Menos papões, mais soluções


No entretanto, vai-se assistindo a uma degradação generalizada do ambiente social, do compromisso individual com os outros e dos funcionamento dos serviços e respostas da sociedade.


O medo foi durante muitos anos um dos meios escolhidos para catalisar a mobilização cívica e política em torno de ideias, projetos ou iniciativas, por vezes, com substancial êxito. Na falta de capacidade para captar e gerar compromisso em função do valor próprio das ideias, dos projetos e das iniciativas a desenvolver, projetavam-se noutros responsabilidades sobre a situação existente ou a configuração das soluções ou da ausência delas no presente e para o futuro. A tentação é persistente e o atual Governo de direita, depois da geração de amplas expectativas, não hesitou a configurar por baixo as respostas em linha com as disponibilidades, projetando no passado as causas de todos os males, mesmo quando decide em linha com esse tempo anterior, como aconteceu no aeroporto, na TGV e na terceira travessia do Tejo. O que parecem não perceber, Governo e Oposição, é que o tempo é cada vez mais outro, em que o cansaço democrático e da falta de respostas para os problemas e ambição de uma vida melhor geram cada vez mais mercado de descontentamento, pasto fácil para os populistas e os extremistas, avessos ao senso, ao compromisso e ao equilíbrio.

Nas últimas décadas, os portugueses estiveram amiúde confrontados com o contexto do ioiô, ora têm, ora não têm, em função de circunstâncias em que são alheios, mas destinatários últimos dos impactos das opções estratégicas, políticas, económicas e sociais. A vigência da incerteza e da imprevisibilidade parece ter acrescentado à tempestade dos quotidianos e das perspetivas futuras quando de geração sustentada de expectativas positivas que teimam a tardar na concretização. E, no entretanto, vai-se assistindo a uma degradação generalizada do ambiente social, do compromisso individual com os outros e do funcionamento dos serviços e respostas da sociedade.

A conjugação dos anúncios e deliberações do governo com as aprovações parlamentares pelas oposições de medidas contrárias ao programa do governo eram suficientes para gerar alguns impulsos positivos na vida das pessoas, das empresas, da sociedade e do território, mas tardam a chegar onde elas são mais precisas e nenhuma delas tem garantias de sustentabilidade no tempo. Basta algumas mudanças de variantes e tudo pode mudar, num constante vai e vem, aprova, revoga, próprio de quem quer responder às circunstâncias, mas nunca ao que é estrutural.

Há um perigoso cansaço democrático com o funcionamento das instituições, as respostas em áreas vitais para a vida e o acervo de regras que configuram o modelo de vivência em comunidade.

Há uma deplorável degradação da vivência em espaço público, com fragilização da segurança, da perceção de segurança, dos comportamentos individuais, da observância das normas legais e do acesso a respostas dos serviços e das instituições, numa espiral de afastamento em relação a quem precisa de algo pelos prestadores de serviços. O triunfo do não vá, telefone, uma vez mais, plasmado no anunciado plano de emergência da saúde, perpetua a perceção de ausência de proximidade das respostas, também presente na persistência de pré-marcações, de pré-agendamentos e de outras modalidades de insuficiência, umas a toque da pandemia, outras da falta de capacidade de resposta nos serviços exauridos de recursos humanos, materiais e de sentido de missão.

Neste quadro de miséria, é fácil a emergência das desconfianças, das verborreias inconsequentes e o recurso aos papões para todos os fins, até para mascarar a ausência de capacidade de estabelecer compromissos mínimos para traçar um rumo para o país, concretizar respostas essenciais e deixar de lado os jogos florais que não resolvem nenhum dos problemas persistentes das pessoas e das comunidades e não garante soluções sustentadas e sustentáveis. Neste quadro, não focar na concretização de respostas, tão rápidas quanto possíveis e para ficarem, é contribuir para o aumento dos descontentamentos, dos extremos e dos adversários de uma democracia desenvolvida. Urge mais soluções, menos papões, não com as configurações de sempre, mas atualizadas à diversidade e complexidade de desafios que enfrentamos.

