Beber do fino em Alqueva ou em Foz Côa


Acontece que a água de Alqueva é do Guadiana e o rio vem do lado de lá da fronteira. E se há acordos que vigoram desde os anos 60 do século passado, também é verdade que chega a haver alturas em que o Tejo se atravessa a pé em plena região das lezírias ribatejanas.


Passados todos estes anos sobre os avanços e recuos e tantas polémicas que antecederam a construção da barragem de Alqueva, a sul, e o cancelamento da barragem de Foz Côa, a norte, vale a pena revisitar ambas as regiões do interior do país, com todas as suas diferenças, para perceber as razões que as justificaram aos olhos do novo tempo em que vivemos. Alqueva, ou o Grande Lago que adotou o nome daquela freguesia de Portel, é hoje a maior reserva de água doce da Europa Ocidental, salvou os produtores ou agricultores portugueses (e não só) que sobrevivem à conta do regadio e transformou a paisagem do Alentejo, antes condenada à seca e à desertificação. Ainda agora, na vizinha Andaluzia, a falta de água para o regadio fez chegar ao parlamento provincial uma proposta de pedido de cedência de água de Alqueva. “Nem pensar”, logo anteciparam como resposta as associações de produtores e agricultores portugueses, pois se a água não chega para assegurar o regadio aos “nossos”, vamos lá agora estar ainda a dar-lhes água a “eles”. Que é como quem diz: a manta é curta, não dá para cobrir da cabeça aos pés. Cada um que se safe com o que tem. Acontece que a água de Alqueva é do Guadiana e o rio vem do lado de lá da fronteira. E se há acordos que vigoram desde os anos 60 do século passado, também é verdade que chega a haver alturas em que o Tejo se atravessa a pé em plena região das lezírias ribatejanas.

Portanto, o melhor é ponderar bem antes de dar uma resposta definitiva, não vá o feitiço voltar-se contra o feiticeiro e, como diz o povo, o melhor é dividir o mal pelas aldeias. Mas uma coisa é certa: o Grande Lago da Europa Ocidental é, já hoje, não só insubstituível como insuficiente. Benditos, pois, os visionários que aprovaram a sua construção em 1957 e todos aqueles que, não obstante tantas barreiras e dificuldades, fizeram com que se tornasse uma realidade.

Já Foz Côa ficou sem barragem e é agora a capital das gravuras rupestres. Vale a pena a visita ao museu e as excursões pelas escarpas com os pré-históricos desenhos. Os passeios são extraordinários e o ar também. Pode ser que ali nunca faça tanta falta a água. Pelo menos, até ver. Além do mais, salvou-se também bom vinho, que, como se dizia no outro tempo, ainda dá de comer a muitos portugueses (e não só).

Beber do fino em Alqueva ou em Foz Côa


Acontece que a água de Alqueva é do Guadiana e o rio vem do lado de lá da fronteira. E se há acordos que vigoram desde os anos 60 do século passado, também é verdade que chega a haver alturas em que o Tejo se atravessa a pé em plena região das lezírias ribatejanas.


Passados todos estes anos sobre os avanços e recuos e tantas polémicas que antecederam a construção da barragem de Alqueva, a sul, e o cancelamento da barragem de Foz Côa, a norte, vale a pena revisitar ambas as regiões do interior do país, com todas as suas diferenças, para perceber as razões que as justificaram aos olhos do novo tempo em que vivemos. Alqueva, ou o Grande Lago que adotou o nome daquela freguesia de Portel, é hoje a maior reserva de água doce da Europa Ocidental, salvou os produtores ou agricultores portugueses (e não só) que sobrevivem à conta do regadio e transformou a paisagem do Alentejo, antes condenada à seca e à desertificação. Ainda agora, na vizinha Andaluzia, a falta de água para o regadio fez chegar ao parlamento provincial uma proposta de pedido de cedência de água de Alqueva. “Nem pensar”, logo anteciparam como resposta as associações de produtores e agricultores portugueses, pois se a água não chega para assegurar o regadio aos “nossos”, vamos lá agora estar ainda a dar-lhes água a “eles”. Que é como quem diz: a manta é curta, não dá para cobrir da cabeça aos pés. Cada um que se safe com o que tem. Acontece que a água de Alqueva é do Guadiana e o rio vem do lado de lá da fronteira. E se há acordos que vigoram desde os anos 60 do século passado, também é verdade que chega a haver alturas em que o Tejo se atravessa a pé em plena região das lezírias ribatejanas.

Portanto, o melhor é ponderar bem antes de dar uma resposta definitiva, não vá o feitiço voltar-se contra o feiticeiro e, como diz o povo, o melhor é dividir o mal pelas aldeias. Mas uma coisa é certa: o Grande Lago da Europa Ocidental é, já hoje, não só insubstituível como insuficiente. Benditos, pois, os visionários que aprovaram a sua construção em 1957 e todos aqueles que, não obstante tantas barreiras e dificuldades, fizeram com que se tornasse uma realidade.

Já Foz Côa ficou sem barragem e é agora a capital das gravuras rupestres. Vale a pena a visita ao museu e as excursões pelas escarpas com os pré-históricos desenhos. Os passeios são extraordinários e o ar também. Pode ser que ali nunca faça tanta falta a água. Pelo menos, até ver. Além do mais, salvou-se também bom vinho, que, como se dizia no outro tempo, ainda dá de comer a muitos portugueses (e não só).