E se, para já, tratássemos do “básico”?


O desígnio “país mais limpo do mundo” deveria constituir um patamar de posicionamento que nos levaria a todos, indivíduos, famílias, organizações, empresas, setor público, poder central e local, a contribuir para um comportamento mais exigente e em simultâneo aumentar os níveis de civismo e cidadania.


Há, em Portugal, matérias de sobra sobre as quais ao não atuarmos não estamos a contribuir para o bem-estar geral nem para a valorização do lugar comum da sociedade que em conjunto representamos. Se começarmos por identificar algumas onde, em conjunto, enquanto sociedade, nos passamos rever no desígnio, e cuja resolução seja relativamente simples, damos certamente passos na longa jornada de recuperação de tempo e posição competitiva perdida. Chamo-lhes de básico, por considerar que há soluções de fácil e rápida implementação para os resolverem. Tenho, infelizmente, a consciência do quão difícil é no nosso país mudar, evoluir, inovar ou desenvolver. Por isso não deixo de dar importância aos comentários e estado de espírito de muitos e bons portugueses que já consideram que atingimos o estatuto de “caso perdido”. Contudo e quem sabe, apenas por exercício académico aqui vão algumas sugestões básicas…

 

1. A falta de recolha, separação, tratamento e aproveitamento dos lixos constitui uma fragilidade evidente na generalidade do país. 

A forma como a capital do país, uma das principais frentes da montra sobre quem somos, tem gerido o seu posicionamento nesta matéria é a demonstração de que um tema tão básico, mas simultaneamente tão determinante da qualidade de vida, é gerido de forma displicente. O modelo de desventura no domínio da limpeza pública contaminou muito do nosso país. O desígnio “país mais limpo do mundo” deveria constituir um patamar de posicionamento que nos levaria a todos, indivíduos, famílias, organizações, empresas, setor público, poder central e local, a contribuir para um comportamento mais exigente e em simultâneo aumentar os níveis de civismo e cidadania. Para isso necessitamos de maior exigência na educação para o civismo e cidadania, maior responsabilização de todos os atores, públicos e privados, e, em última instância, maior crescimento nas indústrias a montante e jusante deste tão importante setor económico – o lixo.

2. A falta de autonomia da escola pública leva a vários níveis de desresponsabilização operacional, que tem por consequência última e grave, a perca gradual de qualidade e consequente competitividade do sistema de ensino português. A título de auxiliar de memórias perdidas, lembro que quando entrei na universidade, na década de 80, era desprestigiante vir de uma escola privada porque efetivamente o ensino público era de maior qualidade e exigência. Perdeu-se gradualmente esse posicionamento, conferindo essa disparidade um desmedido contributo para o agravamento das desigualdades sociais. Permitir às escolas contratar professores, livrando-nos do modelo centralizado, ao melhor estilo soviético, que o Ministério da Educação insiste em manter, constitui o primeiro passo para essa autonomia e maior responsabilização. A educação das gerações mais novas constitui o melhor e mais importante investimento de longo prazo na recuperação do atraso a que nos remeteram décadas de ausência da consciência do trabalho que as escolas, os professores e todos os agentes do eco sistema de ensino têm no que ao desenvolvimento do país diz respeito. Ao Ministério deveria caber lançar diretrizes, controlar e avaliar performances.

 

3. Que tal abordar de frente um dos grandes entraves ao desenvolvimento da economia? O poder da burocracia atrasa-nos, afasta investimento, atrasa inovação e impede-nos de fazer mais e melhor. Simplificar e despromover o novelo de nós que os sucessivos governos nos últimos 100 anos foram implementando em camadas sucessivas de confusão que este poder não eleito, mas confortavelmente instalado, possui, constitui um passo imprescindível na direção da inovação e desenvolvimento meritocrático. Não há rota alternativa para o desenvolvimento.

Até lá andamos entretidos com a produção das novelas da vida real que a menor idade que a política portuguesa atingiu nos proporciona.

 

Professor de Gestão no ISCTE 

e CEO do Taguspark, 

Subscritor do “Manifesto: Por Uma 

Democracia de Qualidade”

E se, para já, tratássemos do “básico”?


