Ala que se faz tarde!


O novo clima político entre Marcelo e Costa é mais claro, mas os principais problemas do país mantêm-se. 


1. Até ver, não parece ser negativo o afastamento político verificado entre Marcelo e Costa. Diluiu-se a sensação de nacional-porreirismo e até de cumplicidade, com o presidente a aparecer regularmente a dar cobertura ao primeiro-ministro. E este a aproveitar-se disso para fugir a responsabilidades políticas dele ou de alguns erráticos membros do Governo. Os papéis de cada um são diferentes constitucionalmente. É por terem essa noção que os portugueses em regra não põem os ovos políticos no mesmo cesto, escolhendo maiorias presidenciais e governativas diferentes. Há outra expressão popular que se pode usar, sem naturalmente atingir a honorabilidade dos protagonistas: cada macaco no seu galho. É assim que deve ser. Tudo ao molho dá sempre mau resultado. As coisas estão mais claras, o que não impedirá que haja desejáveis momentos de boa convivência e de concordância política. 

 

2. Diariamente, dezenas de jovens, muitos deles recém-licenciados, abandonam Portugal à procura de países onde possam ganhar a vida, ter conforto e horizontes de futuro. Cada um de nós conhece ou tem familiares nessas condições. Já a vinda de imigrantes, que é positiva, não compensa em qualidade o que perdemos, embora sejam contas distintas que não se podem confundir. A maioria dos chegam optam por trabalhos que os que partem não aceitariam, dadas as suas habilitações. São fenómenos que comunicam, mas que têm naturezas diferentes. Simultaneamente, verifica-se que há cada vez mais pais que se esforçam para que os filhos estudem no estrangeiro, apesar do sacrifício que isso implica. São mais uns quantos milhares de jovens formados fora e que dificilmente voltarão, a não ser para férias. Tão grave como a saída de jovens quadros é o que se está a passar com empresários de sucesso que desistem de ter Portugal como quartel-general. Mesmo que continuem a contar com o nosso mercado, é lhes mais barato ter a atividade sediada fora, desde logo porque não sofrem os atropelos burocráticos, não se confrontam com uma justiça ineficaz e pagam menos impostos, como o IRC. Na espuma da política temos tendência a omitir estas realidades sistemáticas que não fazem manchetes, mas que são a raiz de certos problemas. Não é verdade que haja menos portugueses e que tenhamos um problema de gente. Com passaporte nacional somos mais, entre os que se naturalizam por ascendências diversas e os que têm direito pelo tempo de permanência. Mas, até parte desses, logo que podem, fogem daqui a sete pés. A isso se juntam muitos lusodescendentes que não pensam alguma vez viver cá. Um país de expatriados é um país sem futuro. E até, pelos vistos, António Costa está mortinho para dar às de vila-diogo com uma ajuda do PR, a avaliar pelo que se leu no Nascer do SOL. Ala que se faz tarde, é novamente a palavra de ordem nacional. Como nos anos 60! Triste sina!

 

3. Arrasta-se a trapalhada à volta da intervenção do SIS no “galambagate”. O episódio pôs em evidência que não se sabe para que serve o SIS em concreto, o que faz, quem manda e que intervenção tem o Governo na atividade daquele e, porventura, do outro serviço de informação de que a República está dotada. Ficou exposta novamente a nossa fragilidade em matérias estratégicas de segurança. Tal qual como na Defesa Nacional, onde o caso Mondego nos cobriu de ridículo. Torna-se indispensável uma comissão de inquérito parlamentar à atividade do SIS, uma vez que a entidade que o fiscaliza não está à altura, seja por preguiça, incompetência ou beneplácito. Ou mesmo as três coisas somadas. Os próximos dias prometem, entretanto, grande animação com as idas dos truculentos inimigos Pinheiro e Galamba (Galamba mau, a fim de o distinguir de António Galamba, o bom, ilustre cronista do i). Se as oposições, designadamente a do PSD, forem competentes é pouco provável que Galamba saia de lá com condições para se manter ministro. Com essas audiências o circo está garantido. Araújo Pereira, uma espécie bobo do regime, tem material garantido para faturar.

