Nota prévia: É aterradora a notícia de que foi desmantelada uma rede comandada por um jovem português de 17 anos que planeava assassinatos e torturas de pessoas e animais para divulgar nas redes sociais. O jovem recrutava seguidores assassinos na internet, que domina plenamente, ao ponto deles se automutilarem. Tinha um ascendente sobre o grupo que levou mesmo ao assassinato de uma jovem no Brasil. Estava até a preparar a transmissão em direto da tortura e assassinato de um mendigo brasileiro. Uma juíza do Norte colocou-o em prisão preventiva depois de concluir que o acusado tem “total indiferença e desprezo pelos crimes”. Além disso, evidencia óbvias afinidades com movimentos nazis. Este psicopata acabou de fazer 17 anos. Pelos vistos, os progenitores, que tinham guarda partilhada, pensavam que era só mais um entusiasta dos computadores. A história recente tem mostrado que há inúmeros loucos do género por todo o mundo, não sendo Portugal uma exceção. Nunca é demais estar atento a certos comportamentos, sobretudo quando se trata de menores. Que a Justiça não seja leve, para que sirva de exemplo. Todo o avanço científico e tecnológico tem reverso. Por isso deve sempre de ser medido antes de ser glorificado. Este caso partiu de um humano. Um destes dias nascerá de uma qualquer inteligência artificial malévola e incontrolável. E essa ninguém a vai conseguir prender e muito menos condenar. Há muitos géneros de monstros à solta.
1. É cada vez mais difícil acreditar que não haverá eleições antecipadas em 2025. O otimismo manifestado sábado por Luís Montenegro é mais de circunstância do que real. O PS e o Chega, cada um por seu lado umas vezes, e articulados noutras, estão em campo numa ação em tenaz que limita a capacidade do executivo cumprir o seu programa. Por outro lado, o excesso de promessas eleitorais face à realidade das contas públicas que o Governo encontrou (coisa que nestas linhas se tinha referido há muitas semanas) pode levar a incumprimentos e a uma degradação da estabilidade social. Nos últimos dias ressurgiu a imagem do país de tanga denunciado por Barroso e que era uma realidade. Foi mesmo comprovada pelo próprio Banco de Portugal, na altura governado pelo insuspeito Vítor Constâncio. Montenegro teria feito bem em exigir o mesmo tipo de auditoria. Como não o fez, ninguém perceberia agora que não fossem atendidas as justas reivindicações de polícias, guardas, médicos e oficiais de justiça, nomeadamente. Já o caso dos professores parece mais encaminhado, embora se trate de uma classe que está sempre em luta por militância política de esquerda. Só por milagre é que Montenegro aguenta até dezembro, quanto mais uma legislatura. A solução de sobrevivência mais óbvia implicaria uma aliança concreta com o Chega, que não abdica de entrar para o Governo. E isso Montenegro persiste em não querer, honrando a palavra dada. O Governo está, pois, fragilizado, muito condicionado e a ser desgastado por uma guerrilha oriunda de uma frente de oposições diversas e aguerridas. Em simultâneo, há no interior do PSD e da direita moderada cada vez mais gente que vê como solução de estabilidade a tal coligação com Ventura, com ou sem Montenegro. A recusa desse cenário é, por enquanto, ainda maioritária na AD. Contaria, provavelmente, com a oposição do Presidente da República, apesar de diminuído. Não se imagina que aceitasse agora uma troca de primeiro-ministro do mesmo quadrante, coisa que recusou a António Costa. Não há que ver: estamos numa fase que ameaça ser longa, se todos mantiverem as posições de princípio, fazendo com que a instabilidade se torne a característica permanente do nosso sistema, num quadro em que a direita é largamente maioritária. Já à esquerda as coisas serão sempre mais fáceis, depois da geringonça.
