Miami também é futebol

Miami também é futebol


David Beckham convenceu Lionel Messi e os seus amigos a mudarem-se para a Florida e o Inter Miami tornou-se o clube da moda nos Estados Unidos. As novas estrelas de South Beach chegaram para brilhar.


Miami é mundialmente conhecida pelas praias paradisíacas, pelo luxo e glamour, mas também pela agitada vida noturna. Quem lá vai e quem lá vive, fá-lo por prazer. Agora, começa a tornar-se famosa pelo soccer, designação americana para o futebol, e pela presença de estrelas vindas da Europa. 

David Beckham terminou a carreira em maio de 2013, num inofensivo jogo entre o PSG e o Brest (3-1). Poucos minutos após o apito final, as lágrimas de despedida secaram e deram lugar a um discurso empreendedor. «Nada vai substituir o desporto que eu amo. Pretendo começar uma nova aventura e estou muito animado com o futuro», afirmou o ex-internacional inglês. 

A história do Inter Miami começou em 2007, quando David Beckham chegou aos Estados Unidos para jogar nos Los Angeles Galaxy. A estrela do futebol mundial tinha exigido no contrato uma cláusula pouco comum que era a possibilidade de criar uma equipa para disputar o campeonato americano, designado por Major League Soccer (MLS), comprando um franchising por 25 milhões de dólares (o preço normal para criar um franchising rondava os 150 milhões). Beckham pensou que o seu estatuto de ícone lhe facilitaria a vida, mas estava enganado e chegou a duvidar da viabilidade do projeto: «Um dia estava ao telefone com o Don Garber [comissário da MLS] e ele disse-me que seria difícil». O encontro com Jorge Mas e Jose, dois importantes homens de negócios da Florida, mudou tudo. Em 2018, após seis anos de negociações, é oficialmente atribuído ao grupo Miami Beckham United a possibilidade de ter um clube para competir na MLS a partir de 2020. Estava concretizado o desejo de ter uma equipa de futebol, e o seu discurso passou a estar centrado no futuro. «Quero deixar uma marca e que os meus filhos possam dizer daqui a 20 anos que o pai ajudou a construir este clube».

Projeto com asas

A partir desse momento faltava um nome, um emblema e as cores distintivas do futuro clube. A escolha foi cuidadosamente feita para reforçar a ligação com a cidade. O nome escolhido foi Club Internacional de Fútbol Miami, bem sul-americano para uma maior identificação com a população da cidade: a área urbana tem mais de seis milhões de habitantes, cerca de 70% são hispânicos e nutrem grande paixão pelo futebol. O emblema consiste num brasão de três pontas e um anel onde encontramos duas garças. As pernas das garças estão conectadas e formam a letra “M”, a inicial do nome da cidade. Junto às garças está um eclipse que simboliza o facto de Miami ser uma cidade que vive dia e noite, e os sete raios de sol são uma referência ao número com que David Beckham jogava. 

As cores do clube são o rosa – a cor predominante do nascer do sol em Miami – o preto e o branco. Até há pouco tempo a cor rosa era marginalizada no mundo do futebol. Só que Beckham e os criativos do clube consideraram que era a cor que melhor representava o Inter Miami, além de ser uma marca diferenciadora relativamente à maioria das equipas nos EUA e no mundo. O lema do clube é “Liberdade. Unidade. Sorte”. 

Antes de começar a competir tiveram um conflito de interesses com o FC Internazionale Milano, que reivindicava o direito de marca “Inter” e queria que o nome fosse protegido em solo americano. A MLS não teve o mesmo entendimento e os dois clubes enfrentaram-se em tribunal. Os advogados da equipa de Miami defenderam o nome dizendo que existem outros clubes a usar a designação “Inter”, “Real” e “City” e ninguém pediu exclusividade. Posto isto, os dois clubes chegaram a acordo e mantiveram os respetivos nomes.