 

4. A cerca de dez semanas das Jornadas da Juventude (JMJ), Lisboa está um caos e a vinda de um milhão de peregrinos é motivo de grande preocupação logística. Como vai ser a circulação, designadamente entre os três grandes pontos das JMJ: Expo, Parque Eduardo VII e Passeio Marítimo de Algés? As linhas do Metro estão um caos, as alternativas ridículas e a circulação linear junto ao Tejo está cortada na Baixa de Lisboa. Embora não aumentem de imediato a enorme confusão que se vive, soube-se agora que as controversas obras do Metro (muitos consideram o traçado um erro crasso) estão atrasadas e derraparam, até ver, em 500 milhões de euros, num orçamento que se previa de 1700 milhões. A conta vai para a bazuca que deveria servir prioritariamente para animar a economia produtiva, que está anémica. 

 

5. Já estamos na época balnear. Todos os anos é mais complicado procurar uma praia nos arredores dos grandes centros para gozar um merecido descanso. Na linha Oeiras/Cascais/Estoril e na Costa de Caparica surgem grupos, ou, melhor, bandos de jovens que gritam, berram e, como se não bastasse, ainda levam gigantescas colunas de som que fazem um barulho ensurdecedor. É bem-vinda a convivência intercultural na sociedade portuguesa, mas não pode ser à conta da tranquilidade da maioria. Basta passar pelas margens do Tejo, entre Belém e Alcântara, no fim de semana, para verificar que o fenómeno da música aos berros também abunda ali. Essa atitude incivilizada, que perturba desde logo crianças de tenra idade que são levadas à praia ou a passear, é ignorada pelas múltiplas entidades que têm obrigação de intervir sobre a matéria: Polícia Marítima, PSP, Polícias Municipais, GNR, Câmaras, ASAE e, pelos vistos, também não é para isso que serve o SIS… Quem permite? Quem ganha com isto? Ou será medo? Depois queixam-se do crescimento dos movimentos autoritários radicais de direita e de esquerda, que fazem do chavão de que a liberdade de um acaba onde começa a do outro uma bandeira política.

 

6. Fumar é cada vez mais dificultado pelos governos em todo o mundo civilizado. Portugal não é exceção. Não se discute a bondade da intenção. Já o método do politicamente correto à força não é o melhor. Veja-se que os sítios onde se compram os diversos tipo de cigarros, cigarrilhas, jornais, revistas, lotarias, raspadinhas (outra praga), ou se pagam contas e se renovam passes se chamam…tabacarias. Só isso diz muito sobre o impacto económico imediato que pode ter uma ação radical nas atividades onde o tabaco é uma fonte importante de receita. É o caso dos milhares de cafés, restaurantes e até de estações de serviço onde o tabaco é fonte essencial de receita, tal como o álcool que se bebe praticamente em todo o lado de forma livre. Nesta fase, também não parece razoável confundir os diversos tipos de cigarros disponíveis. Até porque algumas soluções apareceram para minorar os efeitos do tabaco convencional. Como é evidente, a dificuldade acrescida de ter acesso ao tabaco será uma oportunidade para a venda socapa, a contrafação e o contrabando. Nas medidas anunciadas falta uma ação para recolher os milhares de milhões de filtros e beatas que juncam o chão português. Um nojo! Uma enorme falta de civilidade pela qual ninguém é multado e que dá origem a resíduos que levam anos a dissolver-se, causando graves danos ambientais. Se calhar, isso incomoda mais os não fumadores do que ter alguém exalar fumo a quatro metros de distância numa esplanada. Ou então ter um tipo a charrar mesmo ao lado, situação que muitos acham que cabe nas novas liberdades, enquanto aceitam estas ditaduras de costumes que, qualquer dia, levam a banir o cozido à portuguesa, a feijoada, a dobrada, o bitoque, a muamba, o pastel de nata e sabe-se lá mais o quê…

Ala que se faz tarde!