NOTAS FINAIS

DOMINGO, VOTAR NA EUROPA É VOTAR EM CADA UM DE NÓS. A Europa tem as costas largas em muitos Estados membros, mas continua a ser vital como espaço de diversidade, desenvolvimento, liberdades e direitos. Agora que a paz, tem evidentes riscos, não são indiferentes as opções que os cidadãos fazem em relação a ela. Por mim, já o fiz em voto antecipado, que sublinha também que é possível melhorar o sistema eleitoral e superar os anacronismos, do dia de reflexão e de outras existências que tratam os eleitores como cidadãos menos.

MARCELO, O INCONSEQUENTE. Depois de perdido na procura do seu papel no quadro da maioria absoluta e de desbaratar popularidade com as erráticas intervenções, o Presidente procura reganhar posicionamento com um punhado de intervenções desfasadas na forma e levianas no conteúdo. Houve um tempo em que invocou campanhas regionais para não se pronunciar sobre temas, agora regressa em busca da relevância pública e mediática perdida com a pressão pública sobre o Orçamento de Estado para 2025. Discrição, em privado, sem fugas, não seria mais eficaz?

COMISSÃO NACIONAL DE PROTEÇÃO DE DADOS HÁ 3 ANOS PARA DECIDIR QUEIXA. A CNPD está há quase 3 anos para decidir sobre uma queixa de violação do RGPD pela divulgação pública de documentação com dados pessoais do acervo do Governo Civil de Lisboa. Como é possível tamanha demora? Que sociedade gera este tipo de funcionamento?

SANTA CASA EM FASCÍCULOS. Depois de despedir a anterior provedora na praça pública, de a insultar publicamente, de nomear um novo provedor, deste ter reunido duas semanas com a anterior mesa “de incompetentes prolongados”, o Governo lá acabou o processo de limpeza com a nomeação da restante mesa. Acabada a novela, é tempo de soluções, além da evidente deriva de venda de ativos imobiliários.

Menos papões, mais soluções


No entretanto, vai-se assistindo a uma degradação generalizada do ambiente social, do compromisso individual com os outros e dos funcionamento dos serviços e respostas da sociedade.


O medo foi durante muitos anos um dos meios escolhidos para catalisar a mobilização cívica e política em torno de ideias, projetos ou iniciativas, por vezes, com substancial êxito. Na falta de capacidade para captar e gerar compromisso em função do valor próprio das ideias, dos projetos e das iniciativas a desenvolver, projetavam-se noutros responsabilidades sobre a situação existente ou a configuração das soluções ou da ausência delas no presente e para o futuro. A tentação é persistente e o atual Governo de direita, depois da geração de amplas expectativas, não hesitou a configurar por baixo as respostas em linha com as disponibilidades, projetando no passado as causas de todos os males, mesmo quando decide em linha com esse tempo anterior, como aconteceu no aeroporto, na TGV e na terceira travessia do Tejo. O que parecem não perceber, Governo e Oposição, é que o tempo é cada vez mais outro, em que o cansaço democrático e da falta de respostas para os problemas e ambição de uma vida melhor geram cada vez mais mercado de descontentamento, pasto fácil para os populistas e os extremistas, avessos ao senso, ao compromisso e ao equilíbrio.

Nas últimas décadas, os portugueses estiveram amiúde confrontados com o contexto do ioiô, ora têm, ora não têm, em função de circunstâncias em que são alheios, mas destinatários últimos dos impactos das opções estratégicas, políticas, económicas e sociais. A vigência da incerteza e da imprevisibilidade parece ter acrescentado à tempestade dos quotidianos e das perspetivas futuras quando de geração sustentada de expectativas positivas que teimam a tardar na concretização. E, no entretanto, vai-se assistindo a uma degradação generalizada do ambiente social, do compromisso individual com os outros e do funcionamento dos serviços e respostas da sociedade.

