Chegou finalmente à última estação, o comboio descendente do PS, onde todos seguiamos nos últimos quase dez anos. António Costa, que tinha há poucos meses posado para a capa de uma revista em pose triunfal sobre a manchete "Vão ser quatro anos, habituem-se", apareceu na terça-feira de voz trémula e postura que oscilou entre o desânimo e a irritação, a agradecer a quem esteve com ele e a declarar um ponto final na sua história enquanto PM.
Passado tanto tempo desde que engendrou uma Geringonça mal amanhada para conseguir governar sem vencer eleições, é muito interessante avaliar a passagem do comboio PS sob comando do maquinista António Costa. Aproveitando o mote do secretário-geral adjunto do PS, João Torres que se despediu de um "líder reformista", convido o leitor a tentar recordar-se das grandes mudanças que este Governo de quase dez anos, implementou e reconhecer o legado que nos deixou. Começo eu:
O legado que António Costa nos deixa é de um Serviço Nacional de Saúde, que a esquerda tanto diz defender, à beira do colapso, atravessando a pior situação de sempre da história. Pacientes que não conseguem ser tratados e médicos e enfermeiros sem condições de os tratar. Uma das categorias profissionais mais importantes em qualquer país, a de professor, completamente de rastos, colocando em causa o futuro das novas gerações, ainda a recuperar das perdas provocadas pela paragem da pandemia Covid-19 e à espera dos computadores prometidos.
Temos um enorme problema de habitação que afeta principalmente os jovens adultos, sem fim à vista, para o qual foram atiradas consecutivamente propostas inconsequentes e ignorando a óbvia falta de oferta. Um problema que está mais agravado do que nunca.
Um país com um dos salários mais baixos da Europa, onde o esforço para conseguir cumprir as crescentes obrigações fiscais impostas pelo Estado é descomunal e completamente impossível de aguentar. Somos constantemente ultrapassados por países que aderiram mais tarde à União Europeia e que partiram de piores condições.
E não há uma única grande obra pública, não conseguiram decidir-se sobre a localização do novo aeroporto nem expandir o antigo, apenas enterrar dinheiro dos contribuintes na TAP, sucessivamente. Não há novos hospitais. Não há investimento palpável na ferrovia apesar de nos quererem empurrar para fora dos carros ou claro, comprar elétricos.
António Costa saiu e certamente não deixará saudades pelo seu extenso legado. Não se pode dizer que o período de governação de António Costa durou oito anos. Ele custou-nos, isso sim, oito anos, ou mais ainda. O país estagnou, e começa-se a levantar o véu dos motivos da falta de progresso com esta demissão.
O Partido Socialista prova mais uma vez aos portugueses que não tem qualquer sentido ético, nem moral, para que lhe seja confiado o voto do povo, e muito menos para lhe seja confiada uma maioria absoluta. É a segunda vez que um primeiro-ministro socialista se vê envolvido em escândalos de corrupção. À terceira já só cai quem quiser, pois a história repete-se mesmo em frente aos nossos olhos.
Está na hora de recuperar o tempo perdido com António Costa, de devolver a credibilidade à governação e reconquistar a confiança dos eleitores com propostas sérias para a resolução dos problemas atuais. Tudo isto não passa certamente por voltar a insistir no erro de votar à esquerda. Vamos apanhar outro comboio.
João Conde
Presidente da Juventude Popular de Setúbal