O novo clima político entre Marcelo e Costa é mais claro, mas os principais problemas do país mantêm-se. 


1. Até ver, não parece ser negativo o afastamento político verificado entre Marcelo e Costa. Diluiu-se a sensação de nacional-porreirismo e até de cumplicidade, com o presidente a aparecer regularmente a dar cobertura ao primeiro-ministro. E este a aproveitar-se disso para fugir a responsabilidades políticas dele ou de alguns erráticos membros do Governo. Os papéis de cada um são diferentes constitucionalmente. É por terem essa noção que os portugueses em regra não põem os ovos políticos no mesmo cesto, escolhendo maiorias presidenciais e governativas diferentes. Há outra expressão popular que se pode usar, sem naturalmente atingir a honorabilidade dos protagonistas: cada macaco no seu galho. É assim que deve ser. Tudo ao molho dá sempre mau resultado. As coisas estão mais claras, o que não impedirá que haja desejáveis momentos de boa convivência e de concordância política. 

 

2. Diariamente, dezenas de jovens, muitos deles recém-licenciados, abandonam Portugal à procura de países onde possam ganhar a vida, ter conforto e horizontes de futuro. Cada um de nós conhece ou tem familiares nessas condições. Já a vinda de imigrantes, que é positiva, não compensa em qualidade o que perdemos, embora sejam contas distintas que não se podem confundir. A maioria dos chegam optam por trabalhos que os que partem não aceitariam, dadas as suas habilitações. São fenómenos que comunicam, mas que têm naturezas diferentes. Simultaneamente, verifica-se que há cada vez mais pais que se esforçam para que os filhos estudem no estrangeiro, apesar do sacrifício que isso implica. São mais uns quantos milhares de jovens formados fora e que dificilmente voltarão, a não ser para férias. Tão grave como a saída de jovens quadros é o que se está a passar com empresários de sucesso que desistem de ter Portugal como quartel-general. Mesmo que continuem a contar com o nosso mercado, é lhes mais barato ter a atividade sediada fora, desde logo porque não sofrem os atropelos burocráticos, não se confrontam com uma justiça ineficaz e pagam menos impostos, como o IRC. Na espuma da política temos tendência a omitir estas realidades sistemáticas que não fazem manchetes, mas que são a raiz de certos problemas. Não é verdade que haja menos portugueses e que tenhamos um problema de gente. Com passaporte nacional somos mais, entre os que se naturalizam por ascendências diversas e os que têm direito pelo tempo de permanência. Mas, até parte desses, logo que podem, fogem daqui a sete pés. A isso se juntam muitos lusodescendentes que não pensam alguma vez viver cá. Um país de expatriados é um país sem futuro. E até, pelos vistos, António Costa está mortinho para dar às de vila-diogo com uma ajuda do PR, a avaliar pelo que se leu no Nascer do SOL. Ala que se faz tarde, é novamente a palavra de ordem nacional. Como nos anos 60! Triste sina!

 

3. Arrasta-se a trapalhada à volta da intervenção do SIS no “galambagate”. O episódio pôs em evidência que não se sabe para que serve o SIS em concreto, o que faz, quem manda e que intervenção tem o Governo na atividade daquele e, porventura, do outro serviço de informação de que a República está dotada. Ficou exposta novamente a nossa fragilidade em matérias estratégicas de segurança. Tal qual como na Defesa Nacional, onde o caso Mondego nos cobriu de ridículo. Torna-se indispensável uma comissão de inquérito parlamentar à atividade do SIS, uma vez que a entidade que o fiscaliza não está à altura, seja por preguiça, incompetência ou beneplácito. Ou mesmo as três coisas somadas. Os próximos dias prometem, entretanto, grande animação com as idas dos truculentos inimigos Pinheiro e Galamba (Galamba mau, a fim de o distinguir de António Galamba, o bom, ilustre cronista do i). Se as oposições, designadamente a do PSD, forem competentes é pouco provável que Galamba saia de lá com condições para se manter ministro. Com essas audiências o circo está garantido. Araújo Pereira, uma espécie bobo do regime, tem material garantido para faturar.