O desígnio “país mais limpo do mundo” deveria constituir um patamar de posicionamento que nos levaria a todos, indivíduos, famílias, organizações, empresas, setor público, poder central e local, a contribuir para um comportamento mais exigente e em simultâneo aumentar os níveis de civismo e cidadania.


Há, em Portugal, matérias de sobra sobre as quais ao não atuarmos não estamos a contribuir para o bem-estar geral nem para a valorização do lugar comum da sociedade que em conjunto representamos. Se começarmos por identificar algumas onde, em conjunto, enquanto sociedade, nos passamos rever no desígnio, e cuja resolução seja relativamente simples, damos certamente passos na longa jornada de recuperação de tempo e posição competitiva perdida. Chamo-lhes de básico, por considerar que há soluções de fácil e rápida implementação para os resolverem. Tenho, infelizmente, a consciência do quão difícil é no nosso país mudar, evoluir, inovar ou desenvolver. Por isso não deixo de dar importância aos comentários e estado de espírito de muitos e bons portugueses que já consideram que atingimos o estatuto de “caso perdido”. Contudo e quem sabe, apenas por exercício académico aqui vão algumas sugestões básicas…

 

1. A falta de recolha, separação, tratamento e aproveitamento dos lixos constitui uma fragilidade evidente na generalidade do país. 

A forma como a capital do país, uma das principais frentes da montra sobre quem somos, tem gerido o seu posicionamento nesta matéria é a demonstração de que um tema tão básico, mas simultaneamente tão determinante da qualidade de vida, é gerido de forma displicente. O modelo de desventura no domínio da limpeza pública contaminou muito do nosso país. O desígnio “país mais limpo do mundo” deveria constituir um patamar de posicionamento que nos levaria a todos, indivíduos, famílias, organizações, empresas, setor público, poder central e local, a contribuir para um comportamento mais exigente e em simultâneo aumentar os níveis de civismo e cidadania. Para isso necessitamos de maior exigência na educação para o civismo e cidadania, maior responsabilização de todos os atores, públicos e privados, e, em última instância, maior crescimento nas indústrias a montante e jusante deste tão importante setor económico – o lixo.

2. A falta de autonomia da escola pública leva a vários níveis de desresponsabilização operacional, que tem por consequência última e grave, a perca gradual de qualidade e consequente competitividade do sistema de ensino português. A título de auxiliar de memórias perdidas, lembro que quando entrei na universidade, na década de 80, era desprestigiante vir de uma escola privada porque efetivamente o ensino público era de maior qualidade e exigência. Perdeu-se gradualmente esse posicionamento, conferindo essa disparidade um desmedido contributo para o agravamento das desigualdades sociais. Permitir às escolas contratar professores, livrando-nos do modelo centralizado, ao melhor estilo soviético, que o Ministério da Educação insiste em manter, constitui o primeiro passo para essa autonomia e maior responsabilização. A educação das gerações mais novas constitui o melhor e mais importante investimento de longo prazo na recuperação do atraso a que nos remeteram décadas de ausência da consciência do trabalho que as escolas, os professores e todos os agentes do eco sistema de ensino têm no que ao desenvolvimento do país diz respeito. Ao Ministério deveria caber lançar diretrizes, controlar e avaliar performances.

 

3. Que tal abordar de frente um dos grandes entraves ao desenvolvimento da economia? O poder da burocracia atrasa-nos, afasta investimento, atrasa inovação e impede-nos de fazer mais e melhor. Simplificar e despromover o novelo de nós que os sucessivos governos nos últimos 100 anos foram implementando em camadas sucessivas de confusão que este poder não eleito, mas confortavelmente instalado, possui, constitui um passo imprescindível na direção da inovação e desenvolvimento meritocrático. Não há rota alternativa para o desenvolvimento.

Até lá andamos entretidos com a produção das novelas da vida real que a menor idade que a política portuguesa atingiu nos proporciona.

 

Professor de Gestão no ISCTE 

e CEO do Taguspark, 

Subscritor do “Manifesto: Por Uma 

Democracia de Qualidade”