O Inter Miami joga no DRV PNK Stadium, com 18 mil lugares. É a casa temporária até a conclusão do Miami Freedom Park, com 25 mil lugares, prevista para 2025, cuja cobertura representa as asas de uma garça. Foi apresentado como o mais moderno em termos tecnológicos e tem um custo de mil milhões de euros. Fica inserido num complexo com 131 hectares, que integra um polo tecnológico, restaurantes, um hotel com 750 quartos e uma zona comercial.

A liga norte-americana tem 29 equipas e encontra-se dividida na Conferência Leste (15 equipas) e Oeste (14 equipas). Outra particularidade é que não há subidas nem descidas de divisão, e esse facto é um alívio para o Inter Miami, que ocupa, neste momento, o 15.º posto. Os sete primeiros classificados de cada conferência disputam o playoff para apuramento do campeão norte-americano.

Embora tenha sido fundado em 2018, o Inter Miami só fez o primeiro jogo em março de 2020 – foi uma estreia infeliz já que perdeu (0-1) com o Angeles FC. A primeira grande estrela da equipa foi o argentino Gonzalo Higuaín, que tinha deixado a Juventus. Depois de quatro derrotas e um hiato de quatro meses devido à pandemia, a equipa rosa conquistou sua primeira vitória, em agosto de 2020, ao vencer o rival Orlando City (3-2). A grande rivalidade deve-se ao facto de as duas equipas pertencerem ao estado da Florida, as partidas são conhecidas pelo “Clássico do Sol”. As três primeiras épocas foram bastantes modestas em termos de resultados, mas os responsáveis do clube já assumiram que querem rivalizar com o New York Red Bulls, New York City e Los Angeles Galaxy, por isso começaram a investir no plantel. 

Depois de um início de época complicado, o Inter Miami tem conseguido fazer bons resultados e volta a fazer sonhar os seus adeptos. Neste momento está a disputar a Leagues Cup, mas o grande objetivo é a MLS, que regressa no final de agosto. A equipa treinada pelo argentino Tata Martino tem uma missão difícil para se qualificar para o playoff, neste momento tem 12 pontos de atraso e faltam disputar 12 jogos. Mas com Messi e Cia tudo é possível.

Messi e os amigos

Depois de muitos rumores sobre transferências fantásticas, Cristiano Ronaldo foi um dos nomes falados, chegou finalmente a grande estrela: Lionel Messi, com um vencimento anual de 60 milhões de euros. «É um dos maiores acontecimentos na história do desporto americano. Estamos a falar do maior mercado desportivo do mundo. Trazer o Messi para o Inter Miami, para a MLS, após vencer o Mundial, para uma equipa que tem apenas três anos, é uma conquista incrível», disse Beckham. O presidente do Inter contou a alegria que sentiu quando foi confirmada a contração de Messi. «Quando recebi a chamada, senti o mesmo que sentia quando entrava em campo em Old Trafford ou em Wembley. Acabámos de vencer toda a concorrência ao contratar o maior jogador de futebol de todos os tempos. Ainda fico com pele de galinha ao falar disto», confessou. Beckham revelou ainda que Messi era um desejo antigo: «Há dez anos, num jantar com o Jorge Mas disse que precisávamos que o Messi viesse para o nosso clube». 

O campeão do mundo tornou-se a principal atração do campeonato. Os dois primeiros jogos foram impressionantes e já conquistou os seus colegas. No jogo de estreia marcou o golo da vitória (2-1) sobre o Cruz Azul já nos descontos, no segundo jogo marcou dois golos na goleada (4-0) contra o Atlanta. «Sim, ele é o melhor jogador do mundo. É muito criativo, faz o que quer com a bola e toma sempre as decisões certas. Ele faz com os outros jogadores sejam ainda melhores», afirmou o guarda-redes Drake Callender. Mas Messi não está sozinho nesta aventura. Outros amigos de longa data como o médio Sergio Busquets e o defesa esquerdo Jordi Alba juntaram-se à estrela argentina. Um trio de luxo que já tinha jogado juntos na época de ouro do Barcelona de Pep Guardiola.