 

4. A cerca de dez semanas das Jornadas da Juventude (JMJ), Lisboa está um caos e a vinda de um milhão de peregrinos é motivo de grande preocupação logística. Como vai ser a circulação, designadamente entre os três grandes pontos das JMJ: Expo, Parque Eduardo VII e Passeio Marítimo de Algés? As linhas do Metro estão um caos, as alternativas ridículas e a circulação linear junto ao Tejo está cortada na Baixa de Lisboa. Embora não aumentem de imediato a enorme confusão que se vive, soube-se agora que as controversas obras do Metro (muitos consideram o traçado um erro crasso) estão atrasadas e derraparam, até ver, em 500 milhões de euros, num orçamento que se previa de 1700 milhões. A conta vai para a bazuca que deveria servir prioritariamente para animar a economia produtiva, que está anémica. 

 

5. Já estamos na época balnear. Todos os anos é mais complicado procurar uma praia nos arredores dos grandes centros para gozar um merecido descanso. Na linha Oeiras/Cascais/Estoril e na Costa de Caparica surgem grupos, ou, melhor, bandos de jovens que gritam, berram e, como se não bastasse, ainda levam gigantescas colunas de som que fazem um barulho ensurdecedor. É bem-vinda a convivência intercultural na sociedade portuguesa, mas não pode ser à conta da tranquilidade da maioria. Basta passar pelas margens do Tejo, entre Belém e Alcântara, no fim de semana, para verificar que o fenómeno da música aos berros também abunda ali. Essa atitude incivilizada, que perturba desde logo crianças de tenra idade que são levadas à praia ou a passear, é ignorada pelas múltiplas entidades que têm obrigação de intervir sobre a matéria: Polícia Marítima, PSP, Polícias Municipais, GNR, Câmaras, ASAE e, pelos vistos, também não é para isso que serve o SIS… Quem permite? Quem ganha com isto? Ou será medo? Depois queixam-se do crescimento dos movimentos autoritários radicais de direita e de esquerda, que fazem do chavão de que a liberdade de um acaba onde começa a do outro uma bandeira política.

 

6. Fumar é cada vez mais dificultado pelos governos em todo o mundo civilizado. Portugal não é exceção. Não se discute a bondade da intenção. Já o método do politicamente correto à força não é o melhor. Veja-se que os sítios onde se compram os diversos tipo de cigarros, cigarrilhas, jornais, revistas, lotarias, raspadinhas (outra praga), ou se pagam contas e se renovam passes se chamam…tabacarias. Só isso diz muito sobre o impacto económico imediato que pode ter uma ação radical nas atividades onde o tabaco é uma fonte importante de receita. É o caso dos milhares de cafés, restaurantes e até de estações de serviço onde o tabaco é fonte essencial de receita, tal como o álcool que se bebe praticamente em todo o lado de forma livre. Nesta fase, também não parece razoável confundir os diversos tipos de cigarros disponíveis. Até porque algumas soluções apareceram para minorar os efeitos do tabaco convencional. Como é evidente, a dificuldade acrescida de ter acesso ao tabaco será uma oportunidade para a venda socapa, a contrafação e o contrabando. Nas medidas anunciadas falta uma ação para recolher os milhares de milhões de filtros e beatas que juncam o chão português. Um nojo! Uma enorme falta de civilidade pela qual ninguém é multado e que dá origem a resíduos que levam anos a dissolver-se, causando graves danos ambientais. Se calhar, isso incomoda mais os não fumadores do que ter alguém exalar fumo a quatro metros de distância numa esplanada. Ou então ter um tipo a charrar mesmo ao lado, situação que muitos acham que cabe nas novas liberdades, enquanto aceitam estas ditaduras de costumes que, qualquer dia, levam a banir o cozido à portuguesa, a feijoada, a dobrada, o bitoque, a muamba, o pastel de nata e sabe-se lá mais o quê…