Na luta entre o nacional cançonetismo e a canção de intervenção damos a segunda como vencedora mas tendemos a relegá-la para o passado. Em Portugal os excessos da luta por via da canção (“A cantiga é uma arma. […] Tudo depende da bala e da pontaria.” explicava, ainda antes do 25 de Abril, José Mário Branco) deram origem, já neste século, a um sub-género de sátira, os “Homens da Luta”, Jel e Falâncio. Noutras geografias a canção de protesto ainda é popular, com renovação de artistas, géneros e públicos. Nos EUA manteve narrativas baseadas nas dificuldades económicas dos habitantes da ruralidade (Bluegrass em relação aos habitantes dos Apalaches, posteriormente disseminada para o oeste por via das migrações provocadas pela Grande Depressão), numa identidade linguística como a dos francófonos na Luisiana (Zydeco), numa identidade étnica e racial nascida no Deep South mas que se estendeu ao norte dos EUA, seguindo as migrações internas de trabalhadores (os Blues são uma mescla de espirituais, canções de jorna e baladas) e na pluralidade da Country Music, cuja unidade, assente nas classes trabalhadoras, “blue collar”, se mantém.
A exposição da música “local” aos mecanismos de mercado desperta um interesse maiúsculo pela persona do artista, interesse que muitas vezes ultrapassa o interesse pela música. A fama tem um custo e a autenticidade é uma das primeiras vítimas. Se a mercantilização se dirige a canções com uma preocupação social então as tentativas de apropriação política são imediatas. Nos EUA de hoje, em que a Kulturkampf está quase a transformar-se em guerra civil, o artista cuja obra toca a corda sensível dos concidadãos entra, quer queira, quer não queira, directamente para a pré-campanha das eleições presidenciais de 2024.
Se o artista canta as dificuldades contemporâneas do proletário branco no sul dos EUA estão criadas as condições para fazer da canção uma trova de Bandarra, com profecias ao sabor de quem ouve. Oliver Anthony fê-lo, no dia 8 de Agosto:
I've been sellin' my soul, workin' all day
Overtime hours for bullshit pay
So I can sit out here and waste my life away
Drag back home and drown my troubles away
It's a damn shame what the world's gotten to
For people like me and people like you
Wish I could just wake up and it not be true
But it is, oh, it is
Livin' in the new world
With an old soul
These rich men north of Richmond, Lord knows they all
Just wanna have total control
Wanna know what you think, wanna know what you do
And they don't think you know, but I know that you do
'Cause your dollar ain't shit and it's taxed to no end
'Cause of rich men north of Richmond
I wish politicians would look out for miners
And not just minors on an island somewhere
Lord, we got folks in the street, ain't got nothin' to eat
And the obese milkin' welfare
Well, God, if you're 5-foot-3 and you're 300 pounds
Taxes ought not to pay for your bags of fudge rounds
Young men are puttin' themselves six feet in the ground
'Cause all this damn country does is keep on kickin' them down
Lord, it's a damn shame what the world's gotten to
For people like me and people like you
Wish I could just wake up and it not be true
But it is, oh, it is
Livin' in the new world
With an old soul
These rich men north of Richmond, Lord knows they all
Just wanna have total control
Wanna know what you think, wanna know what you do
And they don't think you know, but I know that you do
'Cause your dollar ain't shit and it's taxed to no end
'Cause of rich men north of Richmond
I've been sellin' my soul, workin' all day
Overtime hours for bullshit pay