Hospital do oeste


Há muito que a saúde pública no Oeste está no limiar do insustentável, cada vez mais acentuado pelo envelhecimento da população, pela pressão dos novos residentes e pelas dinâmicas sazonais de atração de pessoas.


O Oeste é um território fantástico. Querer resumir a sua existência e as opções políticas de gestão à geografia, desligada de tudo o resto, é persistir na indiferença a que o Estado votou este território durante anos a fio, entregue a um desvario de tutelas em função das áreas temáticas, ora relacionando-se para Leiria a Norte, ora para Santarém a Este, mas também para Lisboa a Sul, sempre com insuficiente atenção política e investimento público. A esquizofrenia da existência geográfica, sem ponderação do acervo histórico, do património, das pessoas e das dinâmicas, sempre deu disparate. E está na iminência de voltar a dar, no processo gerido com os pés da construção do novo hospital do Oeste.

Afirmar o Oeste é e sempre foi difícil. Recordo a dificuldade que tive em organizar umas jornadas parlamentares do Partido Socialista em Óbidos, com programas de deslocações nos círculos eleitorais de Leiria e Lisboa. Os poderes partidários instalados ficaram aziados, mas a iniciativa política realizou-se, com os deputados em peso, vários membros do governo e a presença do primeiro-ministro.

Mas, voltemos ao presente. Entre o supetão e a calada, o Governo, pela voz do ministro da Saúde, anunciou a localização do novo hospital do Oeste, assente apenas nas existências geográficas, as distâncias, com mudança de regras do jogo a meio do processo e sem ter em conta outras realidades e dinâmicas que são relevantes para a configuração das opções políticas. Aliás, se o critério da distância fosse sacrossanto para a implantação de infraestruturas essenciais para as pessoas e para os territórios, há muito que se tinha escolhido a localização do novo aeroporto de Lisboa, optando pela solução mais próxima do Aeroporto General Humberto Delgado.

Sendo certo que escolher nunca é fácil e que há uma congénita dificuldade do Oeste em afirmar uma visão integrada que supere a mera existência geográfica, mesmo com uma comunidade intermunicipal, que soma umbigos à procura de oportunidades de financiamento para os respetivos territórios, o anúncio do Governo é um desastre para a coesão e as dinâmicas existentes.

Há muito que a saúde pública no Oeste está no limiar do insustentável, cada vez mais acentuado pelo envelhecimento da população, pela pressão dos novos residentes e pelas dinâmicas sazonais de atração de pessoas.

A oferta pública existente nas Caldas da Rainha, em Peniche e em Torres Vedras é claramente insuficiente, apesar do esforço dos profissionais.

Neste cenário, o que sinaliza o anúncio do Governo, vinculado ao estudo da Nova IMS e aos interesses da atual estrutura de poder que se mexeram de forma mais eficaz, onde não faltou a criação de um grupo de trabalho que alterou os pressupostos da escolha e ignorou um parecer do Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade de Aveiro.

Sinaliza que a geografia que serviu de critério para instalar nas Caldas da Rainha a sede da Comunidade Intermunicipal do Oeste, a Delegação Regional do Oeste de Agricultura e Pescas e outros serviços regionais desconcentrados do Estado já não serve, sem que tenham ocorrido alterações substanciais das realidades e dinâmicas locais.

Sinaliza ainda que o Estado admite que, nos processos de escolha, possa ser permeável a interesses circunstanciais e a mudanças nos pressupostos das escolhas durante as fases de configuração da vontade política, ao alterar o universo de utentes a integrar no novo equipamento.

Mas vai mais longe, dá-se ao luxo de considerar uma opção de localização, no Bombarral, que viola o Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo, a Reserva Ecológica Nacional e a Reserva Agrícola Nacional, como se o Estado não devesse ser o primeiro a dar o exemplo no cumprimento da lei.

A tragédia maior é que, ao alterar o universo de utentes a meio do processo, ao focar-se apenas na geografia das distâncias e ao desconsiderar as dinâmicas existentes no território, onde se integram as realidades locais de serviços, de alojamento e de afirmação de marcas de identidade diferenciadoras, o Governo projeta-se para uma dimensão soviética de planeamento quinquenal, primeiro a opção política, depois trata-se do resto. De uma penada, sem visão integrada do Oeste, o Governo destrói pontes, acicata ânimos e deslaça a coesão existente, quando podia integrar este anúncio num conjunto de investimentos a realizar (mesmo!) nos vários pontos do território em causa.