A conjugação dos anúncios e deliberações do governo com as aprovações parlamentares pelas oposições de medidas contrárias ao programa do governo eram suficientes para gerar alguns impulsos positivos na vida das pessoas, das empresas, da sociedade e do território, mas tardam a chegar onde elas são mais precisas e nenhuma delas tem garantias de sustentabilidade no tempo. Basta algumas mudanças de variantes e tudo pode mudar, num constante vai e vem, aprova, revoga, próprio de quem quer responder às circunstâncias, mas nunca ao que é estrutural.

Há um perigoso cansaço democrático com o funcionamento das instituições, as respostas em áreas vitais para a vida e o acervo de regras que configuram o modelo de vivência em comunidade.

Há uma deplorável degradação da vivência em espaço público, com fragilização da segurança, da perceção de segurança, dos comportamentos individuais, da observância das normas legais e do acesso a respostas dos serviços e das instituições, numa espiral de afastamento em relação a quem precisa de algo pelos prestadores de serviços. O triunfo do não vá, telefone, uma vez mais, plasmado no anunciado plano de emergência da saúde, perpetua a perceção de ausência de proximidade das respostas, também presente na persistência de pré-marcações, de pré-agendamentos e de outras modalidades de insuficiência, umas a toque da pandemia, outras da falta de capacidade de resposta nos serviços exauridos de recursos humanos, materiais e de sentido de missão.

Neste quadro de miséria, é fácil a emergência das desconfianças, das verborreias inconsequentes e o recurso aos papões para todos os fins, até para mascarar a ausência de capacidade de estabelecer compromissos mínimos para traçar um rumo para o país, concretizar respostas essenciais e deixar de lado os jogos florais que não resolvem nenhum dos problemas persistentes das pessoas e das comunidades e não garante soluções sustentadas e sustentáveis. Neste quadro, não focar na concretização de respostas, tão rápidas quanto possíveis e para ficarem, é contribuir para o aumento dos descontentamentos, dos extremos e dos adversários de uma democracia desenvolvida. Urge mais soluções, menos papões, não com as configurações de sempre, mas atualizadas à diversidade e complexidade de desafios que enfrentamos.

NOTAS FINAIS

DOMINGO, VOTAR NA EUROPA É VOTAR EM CADA UM DE NÓS. A Europa tem as costas largas em muitos Estados membros, mas continua a ser vital como espaço de diversidade, desenvolvimento, liberdades e direitos. Agora que a paz, tem evidentes riscos, não são indiferentes as opções que os cidadãos fazem em relação a ela. Por mim, já o fiz em voto antecipado, que sublinha também que é possível melhorar o sistema eleitoral e superar os anacronismos, do dia de reflexão e de outras existências que tratam os eleitores como cidadãos menos.

MARCELO, O INCONSEQUENTE. Depois de perdido na procura do seu papel no quadro da maioria absoluta e de desbaratar popularidade com as erráticas intervenções, o Presidente procura reganhar posicionamento com um punhado de intervenções desfasadas na forma e levianas no conteúdo. Houve um tempo em que invocou campanhas regionais para não se pronunciar sobre temas, agora regressa em busca da relevância pública e mediática perdida com a pressão pública sobre o Orçamento de Estado para 2025. Discrição, em privado, sem fugas, não seria mais eficaz?

COMISSÃO NACIONAL DE PROTEÇÃO DE DADOS HÁ 3 ANOS PARA DECIDIR QUEIXA. A CNPD está há quase 3 anos para decidir sobre uma queixa de violação do RGPD pela divulgação pública de documentação com dados pessoais do acervo do Governo Civil de Lisboa. Como é possível tamanha demora? Que sociedade gera este tipo de funcionamento?

SANTA CASA EM FASCÍCULOS. Depois de despedir a anterior provedora na praça pública, de a insultar publicamente, de nomear um novo provedor, deste ter reunido duas semanas com a anterior mesa “de incompetentes prolongados”, o Governo lá acabou o processo de limpeza com a nomeação da restante mesa. Acabada a novela, é tempo de soluções, além da evidente deriva de venda de ativos imobiliários.