“O saber ocupa lugar…”


O trabalho de um estudante de doutoramento é procurar e transmitir conhecimento e, sim, nós ocupamos lugar, embora o mesmo seja poucas vezes reconhecido na sociedade, e mesmo na academia, durante e após o nosso projecto de doutoramento.


José Mariano Gago, douto Professor do Instituto Superior Técnico e o autor da frase que dá título a este artigo, progenitor científico de uma geração de cientistas produzidos nos últimos anos em Portugal, tinha uma visão bem definida da ciência: “Sem pensamento, sem diálogo estruturado sobre o porquê das coisas, sem controvérsia, sem enigma, sem verdadeira experimentação, não há ciência nem educação científica”. Acrescentamos nós: e sem estudantes de doutoramento não há actualmente ciência nem educação científica em Portugal.

A percepção pública de um estudante de doutoramento é a de alguém que prossegue os seus estudos com recurso a financiamento público (quando este existe, claro está). A realidade é, no entanto, bem mais complexa: ser estudante de doutoramento em Portugal é, até certo ponto, ser como qualquer estudante universitário, com unidades curriculares e avaliações, prazos e propinas; é ter um trabalho (precário) científico que nos permite desenvolver estudos e produções científicas esperando poder contribuir para um progresso científico, nem que seja milimétrico; mas é também ter um papel na formação das novas gerações, através do auxílio para leccionar e orientar alunos nos cursos de licenciatura e mestrado, muitas vezes como resultado do reduzido e envelhecido corpo docente que perdura nas faculdades portuguesas para o número crescente de estudantes que ingressam no ensino superior todos os anos.

A nível pessoal, trabalhar num doutoramento é aprender a gerir expectativas. A expectativa de que vamos corresponder ao que esperam de nós: síndrome do impostor e burnout são dois conceitos que não poucas vezes andam de mãos dadas connosco ao longo (e depois) desta jornada – cuidar da saúde mental é fundamental e aqui torna-se crucial que as faculdades forneçam uma rede de suporte; cada doutoramento é uma experiência pessoal mas é também uma experiência colectiva, e a partilha de vivências e conhecimentos entre colegas é enriquecedora. Há a expectativa, por parte das faculdades e centros de investigação, de granjear financiamento através de uma bolsa de doutoramento, sem o qual se torna bastante difícil (para não dizer impossível) persistir neste meio; afinal de contas, este é o nosso trabalho e remuneração. Há a expectativa de que o projecto decorra conforme o programado; isto nem sempre se verifica – há sempre ajustes que se vão fazendo à medida que o trabalho é desenvolvido; há experiências que correm mal, caminhos que têm de ser retraçados e outras vias exploradas – e é extremamente importante aprender com a frustração e o insucesso inerentes ao processo científico; saber que os frutos do nosso trabalho só serão visíveis meses (ou por vezes anos) após todo o nosso esforço e dedicação. Acrescentar a todas estas expectativas, avanços e recuos, uma pandemia global (como aconteceu connosco), aumenta de sobremaneira a dificuldade inerente a um projecto de doutoramento. Para além da componente pessoal que nos afectou a todos de maneiras diferentes, o nosso doutoramento foi também inevitavelmente afectado: foi preciso aceitar que iriam existir atrasos e alterações ao desenvolvimento do projecto, ajustando o plano, e aceitar a perda de oportunidades e colaborações internacionais já desenvolvidas. Neste ponto, uma palavra de agradecimento ao Técnico pela forma como soube adaptar-se e auxiliar os seus membros.

E há também a expectativa de que vamos ter ao nosso dispor os recursos necessários ao bom desenvolvimento do nosso trabalho. Mediante o centro de investigação a que cada aluno de doutoramento está associado, as experiências podem ser díspares. O Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA), centro de investigação de excelência onde desenvolvemos grande parte dos nossos projectos de doutoramento, faculta-nos a possibilidade de participar em alguns dos mais disruptivos projectos científicos na nossa área, de ter acesso a laboratórios bem equipados e de colaborar com outros centros e universidades internacionais. A multidisciplinaridade do CERENA é uma mais-valia que nos possibilita um contacto próximo com colegas, investigadores e professores de áreas científicas distintas da nossa, permitindo uma partilha de ideias, experiências e conhecimentos abrangente e diversificada.

Voltando ao título deste artigo, o trabalho de um estudante de doutoramento é procurar e transmitir conhecimento e, sim, nós ocupamos lugar, embora o mesmo seja poucas vezes reconhecido na sociedade, e mesmo na academia, durante e após o nosso projecto de doutoramento. Num país em que urge aumentar a competitividade da economia portuguesa e o planeamento a médio/longo prazo, é necessário que a sociedade e a indústria portuguesa aproveitem estes recursos humanos altamente qualificados e que a academia acelere a sua renovação.

