O ano passado era suposto ter sido dos Black Country, New Road, jovem banda inglesa, Cambridgeshire.
De certa forma, até foi. Editaram o seu segundo disco, Ants from Up There, no espaço de um ano, que foi recebido com críticas bastante positivas e muito sucesso, sendo bastante comum encontrar este trabalho na lista de melhores discos do ano e tinham uma tour agendada que os iria levar a tocar em palcos por todo o lado.
No entanto, o destino não quis que o caminho do septeto fosse feito em linhas retas e, pouco tempo depois de editarem este aclamado trabalho, o vocalista e principal letrista do grupo, Isaac Wood, abandonou a banda, citando problemas de saúde mental como a razão que justificava a sua decisão.
Com a saída daquele que parecia ser o principal criativo do grupo começaram a surgir inúmeras dúvidas sobre o futuro dos Black Country, New Road: quem vai agora cantar? Vão tocar as músicas escritas por Isaac? O grupo vai continuar a existir?
“Posso confirmar que os nossos novos trabalhos vão soar a Black Country, New Road”, disse-nos no ano passado, em entrevista, o baterista Charlie Wayne, numa entrevista a propósito do lançamento de Ants from Up There, onde também foi abordada a saída de Isaac. “Se fosse soar completamente diferente mais valia trocar o nome do grupo. Não existe algo definitivo ainda para a banda, ainda estamos a avaliar este novo terreno. Posso confirmar que estamos a soar bem, é o que posso dizer para já”, garantiu na altura.
A verdade é que, depois de dois concertos seguidos em Portugal, que assistimos, o primeiro, esta quarta-feira, um espetáculo surpresa na Galeria Zé dos Bois, que esgotou em menos de meia hora, e no festival Super Bock Super Rock (que regressou, pela primeira vez, desde 2019, ao Meco), esta quinta-feira, (e sobre o qual nos debruçaremos), podemos confirmar que, efetivamente, os Black Country, New Road continuam a soar bem.
Não soam exatamente ao mesmo grupo, a voz, presença e estética que Isaac oferecia à banda continuam a ser muito especiais, únicos e impossíveis de substituir, mas, através do talento peculiar de cada membro do grupo, o som e qualidade da banda continuam a existir através das suas novas músicas.
A abrir o concerto, a primeira música foi a apropriada Up Song, cantada pela baixista Tyler Hyde, onde é explorada a saída do grupo do vocalista “Look at what we did together / Don’t know how you did it”, enquanto, ao mesmo tempo, o grupo celebra o facto de se ter conseguido reagrupar e a sua amizade: “Look at what we did together, BC,NR friends forever”, canta-se no refrão apoiada pelos membros da audiência, que acolheu diversas caras familiares que fizeram questão de estarem presentes em ambos os concertos do grupo.
Ao longo do concerto vamos percebendo que alguns elementos do concerto da banda não parecem finalizados, nomeadamente, a forma como as músicas coexistem na setlist, parecendo por vezes existir como um “showcase” de talentos dos vários músicos em palco, para além de Hyde (filha de Karl Hyde dos Underworld), também a pianista May Kershaw e o saxofonista e flautista Lewis Evans tem encargos vocais.
É inevitável voltar a surgir questões sobre o futuro do conjunto. Será que não estariam melhores cada um no seu próprio projeto a ditar as regras e uma visão mais concisa daquilo que pretendem alcançar.
A certa altura do concerto, durante a performance de Turbines/Pigs, uma das melhores canções desta recente fornada e um dos mais intensos e emotivos momentos do concerto, Kershaw está a cantar sozinha em palco, apenas acompanhada pelo seu teclado e pelo violino de Nina Lim (que estava a substituir Georgia Ellery, também membro dos Jockstrap, banda que esteve no Primavera Sound e foi uma das melhores surpresas do festival) enquanto o resto da banda está sentada no chão, durante a primeira parte da canção, a admirar o talento da sua colega.
Tudo isto são questões que apenas o futuro poderá responder, para já, podemos apenas encostar-nos e deixar o sexteto descobrir o seu espaço e continuar a trabalhar num puzzle que agora terá de ser concluído sem uma das suas peças.
Apesar de não serem uma das bandas com maior destaque no cartaz e de não serem os músicos mais carismáticos em cima de palco, o puro talento que os Black Country, New Road trouxeram para o Super Bock Super Rock merecem o devido valor e o destaque de terem sido, ainda que faltem mais dois dias de concertos, um dos melhores concertos da presente edição.
A liderar como cabeça de cartaz destes dias estavam os veteranos do rock, Offspring, que trouxeram o seu “slacker” punk rock nostálgico ao Meco.
Num concerto marcado por três momentos distintos: um inicial onde tentaram entusiasmar o público com as suas músicas mais recentes; um meddley enorme composto por clássicos do rock como Iron Man, The Trooper e Sweet Child o' Mine, do punk com Blitzkrieg Bop e até da música clássica numa versão de In the Hall of the Mountain King; culminando a parte final com os maiores êxitos da sua carreira, como Why Don’t You Get a Job?, Pretty Fly (for a White Guy) ou You’re Gonna Go Far Kid, deixando todos aqueles que desejavam o regresso de tempos mais simples perder a cabeça e saltar em euforia.
Os Franz Ferdinand também tiveram oportunidade de pisar o palco principal e nos mostrar (mais uma vez) as músicas que tem feito parte da sua discografia que teve início há quase duas décadas.
Apesar da eficácia de músicas como Take Me Out ou This Fire, fica a sensação de que esta é uma banda presa no seu tempo e que em pouco conseguiu evoluir ou desenvolver a sua música, algo que também não ajuda a entusiasmar os seus fãs.
Em cima da hora, a organização do festival decidiu efetuar mudanças de horários para não provocar sobreposições entre os concertos de Róisin Murphy e de Father John Misty, que acabaram por ser dos melhores deste primeiro dia do certame.
A cantora irlandesa conseguiu transformar o Palco Somersby numa autêntica disco enquanto fazia diversos corpos balouçar e dançar ao som da sua eletrónica acompanhada pelos seus diversos disfarces e perucas.
Já o cantautor norte-americano, que decidiu deixar um pouco de parte o disco que lançou no ano passado, Chloë and the Next 20th Century, e dedicar-se às músicas maiores da sua discografia, como I Love You, Honeybear, apesar de mais controlado do que o habitual, apresentou um concerto competente onde conseguiu satisfazer todos com a beleza melancólica das suas canções.
O Super Bock Super Rock continua esta sexta-feira com artistas como Wu-Tang Clan, The 1975 ou Caroline Polachek.