“Vedere Napoli e poi morire”


NÁPOLES – O azul da baía mistura-se com o azul das bandeiras e cachecóis do Nápoles e da Argentina. Por causa de Maradona esta é a cidade mais argentina do mundo que não seja a Argentina. A primeira vez que cá vim era miúdo.


NÁPOLES – O azul da baía mistura-se com o azul das bandeiras e cachecóis do Nápoles e da Argentina. Por causa de Maradona esta é a cidade mais argentina do mundo que não seja a Argentina. A primeira vez que cá vim era miúdo. Recordo-me que o meu pai estacionou o carro para irmos a um restaurante e quando voltámos tinham rebentado com o fecho da mala. O homem da oficina que tratou do problema mostrou-se compreensivo enquanto esfregava as mãos sujas de óleo em desperdício: “normale, qui”. Depois fui voltando. Uma vez a caminho da Grécia, em interail. Outras em trabalho. Outras ainda em férias. Gosto da cidade que vai ficando mais bela de dentro para fora. Dos bairros de ruelas apertadas, de lojas de brique-à-braque e salumerias até à baía onde se recorta o Vesúvio ao longe. Gosto do sotaque que torna, por vezes, os “napoledanos” intraduzíveis. Do toque malandro tipicamente sulista – quando os cintos de segurança passaram a ser obrigatórios toda a gente de Nápoles começou a usar camisolas com uma risca preta em diagonal. “Vedere Napoli e poi morire”, resumiu Raziella, a falsa bruxa que não suportava tanta “malincolia”. Tempos em que os partenopei (nome que lhes veio da antiga cidade grega que aqui ficava – Parthenópé – tinham uma certa facilidade em morrerem de amores não correspondidos, tombando de tristeza para o lado de como se fossem tordos. Sim, Nápoles é romântica e não fica atrás de todas as românticas cidades italianas só porque acumula lixo nas vielas, porque todos conduzem como “pazzi” pouco se importando para as amolgadelas  nos automóveis, ou porque a sua gente tem o hábito de usar as paredes para escrever o que lhe der na gana, geralmente frases de revolta contra o norte rico de uma Itália fortemente dividida. Vale a pena ler as paredes. De certa forma é como aprender filosofia. Sobretudo quando desabafam: “Dicono: non posso vivere senza te. E poi non moiono!”.

 

“Vedere Napoli e poi morire”


NÁPOLES - O azul da baía mistura-se com o azul das bandeiras e cachecóis do Nápoles e da Argentina. Por causa de Maradona esta é a cidade mais argentina do mundo que não seja a Argentina. A primeira vez que cá vim era miúdo.


NÁPOLES – O azul da baía mistura-se com o azul das bandeiras e cachecóis do Nápoles e da Argentina. Por causa de Maradona esta é a cidade mais argentina do mundo que não seja a Argentina. A primeira vez que cá vim era miúdo. Recordo-me que o meu pai estacionou o carro para irmos a um restaurante e quando voltámos tinham rebentado com o fecho da mala. O homem da oficina que tratou do problema mostrou-se compreensivo enquanto esfregava as mãos sujas de óleo em desperdício: “normale, qui”. Depois fui voltando. Uma vez a caminho da Grécia, em interail. Outras em trabalho. Outras ainda em férias. Gosto da cidade que vai ficando mais bela de dentro para fora. Dos bairros de ruelas apertadas, de lojas de brique-à-braque e salumerias até à baía onde se recorta o Vesúvio ao longe. Gosto do sotaque que torna, por vezes, os “napoledanos” intraduzíveis. Do toque malandro tipicamente sulista – quando os cintos de segurança passaram a ser obrigatórios toda a gente de Nápoles começou a usar camisolas com uma risca preta em diagonal. “Vedere Napoli e poi morire”, resumiu Raziella, a falsa bruxa que não suportava tanta “malincolia”. Tempos em que os partenopei (nome que lhes veio da antiga cidade grega que aqui ficava – Parthenópé – tinham uma certa facilidade em morrerem de amores não correspondidos, tombando de tristeza para o lado de como se fossem tordos. Sim, Nápoles é romântica e não fica atrás de todas as românticas cidades italianas só porque acumula lixo nas vielas, porque todos conduzem como “pazzi” pouco se importando para as amolgadelas  nos automóveis, ou porque a sua gente tem o hábito de usar as paredes para escrever o que lhe der na gana, geralmente frases de revolta contra o norte rico de uma Itália fortemente dividida. Vale a pena ler as paredes. De certa forma é como aprender filosofia. Sobretudo quando desabafam: “Dicono: non posso vivere senza te. E poi non moiono!”.