2. Os primeiros trinta dias do Governo não foram, entretanto, fáceis. Ficaram marcados por problemas, designadamente o caso do IRS, as demissões impostas da mesa da Santa Casa e a saída pelo seu pé do diretor executivo do SNS, Fernando Araújo. São situações que mexem com a vida de toda a sociedade, embora resultem de ineficácias herdadas do Governo Costa. Em contrapartida, assiste-se a um monumental silêncio do Executivo a respeito de dois temas que era suposto estarem logo em cima da mesa: a localização do novo aeroporto (parece que a Vinci se está a mexer para ser ela a decidir) e a privatização da TAP, sendo que as duas coisas andam juntas. Para agravar, os desgraçados dos contribuintes foram confrontados com a notícia de que a venda da SATA está comprometida, porque a empresa que se propõe comprá-la não teria a credibilidade adequada. A SATA Airlines perdeu 25,6 milhões de euros só no primeiro trimestre deste ano. À falta de uma, continuamos a ter duas empresas públicas de aviação. O potencial comprador já anunciou que vai recorrer para onde for necessário para fazer valer os seus direitos.
3. AD e PS estão de acordo em boicotar a realização de debates nas televisões, no quadro da campanha das eleições europeias. O modelo proposto seria o de todos contra todos, à vez, mas limitado aos partidos que hoje têm assento no parlamento nacional. Estamos perante uma fuga ao confronto democrático e uma tentativa de jogar na vantagem mediática que a AD e o PS têm em resultado da sua expressão eleitoral. Uma coisa é uma campanha feita de apontamentos de telejornais e fundada no peso da militância e um ou dois debates à molhada. Outra é o debate ao pormenor do projeto europeu de cada um, em que nem Bugalho nem Temido são reputados especialistas. As televisões parecem conformadas. Não se mostram determinadas em seguir o modelo da cadeira vazia, o que não deixava de ser uma lição. Outro aspeto preocupante tem a ver com a preparação do voto em mobilidade, o qual permitiria que cada um votasse na mesa que entendesse, evitando uma abstenção potencialmente gigante. Na semana passada saudou-se aqui a iniciativa. Também se alertou para a hipótese de, mais tarde, surgirem problemas judiciais com a forma como a contratação da operação foi feita. Afinal, a situação é ainda mais grave. Segundo o Expresso, faltam 2600 técnicos informáticos para que se consiga um por cada mesa de voto, apesar de já se terem comprado os 29 mil computadores necessários (!). O IEFP não conseguiu arranjar o pessoal e agora quer passar a bola para as autarquias. Veremos se funciona o proverbial desenrascanço nacional.
4. Na RTP tudo indica que está por dias a renovação efetiva dos mandatos de Nicolau Santos e Hugo Figueiredo. Deve coincidir com a saída de Luísa Ribeiro, administradora com a área financeira, a quem já terá sido comunicada a não recondução por parte do ministro das Finanças, Miranda Sarmento. Sendo obrigatória a presença de uma mulher na equipa, tem sido praxe reservar às senhoras o trabalho de “arrumar a casa” e tomar conta dos envelopes que o Estado vai mandando. Isto quando há muitas profissionais com capacidade mais do que reconhecida para gerir conteúdos e homens suficientemente instruídos para controlar um orçamento.
5. No meio de intrincados problemas nacionais e de uma enorme tensão internacional que transporta o mundo para um dos momentos mais perigosos das últimas décadas, eis que surge finalmente uma grandiosa e agradável notícia: abriu a safra da sardinha! Parece que o pitéu nacional do verão (a par do caracol), apesar de ter uma captura mais reduzida do que no ano passado, já se apresenta bastante apetitoso, com tendência clara para melhorar até aos santos populares e atingir a sua máxima qualidade lá para finais de julho. Para a boa nova concorreu bastante a imposição de quotas de pesca, permitindo que tenhamos essa pequena alegria veranil. Claro que o petisco vai pesar mais um pouco na carteira, mas nada que a fabulosa descida do IRS oferecida pela generosa dupla Pedro Nuno/André não compense, embora só para o ano. Se até lá não precisarmos de uma assistência externa ao jeito da troika.