A inconsistência do processo e do anúncio da opção vai gerar litigância em torno da escolha e vai ter relevância eleitoral, num quadro em que a atual folga de votos do partido maioritário parece dispensar o senso e equilíbrio no desempenho das funções.

Acresce ainda que, num tempo de reforçadas preocupações ambientais, o triunfo da existência geográfica em prejuízo de tudo o resto, vai implicar ainda uma maior pegada ecológica das deslocações porque implicará a soma dos profissionais e serviços de apoio existentes à mobilidade rodoviária dos utentes e dos meios de transporte de doentes, mas se nem as reservas ecológicas e agrícolas escapam, tudo é possível.

Não tinha de ser assim. Havendo dinheiro (haverá no Orçamento ou nas levas de Bruxelas), era juntar PS, PSD e os responsáveis locais para decidir um conjunto integrado de investimentos reais para o território do Oeste. Uma região, mesmo no continente, é mais qualquer coisa que apenas a geografia.

Não tendo sido, vai correr mal.

Como Caldense de adoção, conhecedor das dinâmicas existentes, dos equilíbrios e dos interesses visíveis e invisíveis, a minha opção de localização era entre Caldas da Rainha e Óbidos. Porque a geografia das distâncias não é tudo e o Oeste foi sempre mais quando se deixou dessa comiseração, qual fatalismo de umbigos. E continuo convencido que, se no passado não tivessem ocorrido disparates com os terrenos disponibilizados, em 2004, já teríamos um hospital novo nas Caldas e no Oeste em regime de PPP, na leva de construção de Loures e de Vila Franca de Xira, entretanto tragicamente destruídas, sem consolidação prévia do Serviço Nacional de Saúde.

Sem uma visão integrada e critérios de geometria variável, sem transparência e previsibilidade, andaremos sempre enleados em más opções políticas e polémicas que impedem a construção de boas e sustentáveis soluções. Este é um mau anúncio, merece toda a contestação cívica, política e judicial. Assim seja!

Hospital do oeste


Há muito que a saúde pública no Oeste está no limiar do insustentável, cada vez mais acentuado pelo envelhecimento da população, pela pressão dos novos residentes e pelas dinâmicas sazonais de atração de pessoas.


O Oeste é um território fantástico. Querer resumir a sua existência e as opções políticas de gestão à geografia, desligada de tudo o resto, é persistir na indiferença a que o Estado votou este território durante anos a fio, entregue a um desvario de tutelas em função das áreas temáticas, ora relacionando-se para Leiria a Norte, ora para Santarém a Este, mas também para Lisboa a Sul, sempre com insuficiente atenção política e investimento público. A esquizofrenia da existência geográfica, sem ponderação do acervo histórico, do património, das pessoas e das dinâmicas, sempre deu disparate. E está na iminência de voltar a dar, no processo gerido com os pés da construção do novo hospital do Oeste.

Afirmar o Oeste é e sempre foi difícil. Recordo a dificuldade que tive em organizar umas jornadas parlamentares do Partido Socialista em Óbidos, com programas de deslocações nos círculos eleitorais de Leiria e Lisboa. Os poderes partidários instalados ficaram aziados, mas a iniciativa política realizou-se, com os deputados em peso, vários membros do governo e a presença do primeiro-ministro.

Mas, voltemos ao presente. Entre o supetão e a calada, o Governo, pela voz do ministro da Saúde, anunciou a localização do novo hospital do Oeste, assente apenas nas existências geográficas, as distâncias, com mudança de regras do jogo a meio do processo e sem ter em conta outras realidades e dinâmicas que são relevantes para a configuração das opções políticas. Aliás, se o critério da distância fosse sacrossanto para a implantação de infraestruturas essenciais para as pessoas e para os territórios, há muito que se tinha escolhido a localização do novo aeroporto de Lisboa, optando pela solução mais próxima do Aeroporto General Humberto Delgado.

Sendo certo que escolher nunca é fácil e que há uma congénita dificuldade do Oeste em afirmar uma visão integrada que supere a mera existência geográfica, mesmo com uma comunidade intermunicipal, que soma umbigos à procura de oportunidades de financiamento para os respetivos territórios, o anúncio do Governo é um desastre para a coesão e as dinâmicas existentes.

