Sismos. Fenómenos são cada vez mais frequentes?

Sismos. Fenómenos são cada vez mais frequentes?


Especialistas dizem que é necessário distinguir os pequenos dos grandes sismos e que são estes últimos que merecem atenção. IPMA diz que “números registados estão dentro dos parâmetros habituais”. 


A terra parece que tem tremido mais, pelo menos tendo em conta as notícias que vão dando nota de abalos com uma frequência preocupante. Mas os especialistas afastam um cenário de alerta, defendendo que esta atividade é normal. Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), “o número de sismos registados estão dentro dos parâmetros habituais”.

Ainda esta segunda-feira ocorreram mais dois na Madeira no espaço de uma hora. O primeiro, de magnitude de 1.8 na escala de Richter, ocorreu a 13 quilómetros de profundidade e foi sentido a sul de câmara de Lobos; o segundo, a norte do Porto Santo, teve uma magnitude de 2.7 a 17 quilómetros de profundidade. Uma semana antes tinha sido no norte do Porto Santo.

Também esta segunda-feira dois sismos de 4.4 e 4.1 foram registados nos Açores no espaço de três minutos. Já a 23 de setembro ocorrera um outro de 2.3, mas na ilha Terceira, um cenário que já se repetira cerca de uma semana antes com a mesma magnitude.

O continente também não tem escapado a esta tendência. No início deste mês foram registados quatro sismos com epicentro em Portugal continental: dois no Algarve, de magnitude 3.7 e 3.9, enquanto outros dois ocorreram nas proximidades de Montemor-o-Novo e de Arouca, de magnitudes 2.6 e 2.5, respetivamente.

Luís Matias, professor de Geofísica da Universidade de Ciências e investigador do Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa, já veio esclarecer que não há indícios científicos que sugiram uma relação direta entre os sucessivos sismos, lembrando que “sismos pequenos podem ocorrer em qualquer lugar”. O especialista disse ainda à CNN que “a litosfera da terra está sujeita a forças constantes e, em pontos que não conseguimos prever, a tensão acumulada pode levar a pequenos abalos sísmicos”, referindo também que “é importante entender a diferença entre os pequenos sismos, como os registados no Algarve, e os grandes sismos, que podem representar uma ameaça significativa”. Nesse sentido, sublinhou: “Os grandes sismos, normalmente associados às grandes falhas tectónicas, são os que merecem a nossa atenção especial.” Essas falhas, como a famosa falha de San Andreas na Califórnia (EUA), são “locais onde as placas tectónicas estão sob grande tensão”, podendo eventualmente gerar um terremoto de grande magnitude.

É certo que estas ocorrências ganham maiores contornos depois daquilo a que se assistiu em Marrocos, provocando a morte a quase três mil pessoas e mais de 5550 feridos. Dias mais tarde foi a vez de uma réplica de 4.6. E as notícias não são animadoras. Investigadores da Universidade de Granada e da Universidade de Jaén revelaram ao El Mundo que “há uma possibilidade elevada de que se produzam réplicas do terramoto [de Marrocos] durante meses”. A razão é simples: a região é instável e os tremores de terra parecem vir tanto da falha a norte como da falha a sul da cordilheira Atlas.

Ainda assim, este não foi dos mais graves dos últimos tempos. Em fevereiro deste ano, dois terramotos com magnitude superior a 7 na escala Richter mataram mais de 18 mil pessoas na Turquia e na Síria.

 

Zonas com maior risco

Alguns dos países mais propensos a terremotos incluem o Japão, o México, as Filipinas, a Indonésia, a Índia, o Irão, o Peru e o Chile. A somar a esta lista há que contar com a zona da Califórnia, nos Estados Unidos. Estes países, de acordo com os investigadores, estão localizados nas bordas das placas tectónicas, onde as forças geológicas são mais intensas e propensas a causar terremotos.

Em relação a Portugal, um estudo da Universidade de Évora analisou o mapa do passado dos sismos que ocorreram no nosso país e concluiu que a região de Lisboa e arredores, o Norte da costa alentejana e o Algarve são as zonas mais sensíveis a estes fenómenos. E alertou para o facto de as áreas de maior concentração demográfica coincidirem com as zonas com intensidades sísmicas observadas mais elevadas. Uma situação que, “conjugada com a inadequada capacidade de grande parte do nosso edificado resistir satisfatoriamente a fortes solicitações sísmicas”, coloca “uma parte importante da população portuguesa numa situação de risco sísmico considerável”.

É certo que é preciso recuar a 1755 para encontrarmos o maior sismo que ocorreu em Lisboa, resultando na destruição quase completa da cidade, especialmente na zona da Baixa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal.

Já na memória de alguns portugueses está o de 1969, que teve o seu epicentro a 200 quilómetros de Sagres, alcançando os 7,9 na escala de Richter. Treze pessoas morreram e os estragos foram também elevados, especialmente no Sul do país. Na zona de Lisboa registou-se a queda de chaminés e de paredes menos consolidadas, e diversas viaturas sofreram danos sérios depois de atingidas por destroços. Mais grave foi a situação no Algarve, onde, além de situações semelhantes às relatadas em Lisboa, também ruíram cerca de 400 casas.

 

Impactos

A par do rasto de destruição, os sismos também têm importantes impactos no planeta e os de grande amplitude podem tornar os dias mais curtos. Trata-se de milissegundos de diferença, mas são mudanças permanentes que com o tempo podem obrigar a ajustamentos na tecnologia que utilizamos.

Por exemplo, o sismo do Chile, em 2010, deslocou o eixo da terra em cerca de 8 centímetros e terá também tornado o planeta um pouco mais pequeno. O terramoto ainda acelerou a rotação da terra em alguns microssegundos, encurtando a duração dos dias. Já em 2004, com o sismo da Ásia, verificou-se um fenómeno semelhante, tendo ficado os dias mais pequenos cerca de sete microssegundos.