por Raquel Abecasis
São cada vez mais os que, até nos circulos mais próximos de António Costa, se interrogam sobre o futuro. À medida que se avolumam os ‘casos e casinhos’, as ‘horas e horinhas’, a que agora se acrescentou o fantasma redespertado do processo Tutti-Fruti, a máquina socialista anseia pelo anúncio de uma remodelação que António Costa parece querer atrasar para o fim da Comissão de Inquérito à TAP. «Mas será que vamos resistir?», comenta um responsável socialista.
A aparição de Cavaco Silva no fim-de-semana a arrasar o Governo e a acusar o primeiro-ministro de não cumprir os seus «deveres constitucionais» – ao não assumir o comando e a coordenação do Governo –, como quem dá ideias ao Presidente da República, foi sentido como um murro no estomâgo da máquina socialista. Apesar de considerarem que Cavaco tem o condão de unir a esquerda, no PS também há quem olhe para o discurso do ex-Presidente como um ataque poderoso: «Cavaco explicou numa linguagem muito simples que o rei vai nú e percebeu que este é o momento certo para criar uma crise política e tirar o PS do Governo».
O momento é de expetativa, até porque ninguém desvaloriza a capacidade de resistência de António Costa. Os mais críticos do secretário-geral admitem que Costa pode resistir a esta tempestade e, se o conseguir, com a ajuda dos bons números da economia a fazerem chegar os seus efeitos ao bolso dos portugueses, até pode chegar ao fim da legislatura e quem sabe recandidatar-se em 2026.
Aconteça o que acontecer, uma coisa é certa, as coisas não estão fáceis nem no Governo, «que com todo este ruído não governa», nem na Assembleia da República.
A aposta em sublinhar os bons resultados da economia para desviar as atenções não tem tido resultado. Apesar dos esforços, a verdade é que o debate com o primeiro-ministro na passada quarta-feira foi dominado pelas perguntas da oposição que ficaram sem resposta. No fim do debate, ao contrário do que é costume, ninguém cantava vitória na bancada socialista.
À medida que aumenta a pressão ao Governo são cada vez menos os que sabem o que vai na cabeça de António Costa. É por isso, garantem-nos, que Carlos César decidiu propor o adiamento por um ano do Congresso dos socialistas, a tempo de ter mais certezas sobre os processos eleitorais. A verdade é que, depois de muitas certezas, neste momento ninguém sabe se Costa cai, se Costa quer ir para a Europa, se quer acabar a legislatura ou se ainda vai querer ir a votos em 2026.