distâncias, sem cargas e descargas, solução que já existe na Itália e na Suíça.  Infelizmente, os governos portugueses não pensam no futuro e trabalham para consolidar a posição portuguesa na cauda da Europa.