Ficar Velho


Tenho saudades de entrar num local e as mulheres repararem em mim. Tenho saudades de algumas pessoas que passaram pela minha vida e perdi-lhes o rasto. Tenho saudades de sair à noite, arranjar-me para ver e estar com pessoas a ouvir música.


Neste texto serviu-me de mote, ao estar a ver um filme de Clint Eastwood, “Cry Macho – A Redenção” e vir-me à memória outros filmes de Clint Eastwood, um deles icónico: “Imperdoável”.

O seu vigor físico e destreza, passaram, para lentidão e  parcimónia. Clint Eastwood é um exemplo para mim, com 93 anos continua a produzir filmes e a não parar.

Contudo ficar velho é algo horrível, isso não quer dizer que eu não aceite o peso da idade e ande aí a fazer figuras tristes.

Porém, apercebo-me que, antes fazia tanta coisa e agora faço tão pouca coisa. É triste!

Evidentemente que temos que nos adaptar, mas custa mesmo muito. O pior é que a nossa mente, ainda consegue lembrar-se do que fazíamos e da forma que vivíamos.

Tenho saudades de entrar num local e as mulheres repararem em mim. Tenho saudades de algumas pessoas que passaram pela minha vida e perdi-lhes o rasto. Tenho saudades de sair à noite, arranjar-me para ver e estar com pessoas a ouvir música.

Tenho saudades de dormir bem. Tenho saudades de ter tempo. Tenho saudades de não pensar e fazer, agora penso e já não faço.

Tenho saudades de não ter dores depois de jogar futebol com o meu filho e amigos. Tenho saudades que não me olhem de soslaio no balneário por ser velho e ainda jogar futebol. Tenho saudades de ter cabelo e de ter um ar jovial.

Agora passei de jovem a charmoso.

Tenho saudades de andar de mota. Tenho saudades de andar num carro descapotável. Enfim!

A verdade é que estou na borda da sociedade, mas lá vou vivendo. Todo o  cuidado é pouco, com o que faço para não cair no ridículo, porque na minha idade, já me posso dar ao luxo de poder dizer quase tudo, porém tenho cada vez menos gente que me entenda. Às vezes, dou comigo a pensar que mais vale estar só e fazer o que me apetece sem ter olhares indiscretos.

O meu corpo já não é o que era, demora mais a recuperar e a falta de energia torna o meu pensamento redutor e menos amplo. Mais negação do que afirmação.

As pessoas devem assumir a sua idade, fazerem pela vida e serem felizes. Mas acreditem que custa.

Ficar velho é uma chatice. Esse provérbio transformado em slogan dos velhos, "quem andou não tem para andar", não o aceito de todo. Eu não me resigno e concordo que já não posso "andar" – viver e fazer o que sempre fiz: sair à noite, jogar futebol, deitar-me tarde e divertir-me.

É preciso muita força de vontade. Faz-se tudo muito mais lentamente, pensa-se muito mais, antes de se tomar uma decisão, que pode ficar adiada eternamente.

É fundamental continuar em actividade e arranjar uma ocupação que nos exercite a mente. Cada vez mais a terceira idade está out, o que está a dar é a quarta idade e o prolongamento da esperança de vida com alguma qualidade.

Com a idade há algumas limitações: ver mal, lapsos de memória, dificuldades físicas, a sensação de descoberta desapareceu, falta de paciência para aturar determinadas situações, entre outras.

Os meus lemas são: procurar viver sem fazer figuras tristes; nunca desistir de viver, mesmo com artrose.

 

Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores

Ficar Velho


Tenho saudades de entrar num local e as mulheres repararem em mim. Tenho saudades de algumas pessoas que passaram pela minha vida e perdi-lhes o rasto. Tenho saudades de sair à noite, arranjar-me para ver e estar com pessoas a ouvir música.


Neste texto serviu-me de mote, ao estar a ver um filme de Clint Eastwood, “Cry Macho – A Redenção” e vir-me à memória outros filmes de Clint Eastwood, um deles icónico: “Imperdoável”.

O seu vigor físico e destreza, passaram, para lentidão e  parcimónia. Clint Eastwood é um exemplo para mim, com 93 anos continua a produzir filmes e a não parar.

Contudo ficar velho é algo horrível, isso não quer dizer que eu não aceite o peso da idade e ande aí a fazer figuras tristes.

Porém, apercebo-me que, antes fazia tanta coisa e agora faço tão pouca coisa. É triste!

Evidentemente que temos que nos adaptar, mas custa mesmo muito. O pior é que a nossa mente, ainda consegue lembrar-se do que fazíamos e da forma que vivíamos.

Tenho saudades de entrar num local e as mulheres repararem em mim. Tenho saudades de algumas pessoas que passaram pela minha vida e perdi-lhes o rasto. Tenho saudades de sair à noite, arranjar-me para ver e estar com pessoas a ouvir música.

Tenho saudades de dormir bem. Tenho saudades de ter tempo. Tenho saudades de não pensar e fazer, agora penso e já não faço.

Tenho saudades de não ter dores depois de jogar futebol com o meu filho e amigos. Tenho saudades que não me olhem de soslaio no balneário por ser velho e ainda jogar futebol. Tenho saudades de ter cabelo e de ter um ar jovial.

Agora passei de jovem a charmoso.

Tenho saudades de andar de mota. Tenho saudades de andar num carro descapotável. Enfim!

A verdade é que estou na borda da sociedade, mas lá vou vivendo. Todo o  cuidado é pouco, com o que faço para não cair no ridículo, porque na minha idade, já me posso dar ao luxo de poder dizer quase tudo, porém tenho cada vez menos gente que me entenda. Às vezes, dou comigo a pensar que mais vale estar só e fazer o que me apetece sem ter olhares indiscretos.

O meu corpo já não é o que era, demora mais a recuperar e a falta de energia torna o meu pensamento redutor e menos amplo. Mais negação do que afirmação.

As pessoas devem assumir a sua idade, fazerem pela vida e serem felizes. Mas acreditem que custa.

Ficar velho é uma chatice. Esse provérbio transformado em slogan dos velhos, "quem andou não tem para andar", não o aceito de todo. Eu não me resigno e concordo que já não posso "andar" – viver e fazer o que sempre fiz: sair à noite, jogar futebol, deitar-me tarde e divertir-me.

É preciso muita força de vontade. Faz-se tudo muito mais lentamente, pensa-se muito mais, antes de se tomar uma decisão, que pode ficar adiada eternamente.

É fundamental continuar em actividade e arranjar uma ocupação que nos exercite a mente. Cada vez mais a terceira idade está out, o que está a dar é a quarta idade e o prolongamento da esperança de vida com alguma qualidade.

Com a idade há algumas limitações: ver mal, lapsos de memória, dificuldades físicas, a sensação de descoberta desapareceu, falta de paciência para aturar determinadas situações, entre outras.

Os meus lemas são: procurar viver sem fazer figuras tristes; nunca desistir de viver, mesmo com artrose.

 

Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores