Histeria climática ou competitividade e adaptação?


A dramatização excessiva torna as estratégias de combate às alterações climáticas mais difíceis e aparentemente inúteis. Desmobiliza e desencoraja.


DRAMATIZAÇÃO CLIMÁTICA

Os media adoram dramatizar. Chamar a atenção. A histeria das alterações climáticas com que nos massacram diariamente é sedutora mas contraproducente e, muitas vezes, cientificamente duvidosa. A dramatização satura e nada resolve. É um filão para a preguiça editorial, a conveniência política e o controle da população. 

Vejamos 3 noticias do passado dia 27jul:

1. “A era do aquecimento global acabou, a era da ebulição global chegou” – António Guterres. 

2. “O mês de julho de 2023 deverá ser o mês mais quente alguma vez registado, depois de junho também ter batido recordes de calor” – Copernicus Climate Change Service (C3S).

3. “Circulação no Atlântico pode entrar em colapso já em 2025 e afectar o clima na Terra” – artigo do Expresso referindo um novo estudo publicado … na Nature Communications.

No entanto:

1. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), no seu recente relatório sobre “Climate Change Information for Regional Impact and for Risk Assessment” (IPCC_AR6_WGI_Chapter12) em que faz a avaliação da relação entre vários tipos de clima extremos e mudanças climáticas neste século, afirma que:

• Um aumento nos extremos de calor surgiu ou surgirá nas próximas três décadas com alta confiança nas regiões tropicais e na maioria das regiões de latitude média, mas apenas com confiança média nos outros lugares.

• Há baixa confiança

– no surgimento de fortes precipitações e frequência de cheias pluviais e fluviais.

– na ocorrência de frequência de seca, em todas as regiões.

– na atribuição à mudança climática induzida pelo homem das tendências observadas da velocidade média do vento à superfície. 

• Além da variabilidade natural, ainda não emergiu nenhum sinal de mudança climática  para os seguintes fenómenos: precipitação intensa e inundações pluviais, deslizamentos de terra, seca (todos os tipos), fortes tempestades de vento, ciclones tropicais, tempestades de areia e poeira, queda de neve pesada e tempestades de gelo, avalanches de neve, inundações costeiras e ondas de calor marinhas.

2. De acordo com o último número do Economist, em 2023 não devem ser ultrapassados os picos de temperatura do ano passado. A surpresa deste ano é o facto de as ondas de calor terem chegado tão cedo, tão altas e tão duradoras.

A sua causa estará nas temperaturas excecionalmente altas dos oceanos, nas latitudes baixas e médias, e que desde 13Mar último veem batendo os recordes diários de 1979. Estes, explicar-se-ão por um aumento inesperado do CO2 e do metano na água, para além dos efeitos do El Niño (a iniciar) e do vulcão submarino Hunga-Tonga (cuja erupção ocorreu em 2022 e é a maior desde o Pinnatubo em 1991).

 

3. O mais recente relatório do IPCC considera pouco provável o colapso da Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (AMOC) durante este século.

Os factos são claros. A mudança climática e o aquecimento global são reais e, em grande parte, resultado da atividade humana. Mas o planeta não está prestes a se tornar inabitável para a humanidade, nem nenhuma pessoa séria o afirma, a começar pelo IPCC. Só os profetas do apocalipse nos prometem o fim do mundo. 

A dramatização excessiva torna as estratégias de combate às alterações climáticas mais difíceis e aparentemente inúteis. Desmobiliza e desencoraja. Então, de que adiantaria mobilizar recursos consideráveis, ao longo de décadas, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, se estivéssemos condenados de qualquer maneira?

. Quando uns caem no desespero, outros chegam a soluções extremas e autoritárias igualmente absurdas. Se o fim do mundo está próximo, tudo se justifica, reduzir as emissões de CO2 a qualquer preço ou assumir formas cada vez mais violentas de ecoterrorismo.

 

A TRANSIÇÃO CLIMÁTICA 

E ENERGÉTICA VAI SER LONGA 

E EXIGE ADAPTAÇÃO

“Qualquer política realista de transição climática e energética levará décadas para dar frutos. Mesmo que reduzamos drasticamente as nossas emissões nos próximos anos, a quantidade total de CO2 na atmosfera continuará a aumentar. No ano passado, 82% da energia consumida no mundo ainda foi de origem fóssil. Isso é algo que os países ocidentais têm dificuldade em admitir e os ativistas ainda mais, mas não temos o nosso destino climático nas nossas mãos. E ainda continuará a crescer enquanto os países ricos representarão uma parcela cada vez menor das emissões globais nos próximos anos e décadas. Entre 1989 e 2019, as emissões antropogénicas aumentaram 67%. Países ricos, Europa, Estados Unidos, Japão, Canadá e Austrália, reduziram suas emissões per capita em 4%. Ao mesmo tempo, as dos indianos foram multiplicadas por 4,3 e as dos chineses por 4,8.”.

Neste contexto, a transição climática e energética não é uma prova de velocidade, mas de fundo a exigir muita resiliência e capacidade de adaptação.

Portugal deverá ter uma transição eficiente e uma adaptação sustentável, para segurança da população e garantia da competitividade da economia. Ao invés, acotovela-se e esgota-se para a fotografia da 1ª volta e a medalha do jockey.ex- 

 

Administrador da GDP e REN; ex-secretário de Estado da Energia; Subscritor do Movimento Por Uma Democracia de Qualidade e Subscritor do Manifesto Cívico contra o Atraso Económico e Social.

