Universidade para quê?


Nesta altura do ano, muitos milhares de jovens do nosso País que terminam o ensino secundário interrogam-se se devem ou não prosseguir os seus estudos na Universidade. Porquê, para quê? Em quê? Estas questões são naturalmente partilhadas pelas famílias desses jovens.


Procurando contribuir para a reflexão destes jovens, destaco três razões, que têm tido diferentes níveis de discussão, pelas quais acredito que vale realmente a pena ir para a universidade:

REMUNERAÇÃO: Foi recentemente divulgado um estudo promovido pela Fundação José Neves [1], que analisou e evolução dos salários de trabalhadores com o ensino secundário comparativamente com graduados do ensino superior (licenciatura e mestrado) e mostra que os salários dos licenciados são cerca de 30% superiores aos dos trabalhadores que apenas completaram o ensino secundário, tendo aumentado ligeiramente durante a pandemia e recuado a seguir. Mostra ainda que o grau de mestre proporciona salários superiores aos detentores do grau de licenciatura. Estranhamente, alguns media destacaram o aspeto da descida do diferencial entre 2011 e 2022, sem referir a diferença relativa à separação dos graus de Licenciatura e Mestrado e sem frisar o mais importante:  o ensino superior permite usufruir de melhores salários, nomeadamente os ciclos de estudo mais avançados, por corresponderem a formação mais especializada.

DESAFIOS PROFISSIONAIS: A Universidade tem a responsabilidade de oferecer os conhecimentos específicos de várias áreas do saber (renovando o conhecimento através da investigação) e de preparar jovens que possam contribuir para a sociedade através dos seus conhecimentos específicos e competências técnicas e científicas, abraçando desafios profissionais inspiradores. Sabemos bem que a modernização da sociedade e a inovação crescentes vão requerer profissionais com novas competências e que essa é uma razão fundamental para “ir para a universidade”. Um estudo recente do World Economic Forum [2] sobre as profissões do futuro, mostra a diversidade de competências e profissões mais requisitadas nos próximos anos, incluindo várias vertentes das ciências, tecnologia e engenharias (robótica, energia, big data, sustentabilidade, IOT, Inteligência Artificial, etc), áreas onde temos formação de excelência nas nossas universidades, nomeadamente, no Instituto Superior Técnico.

CIDADANIA: Finalmente, uma das principais missões do Ensino Superior e dos seus contributos para a sociedade consiste no esforço de formar cidadãos conscientes, com espírito aberto e crítico, e empenhados participar na construção de uma sociedade mais justa, inclusiva, moderna, e com oportunidades para todos. Esta necessidade é hoje tanto mais importante quanto a velocidade da transformação da sociedade (ambiente, clima, tecnologias, ética, organização do trabalho, economia, transição energética, saúde e envelhecimento, sustentabilidade, etc) é cada vez mais vertiginosa e necessita de cidadãos com a capacidade de compreender, antecipar e ajudar a construir o nosso futuro coletivo como sociedade. Sobre a discussão do papel fundamental do Ensino Superior para a formação de jovens com sentido crítico, capacidade de análise e compreensão, e vontade de participar na discussão dos desafios do nosso tempo, recomendo fortemente a leitura do livro “A Universidade como Deve Ser”, de António Feijó e Miguel Tamen [3].

Capacitar os jovens é talvez o maior desafio de qualquer país e em Portugal têm sido feitos progressos notáveis. Naturalmente que importa melhorar a produtividade da nossa economia, de criar projetos, produtos e serviços diferenciadores que permitam aumentar os níveis salariais, a adoção de cargas fiscais adequadas, nomeadamente para os trabalhadores jovens para que possamos não só atrair, desenvolver e manter novos talentos, nacionais e internacionais, mas também proporcionar carreiras interessantes e bem remuneradas.

 

Por tudo isto: remuneração, desafios profissionais e cidadania, vale absolutamente a pena ir para a universidade, com amplos benefícios individuais e coletivos.
A melhor forma de preparar o futuro é construí-lo.

[1] Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal, Fundação José Neves, Junho 2023. https://www.joseneves.org/estado-da-nacao-2023

[2] Future of Jobs Report, World Economic Forum, May 2023.
https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2023

[3] António M. Feijó e Miguel Tamen, A Universidade como Deve Ser, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Setembro de 2017

José Santos-Victor

Professor Catedrático no  Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores
do Instituto Superior Técnico – Universidade de Lisboa; Investigador no Instituto de Sistemas e Robótica | Lisboa – LARSyS
 

 

Universidade para quê?


Nesta altura do ano, muitos milhares de jovens do nosso País que terminam o ensino secundário interrogam-se se devem ou não prosseguir os seus estudos na Universidade. Porquê, para quê? Em quê? Estas questões são naturalmente partilhadas pelas famílias desses jovens.


Procurando contribuir para a reflexão destes jovens, destaco três razões, que têm tido diferentes níveis de discussão, pelas quais acredito que vale realmente a pena ir para a universidade:

REMUNERAÇÃO: Foi recentemente divulgado um estudo promovido pela Fundação José Neves [1], que analisou e evolução dos salários de trabalhadores com o ensino secundário comparativamente com graduados do ensino superior (licenciatura e mestrado) e mostra que os salários dos licenciados são cerca de 30% superiores aos dos trabalhadores que apenas completaram o ensino secundário, tendo aumentado ligeiramente durante a pandemia e recuado a seguir. Mostra ainda que o grau de mestre proporciona salários superiores aos detentores do grau de licenciatura. Estranhamente, alguns media destacaram o aspeto da descida do diferencial entre 2011 e 2022, sem referir a diferença relativa à separação dos graus de Licenciatura e Mestrado e sem frisar o mais importante:  o ensino superior permite usufruir de melhores salários, nomeadamente os ciclos de estudo mais avançados, por corresponderem a formação mais especializada.

DESAFIOS PROFISSIONAIS: A Universidade tem a responsabilidade de oferecer os conhecimentos específicos de várias áreas do saber (renovando o conhecimento através da investigação) e de preparar jovens que possam contribuir para a sociedade através dos seus conhecimentos específicos e competências técnicas e científicas, abraçando desafios profissionais inspiradores. Sabemos bem que a modernização da sociedade e a inovação crescentes vão requerer profissionais com novas competências e que essa é uma razão fundamental para “ir para a universidade”. Um estudo recente do World Economic Forum [2] sobre as profissões do futuro, mostra a diversidade de competências e profissões mais requisitadas nos próximos anos, incluindo várias vertentes das ciências, tecnologia e engenharias (robótica, energia, big data, sustentabilidade, IOT, Inteligência Artificial, etc), áreas onde temos formação de excelência nas nossas universidades, nomeadamente, no Instituto Superior Técnico.

CIDADANIA: Finalmente, uma das principais missões do Ensino Superior e dos seus contributos para a sociedade consiste no esforço de formar cidadãos conscientes, com espírito aberto e crítico, e empenhados participar na construção de uma sociedade mais justa, inclusiva, moderna, e com oportunidades para todos. Esta necessidade é hoje tanto mais importante quanto a velocidade da transformação da sociedade (ambiente, clima, tecnologias, ética, organização do trabalho, economia, transição energética, saúde e envelhecimento, sustentabilidade, etc) é cada vez mais vertiginosa e necessita de cidadãos com a capacidade de compreender, antecipar e ajudar a construir o nosso futuro coletivo como sociedade. Sobre a discussão do papel fundamental do Ensino Superior para a formação de jovens com sentido crítico, capacidade de análise e compreensão, e vontade de participar na discussão dos desafios do nosso tempo, recomendo fortemente a leitura do livro “A Universidade como Deve Ser”, de António Feijó e Miguel Tamen [3].

Capacitar os jovens é talvez o maior desafio de qualquer país e em Portugal têm sido feitos progressos notáveis. Naturalmente que importa melhorar a produtividade da nossa economia, de criar projetos, produtos e serviços diferenciadores que permitam aumentar os níveis salariais, a adoção de cargas fiscais adequadas, nomeadamente para os trabalhadores jovens para que possamos não só atrair, desenvolver e manter novos talentos, nacionais e internacionais, mas também proporcionar carreiras interessantes e bem remuneradas.

 

Por tudo isto: remuneração, desafios profissionais e cidadania, vale absolutamente a pena ir para a universidade, com amplos benefícios individuais e coletivos.
A melhor forma de preparar o futuro é construí-lo.

[1] Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal, Fundação José Neves, Junho 2023. https://www.joseneves.org/estado-da-nacao-2023

[2] Future of Jobs Report, World Economic Forum, May 2023.
https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2023

[3] António M. Feijó e Miguel Tamen, A Universidade como Deve Ser, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Setembro de 2017

José Santos-Victor

Professor Catedrático no  Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores
do Instituto Superior Técnico – Universidade de Lisboa; Investigador no Instituto de Sistemas e Robótica | Lisboa – LARSyS