Nota prévia: A Ucrânia deu início ao que alguns especialistas consideram a contraofensiva à invasão russa. O avanço é incerto e tudo indica que o conflito vai durar. A circunstância de os russos estarem agora em posição defensiva torna a tarefa ucraniana muito complicada, invertendo a situação inicial. Putin obteve, entretanto, uma vitória objetiva nos últimos dias. Colocou armas nucleares na Bielorrússia que passou de vez a ser uma extensão de Moscovo. Nem todos são ucranianos e resistem ao colonialismo russo. As armas atómicas estão a poucos quilómetros de Vilnius, a capital da Lituânia. É lá que se vai realizar proximamente a cimeira da NATO. Não há acasos.
1. Há vários mundos ocultos que crescem na sociedade portuguesa e que de repente são projetados para a opinião pública que fica em choque. A violência assassina contra uma criança de Setúbal, torturada e morta por uma centena de euros de dívida é um exemplo extremo, mas não raro. Na realidade, havia quem tivesse a obrigação de saber por dever de ofício e nada tenha feito. É um tipo de violência bárbara que justificaria a prisão perpétua. É mais um tipo de crime a que junta o grande banditismo sanguinário como as guerras da noite no Porto. Noutro contexto de violência, surgiu a notícia de que uma associação desportiva, a que estava ligado o presidente da Assembleia Geral da Liga de Clubes de Futebol, serviria também de rede de imigração clandestina de menores e jovens adultos. O presidente da Assembleia Geral da Liga já se demitiu. Miguel Frasquilho, embaixador deste projeto BSports, um ex-membro do governo do PSD e antigo chairman da TAP, veio a público dizer que nada sabia. Talvez. Porém, mostra a ligeireza com que se aceitam funções. E a facilidade com que se enjeita qualquer responsabilidade. Está por se saber que destino era dado aos supostos jogadores que não vingassem e cujas famílias pobres de países paupérrimos pagavam para estarem cá. O que faziam a seguir com eles? Que atividades? Onde? Com quem? Responsáveis do desporto, jornalistas da área, políticos mostram-se indignados e alegam desconhecimento. O Portugal de hoje virou o país do não sabia. Estas redes não são novas. Já em 2009, um então jornalista da Lusa com larga experiência (Sérgio Soares) tentou noticiar um facto semelhante com grandes clubes. Só que o então diretor censurou a informação, através de um veto de gaveta, sobre o negócio que existe pelo menos desde então. O caso implicava alegadamente diplomatas portugueses em África, crianças retiradas sem autorização dos pais. Não se deu andamento judicial às investigações que o SEF desenvolvia. Portanto, não há uma novidade objetiva. Mantêm-se ativas forças obscuras e as suas práticas de tráfico de pessoas. Coincidentemente, esta semana o Expresso noticiou a existência de milhares de vistos que são passados a supostos estudantes estrangeiros, que apenas procuram autorização de residência formal. Não vêm para estudar, mas para trabalhar ou saltar para outro país. Segundo o jornal, já foram concedidos 62 mil vistos a estudantes desde 2020, o que é manifestamente exagerado. As redes existem por todo o lado e para muitos efeitos. Podem ser para trabalhos agrícolas como no litoral alentejano ou agora em Vendas Novas. Estão a sofisticar-se em muitas áreas de atividade, designadamente o tráfico de droga e a prostituição. É imperativo agir para evitar que a situação degenere mais. Como se viu no caso do futebol, foi preciso mais uma vez um alerta vindo dos Estados Unidos depois de uma denúncia feita para lá por um americano lesado para que as coisas mexessem com rapidez. Se assim não fosse poderíamos ter tido a repetição de 2009. Desta vez, o caso veio a público. Terá feito a diferença.
2. Está em curso a operação de venda da Efacec. É o momento certo para inaugurar uma metodologia nova, a fim de não permitir que amanhã voltemos a ouvir gente responsável dizer que não tinham ideia disto ou daquilo ou que a recomendação de proceder de determinada maneira veio de consultores económicos ou ilustres advogados. É essencial identificar as entidades públicas e privadas envolvidas da parte do Estado na negociação. Isto explicitando claramente os contratos a celebrar, além dos nomes e as tarefas de cada participante. “À cause des mouches”, como dizem os franceses. Só para não voltarmos a assistir a deploráveis jogos de empurra e ataques de amnésia. Ou mesmo a comissões de inquérito que não vão ao núcleo dos problemas.
3. Redes sociais e média concordam em que Pedro Nuno Santos (PNS) se saiu muito bem na CPI da TAP. Aguarda-se agora o relatório final, mas as questões laterais ameaçam apagar o foco do que se pretendia e que era analisar a gestão da companhia. Para já PNS é mais uma figura cuja morte política foi anunciada prematuramente. Ainda por cima estará sentado no Parlamento já na próxima sessão legislativa. Medina terá de se empenhar se quiser suceder a António Costa. Claro que uma coisa é a sucessão e outra é a hipótese do PS voltar a formar Governo. As sondagens recentes tornam a hipótese remota. Está a formar-se uma maioria à direita, embora sem óbvia governabilidade. O Chega estabilizou em cerca de 15%, podendo crescer por ser um voto não assumido e de protesto. Gradualmente torna-se charneira. Tal significa que o PSD, os Liberais e o CDS ou crescem ou ficam reféns do caudilho André Ventura.
4. A ministra Ana Abrunhosa tentou justificar a inaceitável falta de comparência de entidades oficiais do Estado junto ao monumento às vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande, ocorridos há seis anos. Agravando a trapalhada, alegou que queria que o dia ficasse reservado para recolhimento dos familiares das vítimas. É a típica mentira piedosa. O facto é que PSD, Liberais e Chega estiveram presentes num ato que correspondeu a uma inauguração simbólica. Muitos outros faltaram, inclusivamente o Presidente Marcelo. A memória em Portugal é muito curta.
5. António Costa fez um desvio numa rota inicial a caminho da Moldávia. Foi à Hungria assistir a uma final de futebol europeia em que um dos clubes, a Roma, era treinado pelo nosso “Special One”, José Mourinho. Usou para viajar o Falcon do Governo. Costa sentou-se a ver o jogo ao lado de Orbán, um líder de direita eleito democraticamente. O Presidente Marcelo tentou explicar o facto com uma escala técnica, mas não convenceu. Bloquistas e Liberais indignaram-se. Os primeiros por causa das opções políticas de Orbán (se fosse Maduro a coisa passava). Os segundos querem que Costa pague os custos do desvio. Nenhum achou que era uma justa homenagem a Mourinho, uma figura que tanto tem prestigiado Portugal. É desejável que António Costa explique a situação e seria legitimo que aproveitasse a ocasião para trocar impressões com Orbán com o qual tem mantido boa colaboração ao nível externo, apesar de atacar internamente os partidos mais próximos do líder magiar.
6. Já lá vai a polémica dos cartazes racistas visando António Costa que um grupo de supostos professores. ativistas políticos extremistas e organizados exibiam em manifestações. António Costa deu cabo deles. Bastou indignar-se com razão. Pobres alunos daquela gente.
7. Aos 55 anos morreu inesperadamente Mário Marques, um quadro da RTP. Estava ligado aos eventos da rádio onde era um profissional essencial. Nem sempre os mais conhecidos são os que fazem funcionar as coisas bem. RIP, Mário.