Histeria climática ou competitividade e adaptação?


A dramatização excessiva torna as estratégias de combate às alterações climáticas mais difíceis e aparentemente inúteis. Desmobiliza e desencoraja.


DRAMATIZAÇÃO CLIMÁTICA

Os media adoram dramatizar. Chamar a atenção. A histeria das alterações climáticas com que nos massacram diariamente é sedutora mas contraproducente e, muitas vezes, cientificamente duvidosa. A dramatização satura e nada resolve. É um filão para a preguiça editorial, a conveniência política e o controle da população. 

Vejamos 3 noticias do passado dia 27jul:

1. “A era do aquecimento global acabou, a era da ebulição global chegou” – António Guterres. 

2. “O mês de julho de 2023 deverá ser o mês mais quente alguma vez registado, depois de junho também ter batido recordes de calor” – Copernicus Climate Change Service (C3S).

3. “Circulação no Atlântico pode entrar em colapso já em 2025 e afectar o clima na Terra” – artigo do Expresso referindo um novo estudo publicado … na Nature Communications.

No entanto:

1. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), no seu recente relatório sobre “Climate Change Information for Regional Impact and for Risk Assessment” (IPCC_AR6_WGI_Chapter12) em que faz a avaliação da relação entre vários tipos de clima extremos e mudanças climáticas neste século, afirma que:

• Um aumento nos extremos de calor surgiu ou surgirá nas próximas três décadas com alta confiança nas regiões tropicais e na maioria das regiões de latitude média, mas apenas com confiança média nos outros lugares.

• Há baixa confiança

– no surgimento de fortes precipitações e frequência de cheias pluviais e fluviais.

– na ocorrência de frequência de seca, em todas as regiões.

– na atribuição à mudança climática induzida pelo homem das tendências observadas da velocidade média do vento à superfície. 

• Além da variabilidade natural, ainda não emergiu nenhum sinal de mudança climática  para os seguintes fenómenos: precipitação intensa e inundações pluviais, deslizamentos de terra, seca (todos os tipos), fortes tempestades de vento, ciclones tropicais, tempestades de areia e poeira, queda de neve pesada e tempestades de gelo, avalanches de neve, inundações costeiras e ondas de calor marinhas.

2. De acordo com o último número do Economist, em 2023 não devem ser ultrapassados os picos de temperatura do ano passado. A surpresa deste ano é o facto de as ondas de calor terem chegado tão cedo, tão altas e tão duradoras.

A sua causa estará nas temperaturas excecionalmente altas dos oceanos, nas latitudes baixas e médias, e que desde 13Mar último veem batendo os recordes diários de 1979. Estes, explicar-se-ão por um aumento inesperado do CO2 e do metano na água, para além dos efeitos do El Niño (a iniciar) e do vulcão submarino Hunga-Tonga (cuja erupção ocorreu em 2022 e é a maior desde o Pinnatubo em 1991).

 

3. O mais recente relatório do IPCC considera pouco provável o colapso da Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (AMOC) durante este século.

Os factos são claros. A mudança climática e o aquecimento global são reais e, em grande parte, resultado da atividade humana. Mas o planeta não está prestes a se tornar inabitável para a humanidade, nem nenhuma pessoa séria o afirma, a começar pelo IPCC. Só os profetas do apocalipse nos prometem o fim do mundo. 

A dramatização excessiva torna as estratégias de combate às alterações climáticas mais difíceis e aparentemente inúteis. Desmobiliza e desencoraja. Então, de que adiantaria mobilizar recursos consideráveis, ao longo de décadas, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, se estivéssemos condenados de qualquer maneira?

. Quando uns caem no desespero, outros chegam a soluções extremas e autoritárias igualmente absurdas. Se o fim do mundo está próximo, tudo se justifica, reduzir as emissões de CO2 a qualquer preço ou assumir formas cada vez mais violentas de ecoterrorismo.

 

A TRANSIÇÃO CLIMÁTICA 

E ENERGÉTICA VAI SER LONGA 

E EXIGE ADAPTAÇÃO

“Qualquer política realista de transição climática e energética levará décadas para dar frutos. Mesmo que reduzamos drasticamente as nossas emissões nos próximos anos, a quantidade total de CO2 na atmosfera continuará a aumentar. No ano passado, 82% da energia consumida no mundo ainda foi de origem fóssil. Isso é algo que os países ocidentais têm dificuldade em admitir e os ativistas ainda mais, mas não temos o nosso destino climático nas nossas mãos. E ainda continuará a crescer enquanto os países ricos representarão uma parcela cada vez menor das emissões globais nos próximos anos e décadas. Entre 1989 e 2019, as emissões antropogénicas aumentaram 67%. Países ricos, Europa, Estados Unidos, Japão, Canadá e Austrália, reduziram suas emissões per capita em 4%. Ao mesmo tempo, as dos indianos foram multiplicadas por 4,3 e as dos chineses por 4,8.”.

Neste contexto, a transição climática e energética não é uma prova de velocidade, mas de fundo a exigir muita resiliência e capacidade de adaptação.

Portugal deverá ter uma transição eficiente e uma adaptação sustentável, para segurança da população e garantia da competitividade da economia. Ao invés, acotovela-se e esgota-se para a fotografia da 1ª volta e a medalha do jockey.ex- 

 

Administrador da GDP e REN; ex-secretário de Estado da Energia; Subscritor do Movimento Por Uma Democracia de Qualidade e Subscritor do Manifesto Cívico contra o Atraso Económico e Social.