A minha cerveja

A minha cerveja


Frankfurt 00h00


FRANKFURT – Dois dias sem futebol e parece que nós, drogados pelos jogos, ficámos sem a dose habitual que nos excita. Passeio-me pelos quarteirões em redor do meu hotel, junto à estação dos comboios, como em todas as outras cidades até aqui, preparado para o imediato chegar e partir, é meia noite, um movimento contínuo entre ofertas de todas as espécies: especialidades afegãs, comida do extremo-Oriente, pratos persas, kebabs, shwarmas, um «pub» irlandês com Guinness à pressão, um restaurante africano, só africano, sem país definido, dois mendigos jogando às cartas sentados no chão rodeados pelas suas pequenas fortunas empilhadas em carrinhos de supermercados. Que trunfo terá cada um na sua mão? Cheiros diversos, alguns agradáveis, outros nauseabundos, vidas dispersas, umas com amarras, outras soltas. Frankfurt, a capital alemã do dinheiro, também tem as suas chagas purulentas. Que magoam o olhar. «Ne m’attends pás ce soir/car la nuit est blanche et noire», escreveu Gérard de Nerval, que viajou pelo oriente e ficou louco, na noite em que se suicidou. Sim, não esperes por mim sono inquieto de todas as noites, porque esta noite será mais branca do que negra. Um odor doce de haxixe. Meia-noite e as mariposas dormem. O cão coça a escabiose e eu vou à procura da cama onde nunca descanso dos meus pesadelos de tanta morte que passou a existir na minha vida.