Há muito que a saúde pública no Oeste está no limiar do insustentável, cada vez mais acentuado pelo envelhecimento da população, pela pressão dos novos residentes e pelas dinâmicas sazonais de atração de pessoas.

A oferta pública existente nas Caldas da Rainha, em Peniche e em Torres Vedras é claramente insuficiente, apesar do esforço dos profissionais.

Neste cenário, o que sinaliza o anúncio do Governo, vinculado ao estudo da Nova IMS e aos interesses da atual estrutura de poder que se mexeram de forma mais eficaz, onde não faltou a criação de um grupo de trabalho que alterou os pressupostos da escolha e ignorou um parecer do Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade de Aveiro.

Sinaliza que a geografia que serviu de critério para instalar nas Caldas da Rainha a sede da Comunidade Intermunicipal do Oeste, a Delegação Regional do Oeste de Agricultura e Pescas e outros serviços regionais desconcentrados do Estado já não serve, sem que tenham ocorrido alterações substanciais das realidades e dinâmicas locais.

Sinaliza ainda que o Estado admite que, nos processos de escolha, possa ser permeável a interesses circunstanciais e a mudanças nos pressupostos das escolhas durante as fases de configuração da vontade política, ao alterar o universo de utentes a integrar no novo equipamento.

Mas vai mais longe, dá-se ao luxo de considerar uma opção de localização, no Bombarral, que viola o Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo, a Reserva Ecológica Nacional e a Reserva Agrícola Nacional, como se o Estado não devesse ser o primeiro a dar o exemplo no cumprimento da lei.

A tragédia maior é que, ao alterar o universo de utentes a meio do processo, ao focar-se apenas na geografia das distâncias e ao desconsiderar as dinâmicas existentes no território, onde se integram as realidades locais de serviços, de alojamento e de afirmação de marcas de identidade diferenciadoras, o Governo projeta-se para uma dimensão soviética de planeamento quinquenal, primeiro a opção política, depois trata-se do resto. De uma penada, sem visão integrada do Oeste, o Governo destrói pontes, acicata ânimos e deslaça a coesão existente, quando podia integrar este anúncio num conjunto de investimentos a realizar (mesmo!) nos vários pontos do território em causa.

A inconsistência do processo e do anúncio da opção vai gerar litigância em torno da escolha e vai ter relevância eleitoral, num quadro em que a atual folga de votos do partido maioritário parece dispensar o senso e equilíbrio no desempenho das funções.

Acresce ainda que, num tempo de reforçadas preocupações ambientais, o triunfo da existência geográfica em prejuízo de tudo o resto, vai implicar ainda uma maior pegada ecológica das deslocações porque implicará a soma dos profissionais e serviços de apoio existentes à mobilidade rodoviária dos utentes e dos meios de transporte de doentes, mas se nem as reservas ecológicas e agrícolas escapam, tudo é possível.

Não tinha de ser assim. Havendo dinheiro (haverá no Orçamento ou nas levas de Bruxelas), era juntar PS, PSD e os responsáveis locais para decidir um conjunto integrado de investimentos reais para o território do Oeste. Uma região, mesmo no continente, é mais qualquer coisa que apenas a geografia.

Não tendo sido, vai correr mal.

Como Caldense de adoção, conhecedor das dinâmicas existentes, dos equilíbrios e dos interesses visíveis e invisíveis, a minha opção de localização era entre Caldas da Rainha e Óbidos. Porque a geografia das distâncias não é tudo e o Oeste foi sempre mais quando se deixou dessa comiseração, qual fatalismo de umbigos. E continuo convencido que, se no passado não tivessem ocorrido disparates com os terrenos disponibilizados, em 2004, já teríamos um hospital novo nas Caldas e no Oeste em regime de PPP, na leva de construção de Loures e de Vila Franca de Xira, entretanto tragicamente destruídas, sem consolidação prévia do Serviço Nacional de Saúde.

Sem uma visão integrada e critérios de geometria variável, sem transparência e previsibilidade, andaremos sempre enleados em más opções políticas e polémicas que impedem a construção de boas e sustentáveis soluções. Este é um mau anúncio, merece toda a contestação cívica, política e judicial. Assim seja!