Nota prévia: Seria altamente desejável que o episódio do veto presidencial e a reapreciação que o Governo fez das reivindicações dos professores (talvez a classe pública mais privilegiada e menos eficaz) acabasse mesmo com a sucessão de greves e boicotes políticos irresponsáveis. Aparentemente, Marcelo conseguiu que o Governo não considerasse definitivamente fechada a questão da reposição do tempo de serviço. Costa cedeu pouco e deixou uma frincha junto à porta. A manutenção do clima de guerra civil ao nível escolar iria agravar danos já potencialmente mais graves que os da pandemia. E eles foram gigantescos em Portugal. Sobretudo quando comparados com os outros países da União Europeia, já recuperados das aprendizagens perdidas. O comportamento arruaceiro de certos professores e a falta de nível nas palavras de ordem e até nas vestes são um incentivo ao desmazelo e à indisciplina natural dos adolescentes.
1. Mesmo quem não foi tocado pela felicidade de ter fé, tem de sentir o ambiente doce e sereno instalado em Lisboa, com a chegada das sucessivas levas de peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Há muito para dizer a respeito de sobrecustos e ajustes diretos. É também provável que não se chegue ao tal milhão e meio de peregrinos de que se falava há um ano. As contas do retorno não serão tão fabulosas como alguns proclamam, desde logo porque estes turistas são miúdos com limitada capacidade de compra. Mas há o prazer de ver os jovens felizes na sua convivência pacífica e a esperança da imagem positiva que poderão projetar de Portugal. Há, sobretudo, a honra de receber novamente o Papa Francisco na sua genuinidade carinhosa. É impressionante ver a forma como novos e velhos se voluntariaram para a JMJ, a maior concentração mundial da Igreja Católica e o mais importante encontro de culturas católicas e cristãs. Tecnicamente, a jornada só começa hoje. Mas o que já sucedeu é único. Há que ter esperança de que continue bonita a festa, pá! Há, para já, um ambiente descontraído e suave em Lisboa e noutros sítios do país. Há alegria, comprometimento e um espírito fraternal. É importante recordar que não foi o Papa Francisco que se impôs. Foram o governo e a Igreja de Portugal que o convidaram, a ele, e a esta multidão. Lisboa não é uma megapolis como Paris, Madrid, Manila e muitas outras. Portugal é um país médio e bastante impreparado infraestruturalmente para o quotidiano e, por maioria de razão, para este megaevento, o maior que alguma vez organizámos. Daí que os incómodos sejam grandes e afetem mais diretamente a população do que noutras paragens. Temos de aprender, se o balanço não for positivo, a não dar mais passos maiores do que a perna. Terá de haver uma reflexão e um apuramento sério, finda a JMJ. Agora é tempo de desejar as boas vindas aos jovens. Desfrutem! E tornem-se seres humanos melhores, mais generosos e mais responsáveis do que nós, os mais velhos.
2. Um suposto artista que dá pela autoatribuída alcunha de Bordalo II (coitado do genuíno) fez um número publicitário idiota. Desenrolou no altar-palco do Parque Tejo uma passadeira feita com imagens de notas de 500 euros. A palhaçada pretendia protestar contra os contratos feitos para erguer as estruturas da JMJ, grande parte dos quais por ajustes diretos (o que é lamentável). Ora, logo se soube que Bordalo II (e sobretudo de segunda) é um grande especialista em abichar subsídios, designadamente sem concurso. Foram cerca de 700 mil euros que a criatura já deglutiu como empresário cultural de sabe-se lá o quê, boa parte naquela zona. Um grande lambão, portanto! O mais grave é que o parasitário e suposto artista se infiltrou no estaleiro disfarçado de trabalhador, coadjuvado por alguns acólitos. Furaram a precária segurança. Transportaram a passadeira com o mesmo à vontade com que poderiam ter levado uma bomba. As múltiplas autoridades remeteram as culpas de umas para as outras, como é hábito entre nós. Carlos Moedas e o ministro José Luís Carneiro tiveram de desvalorizar a quebra de segurança e o próprio presidente Marcelo o fez no domingo. A verdade é que a vigilância devia ser quase nula naquela altura. O signatário desta crónica circulou à vontade como mirone pelo estaleiro do altar do Parque Eduardo VII na quinta-feira e não ia travestido de nada, é, portanto, uma falha securitária estrutural. Quanto ao Bordalo (de segunda) deseja-se que faça uma ação mediática tão bem sucedida na Festa do Avante, uma vez que um democrata daquele calibre há de condenar a invasão da Ucrânia. Ou será que tem de se manter num quadrante limitado para ter tachos e prebendas? É provável.
