O jovem do arrebenta e a velhice do padre eterno

O jovem do arrebenta e a velhice do padre eterno


Final da Taça de Portugal deste domingo marcada pelas atitudes de dois presidentes desbocados


Domingo, no Jamor, pelas 17h15, um Sporting impante pela conquista absoluta de um campeonato no qual não deu qualquer hipóteses aos rivais que esta época nunca o chegaram a ser, e um FC Porto ainda a viver uma batalha pelo poder que estamos para ver quanto tempo durará, irão disputar a 84.ª edição da Taça de Portugal num encontro que fica marcado pelas atitudes de um presidente, Frederico Varandas, e de um ex-presidente, ao qual muitos davam a alcunha de Papa mas que, como diria Guerra Junqueiro, nunca passou na verdade de um padre com pretensões a eterno que a velhice fez cair estrepitosamente de um trono apodrecido. Queria, desta feita, o grande Campeão dos Arguidos doFutebol Português – expressão que o levou a carregar-me de processos que, a devido tempo, o TribunalEuropeu dos Direitos do Homem, tratou de enfiar no caixote do lixo desta bacoca justiça à portuguesa -, apresentar-se no Estádio Nacional sentado no banco ao lado do treinador, algo que foi a sua imagem de marca durante anos a fio e nos quais massacrou os ouvidos de muitos dos fiscais de linha que tiveram de levar com ele pelas costas. Infelizmente para a personagem, agarrada a uma teimosia mazomba de não querer descer a escadaria da sua tão proclamada importância, o Tribunal Arbitral do Desporto recusou o seu recurso num processo que lhe foi instaurado após a derrota do FCPorto no Estoril – lesão da honra e da reputação e denúncia caluniosa. Mais uma vez a arbitragem (que entre nós é miserável, disso não sobram muitas dúvidas) ficou com as orelhas a arder. Só que, não conseguindo levar a sua avante, o ex-presidente dos portistas, que o escorraçaram sem piedade dando a Villas-Boas cerca de 80% da sua preferência – uma vitória tão clara e tão nítida como foi a do Sporting no campeonato – vai ver o jogo ou em casa, pela televisão, ou, se ainda tiver a lata de se infiltrar, no meio da claque que durante tantos e tantos anos lhe serviu de guarda pretoriana. A decadência mete, por vezes dó. Neste caso são não acontece porque a farronca do mamífero não deixa grande espaço a sensações de piedade, algo que, aliás, nunca fez parte dos seus escrúpulos, se é que conservou algum. Nesta sexta final entre ambos os clubes, só a FPF lhe deu a mão e lhe arranjou um lugarzinho à última hora. Velem antigas amizades. O tempo não perdoa.

A final do arrebenta!

Por seu lado, o presidente do Sporting, saiu-se com uma frase bem à moda do ex-presidente do FCPorto: «Não vamos só ganhar, vamos rebentar com eles!». Tenha sido tal farronca solta no meio das pilhérias íntimas provocadas pela euforia do título, e solta para a comunicação social por alguém que os sportinguistas andarão neste momento a chamar de bufo, tal como se fazia aos pides que populavam entre cervejarias e cafés, a imagem dada é de uma truculência bem pouco aceitável, ainda por cima vinda de alguém que continua, pelos vistos, a ter uma dificuldade na escolha das palavras que é seu apanágio desde que surgiu no futebol, apenas beneficiando do facto de ter sucedido a um arruaceiro que além de desbocado era ordinário. Infelizmente, o futebol português gosta de retoiçar neste tipo de impropérios com a alegria de bacorinhos que se rebolam numa esterqueira. Não admira por isso que tenha caído numa inominável consequência de insultos, de atos violentos e de situações que levam qualquer bom pai de família a não querer tal coisa na educação dos seus filhos. Ainda por cima quando se defrontam dois dos chamados três grandes que, neste aspeto, têm todos, nas últimas duas ou três décadas, muito pouco de grande e muito de pequenos, cada um com os seus selvagens à solta pelos campos do país. 

Pelo caminho, aquando da habitual receção aos campeões nacionais realizada na Câmara Municipal de Lisboa, o dr. Varandas, do alto da varanda da Praça do Município soltou um chiste digno da velha versão da mais fina ironia ao dedicar uma frase assassina ao grande rival conterrâneo, o Benfica: «Para vencermos este campeonato o nosso rival obrigou-nos a ter de bater todos os nossos recordes. Para um digno vencido… o nosso respeito e consideração». Ora, entenda cada um como entender, e eu entendo à minha maneira, obviamente, mas nenhuma outra expressão poderia ter sido mais assassina. Digno vencido? O nosso rival obrigou-nos a bater todos os recordes?Mas faz algum sentido quando a três jornadas do fim já o Sporting era campeão de facto, e se ganhou os últimos encontros isso se deveu à sede de vitória do seu treinador e dos seus jogadores e não a qualquer tipo de incentivo competitivo? A dignidade do Benfica limitou-se a uma realidade de apavorar hipopótamos: numa época em que, carregando o símbolo de campeão, ainda fez um investimento como raramente se vê em Portugal ficou apenas a dez (!!!) pontos de distância do Sporting após o encerrar da contabilidade. Se isso reflete um adversário digno que obrigou os leões a superarem-se, então, como gosta de dizer o povinho, lá das altura de Mogadouro ao rés do chão deSão Brás de Alportel, vou ali e já venho. Enfim, marcada por tantas palavras ocas, que a final de domingo seja, pelo menos, motivo de alegria e não de mais uma tristeza…