O outro lado do trabalho. Entre o subsídio de desemprego e os biscates

O outro lado do trabalho. Entre o subsídio de desemprego e os biscates


José António recebia o subsídio de desemprego, mas inscreveu-se numa plataforma para fazer biscates. Luísa também trabalha através da TaskRabbit. Sofia está no fundo de desemprego há sete meses e não pretende mudar de situação brevemente.


Apesar de o valor médio da prestação mensal do subsídio de desemprego ter caído, em fevereiro, 2,6 euros para 573,46 euros comparativamente com o montante relativo a janeiro, de 570,89 euros (mas um crescimento de 25,33 euros face ao valor médio do subsídio registado em fevereiro de 2022: 548,16 euros), Sofia continua a acreditar que vale mais auferir este montante – no seu caso, há sete meses – do que ter um trabalho fixo.

“Já tive empregos completamente distintos e acho que essa não é a solução. Por agora, vou continuar com o subsídio e a fazer trabalhos de estética ao domicílio. Para mim, é muito mais fácil e vantajoso cortar cabelo, pintar unhas e fazer depilações, por exemplo, e tirar o dinheiro ‘limpo’, do que ter um emprego e ainda descontar para a Segurança Social.

Sinto-me muito melhor a exercer a atividade desta forma e não estou minimamente arrependida. Se aconselho que outras pessoas o façam? Penso que cada um deve fazer aquilo com que se sente melhor e há vantagens e desvantagens em todas as opções”, diz, sendo uma das 139 303 beneficiárias, o que representa cerca de 76% do total de desempregados que existem em território nacional. “Partidos como o Chega querem combater a subsidiodependência, mas a verdade é que estas medidas existem por algum motivo e temos de saber aproveitá-las.

Não para sobrecarregar o Estado nem nada parecido, mas sim porque nos podem ser extremamente úteis em determinadas fases da vida”, conclui.

Já José António trabalhou em restauração durante 15 anos, mas ficou desempregado durante o pico da pandemia. “Era empregado de mesa e os meus patrões ainda fizeram take-away, mas não foi o suficiente para cobrir as despesas”, desabafa, em declarações ao i, o homem que recebeu o subsídio de desemprego durante quase dois anos. No entanto, decidiu que esse montante não lhe bastava, pois tem dois filhos menores, e pôs mãos à obra. “Procurei emprego em jornais, online, falei com conhecidos… Mas só encontrava trabalhos a part-time e não compensava”.

E foi assim que encontrou a TaskRabbit, plataforma que chegou a Portugal exatamente há três anos, e se tornou num tasker, fazendo trabalhos pontuais. “Sempre tive jeito para fazer biscates e pensei ‘Porque não?’. Então, inscrevi-me e, desde aí, tenho ganho bastante dinheiro”, confessa, explicando que faz “um bocadinho de tudo”, dependendo daquilo que os clientes pedem. ‘Só porque a montagem pode ser feita por si, não significa que deva fazê-la’ é a frase que encontramos quando acedemos à TaskRabbit e surge uma caixa de pesquisa com a mensagem ‘Preciso de ajuda com…’ e sugestões como ‘montagem de móveis’ ou ‘manutenção’. Quando fazemos scroll, deparamos com os ‘projetos populares’ na nossa zona e aparecem os intervalos de preços. Por exemplo, na zona de Oeiras, a montagem de mobiliário, em média, varia entre os 22 e os 56 euros, a ajuda com canalização entre os 25 e os 54, a montagem de mobiliário IKEA entre os 27 e os 78, etc.

“Nunca tive uma má experiência e recebi sempre o dinheiro a tempo e horas. Os colegas com quem falo também só têm coisas boas a dizer da TaskRabbit. Sei que existem outras plataformas semelhantes, mas esta é aquela que tem funcionado para mim. E, sem dúvida, permite que tenha uma vida mais desafogada e que possa dar miminhos aos meus filhos”, avança, indo ao encontro da perspetiva de Luísa que, apesar de concordar com José António, tem-se sentido algo discriminada por ser mulher. “Não diria que acontece todos os dias, mas já tive serviços cancelados quando os clientes veem que sou mulher. Se é desagradável? Claro que é, mas simplesmente espero pelo próximo e tento continuar com um sorriso na cara e boa disposição!”, conta a mulher que vive exclusivamente dos biscates e é mãe de uma menina pequena. 

“Afinal, este é o meu ganha-pão e não me posso dar ao luxo de o perder. Muito menos depois de uma pandemia, em que o contexto económico ainda está tão instável”, sublinha. “Já passei por tantos empregos diferentes e tão mal remunerados que agora sinto que estou finalmente a receber bem e não posso desperdiçar esta oportunidade”, diz, sendo que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, a taxa de desemprego em Portugal desceu de 7% em janeiro para 6,8% em fevereiro. Contudo, manteve-se acima do nível mais reduzido da série, de 5% verificado em janeiro de 2001.

‘Não tem de tentar fazer tudo. Recupere tempo para o que é importante sem dar cabo da conta bancária. Escolha taskers pelas avaliações, competências e preço. Agende quando for bom para si — até mesmo hoje. Converse, pague, dê gorjetas e avalie, tudo numa plataforma’, promete a TaskRabbit, que tem permitido a José António e a Luísa uma vida de menos sufoco e incerteza.