3. Mamadou Ba e um grupo de adeptos do sectarismo revisionista e provocador “woke” lançou um manifesto radical. Exigem um conjunto de compensações pelo colonialismo, designadamente a escravatura. Impreparados, nem reconhecem que, muito antes dos europeus chegarem, já em África e na Arábia se traficavam escravos há milhares de anos. E também não parecem saber que foi o homem branco que aboliu a escravatura e depois a escravidão, por razões humanitárias e económicas, diga-se. As exigências do grande Mamadou e respetivos seguidores são de toda a espécie, desde isenções de propinas para afrodescendentes e africanos, até à possibilidade de censurarem livros escolares. O que é curioso é que Mamadou é português por nacionalidade adquirida. Lamentavelmente não há uma lei que permita retirar-lhe tal privilégio, uma vez que a pediu por razões oportunistas. Também não se lhe conhece propriamente modo de vida, a não ser a dependência do próprio Estado, através de organizações extremistas.
4. Cada vez que os bancos com atividade em Portugal (na prática são todos estrangeiros) mostram as suas contas, verifica-se que os seus lucros aumentam pela simples operação de cobrarem juros altos e remunerarem os depósitos de forma ridícula. Essa diferença permitiu-lhes ganhar 1800 milhões de euros em seis meses. Muito desse lucro pornográfico vem dos empréstimos à habitação, ou seja, é dinheiro relativamente fácil. Os portugueses nunca foram bons banqueiros. As histórias de investimentos deploráveis, de falências e fraudes são inúmeras. Hoje não temos nenhum. Existem apenas gestores portugueses que são meros bancários emproados, cheios de certezas absolutas. Os donos, muitas vezes fundos, nem sabem onde isto fica nem quem são esses empregados, salvo os espanhóis. Uma banca menos agiota e mais ligada à pulsão económica é coisa com que infelizmente os bons empresários portugueses não podem contar.
5. Foi criado à esquerda um “Think Tank “que é uma espécie de união dos saudosistas da geringonça. O núcleo fundador reúne sobretudo a ala esquerda chique e bem na vida do PS e a ala caviar do Bloco. Sente-se ali um embrião do que pode vir a ser uma vaga “pedronunista” dentro de uma esquerda alargada. Seria um erro Pedro Nuno Santos dar muito gás à grupeta. Esse foi o caminho do Syriza da Grécia, uma soma de vários partidos que deu ainda mais cabo do país. Tsipras foi levado num andor e acabou copiosamente derrotado em eleições sem conseguir libertar a Grécia de um gigantesco resgate. O seu mentor económico, Varoufakis, desapareceu no seu anafado conforto burguês. Pedro Nuno Santos conhece essa estória toda e é inteligente. Já terá percebido que há políticas suicidárias que convém evitar. Basta olhar para o que aconteceu na Grécia e para o estado de Portugal.
6. Apesar da natação ser a segunda grande modalidade olímpica, os recentes mundiais foram praticamente ignorados nos noticiários televisivos. O mesmo acontece com outros desportos. Toda a atenção é dedicada ao futebol, que já não é um desporto há décadas. É um negócio e um espetáculo. O súbito interesse pelo futebol feminino é um arrastamento. Está-se a apostar nele como mais um negócio mundial, dado o seu potencial mediático. Com tantos reguladores internos, externos e sábios experts, talvez valha a pena ponderar a imposição de se criar blocos informativos dos verdadeiros desportos nos grandes jornais televisivos, designadamente na RTP. Possivelmente até dava vitalidade às anémicas audiências.
7. Longe vão os tempos em que no Alentejo se gracejava, dizendo: “Primeiro de agosto, primeiro de inverno”. Com o novo clima, é mais provável entrarmos na fase do verão que vai até novembro. O progresso e a inteligência hão de nos matar.