 

Estudantes de Doutoramento no Instituto Superior Técnico /  Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA)

“O saber ocupa lugar…”


O trabalho de um estudante de doutoramento é procurar e transmitir conhecimento e, sim, nós ocupamos lugar, embora o mesmo seja poucas vezes reconhecido na sociedade, e mesmo na academia, durante e após o nosso projecto de doutoramento.


José Mariano Gago, douto Professor do Instituto Superior Técnico e o autor da frase que dá título a este artigo, progenitor científico de uma geração de cientistas produzidos nos últimos anos em Portugal, tinha uma visão bem definida da ciência: “Sem pensamento, sem diálogo estruturado sobre o porquê das coisas, sem controvérsia, sem enigma, sem verdadeira experimentação, não há ciência nem educação científica”. Acrescentamos nós: e sem estudantes de doutoramento não há actualmente ciência nem educação científica em Portugal.

A percepção pública de um estudante de doutoramento é a de alguém que prossegue os seus estudos com recurso a financiamento público (quando este existe, claro está). A realidade é, no entanto, bem mais complexa: ser estudante de doutoramento em Portugal é, até certo ponto, ser como qualquer estudante universitário, com unidades curriculares e avaliações, prazos e propinas; é ter um trabalho (precário) científico que nos permite desenvolver estudos e produções científicas esperando poder contribuir para um progresso científico, nem que seja milimétrico; mas é também ter um papel na formação das novas gerações, através do auxílio para leccionar e orientar alunos nos cursos de licenciatura e mestrado, muitas vezes como resultado do reduzido e envelhecido corpo docente que perdura nas faculdades portuguesas para o número crescente de estudantes que ingressam no ensino superior todos os anos.

A nível pessoal, trabalhar num doutoramento é aprender a gerir expectativas. A expectativa de que vamos corresponder ao que esperam de nós: síndrome do impostor e burnout são dois conceitos que não poucas vezes andam de mãos dadas connosco ao longo (e depois) desta jornada – cuidar da saúde mental é fundamental e aqui torna-se crucial que as faculdades forneçam uma rede de suporte; cada doutoramento é uma experiência pessoal mas é também uma experiência colectiva, e a partilha de vivências e conhecimentos entre colegas é enriquecedora. Há a expectativa, por parte das faculdades e centros de investigação, de granjear financiamento através de uma bolsa de doutoramento, sem o qual se torna bastante difícil (para não dizer impossível) persistir neste meio; afinal de contas, este é o nosso trabalho e remuneração. Há a expectativa de que o projecto decorra conforme o programado; isto nem sempre se verifica – há sempre ajustes que se vão fazendo à medida que o trabalho é desenvolvido; há experiências que correm mal, caminhos que têm de ser retraçados e outras vias exploradas – e é extremamente importante aprender com a frustração e o insucesso inerentes ao processo científico; saber que os frutos do nosso trabalho só serão visíveis meses (ou por vezes anos) após todo o nosso esforço e dedicação. Acrescentar a todas estas expectativas, avanços e recuos, uma pandemia global (como aconteceu connosco), aumenta de sobremaneira a dificuldade inerente a um projecto de doutoramento. Para além da componente pessoal que nos afectou a todos de maneiras diferentes, o nosso doutoramento foi também inevitavelmente afectado: foi preciso aceitar que iriam existir atrasos e alterações ao desenvolvimento do projecto, ajustando o plano, e aceitar a perda de oportunidades e colaborações internacionais já desenvolvidas. Neste ponto, uma palavra de agradecimento ao Técnico pela forma como soube adaptar-se e auxiliar os seus membros.

E há também a expectativa de que vamos ter ao nosso dispor os recursos necessários ao bom desenvolvimento do nosso trabalho. Mediante o centro de investigação a que cada aluno de doutoramento está associado, as experiências podem ser díspares. O Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA), centro de investigação de excelência onde desenvolvemos grande parte dos nossos projectos de doutoramento, faculta-nos a possibilidade de participar em alguns dos mais disruptivos projectos científicos na nossa área, de ter acesso a laboratórios bem equipados e de colaborar com outros centros e universidades internacionais. A multidisciplinaridade do CERENA é uma mais-valia que nos possibilita um contacto próximo com colegas, investigadores e professores de áreas científicas distintas da nossa, permitindo uma partilha de ideias, experiências e conhecimentos abrangente e diversificada.

Voltando ao título deste artigo, o trabalho de um estudante de doutoramento é procurar e transmitir conhecimento e, sim, nós ocupamos lugar, embora o mesmo seja poucas vezes reconhecido na sociedade, e mesmo na academia, durante e após o nosso projecto de doutoramento. Num país em que urge aumentar a competitividade da economia portuguesa e o planeamento a médio/longo prazo, é necessário que a sociedade e a indústria portuguesa aproveitem estes recursos humanos altamente qualificados e que a academia acelere a sua renovação.

 

Estudantes de Doutoramento no Instituto Superior Técnico /  Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA)