Por Joaquim Jorge
Marcelo Rebelo de Sousa, pelos sete anos de mandato, deu uma entrevista que me surpreendeu pela positiva. Marcelo tem o dom de falar muito e acertar muitas vezes, a maioria das pessoas que falam muito, acertam poucas vezes.
Marcelo Rebelo de Sousa é o rei do caos, quando tudo parece perdido, consegue quando há incerteza e perturbação, tornar-se o actor principal, o contraponto e o espelho convexo que lhe proporciona um amplo ângulo de visão.
Marcelo Rebelo de Sousa, até agora, serenou a crispação na sociedade portuguesa, pelo ambiente pós-Troika e, pela habilidade de António Costa, que foi primeiro-ministro sem ter ganho as eleições.
Porém, Marcelo Rebelo de Sousa foi o “joker” do anterior governo minoritário de António Costa, as suas características especiais e maneira de ser seguraram sempre o governo.
Agora, António Costa com uma confortável maioria absoluta, Marcelo Rebelo de Sousa mudou o chip.
Marcelo Rebelo de Sousa tem uma capacidade inata de observação, até mesmo, abstração dentro da sua própria perplexidade vital.
Marcelo Rebelo de Sousa é um “presidente de televisão”, não é um presidente de gabinete, adora estar com pessoas e aparecer, em que ocupa o espaço mediático e permite que António Costa desapareça.
Porém, como professor tem a capacidade de falar e perceber o que se passa à sua volta. O governo de António Costa, apesar de ter o seguro de vida de uma maioria absoluta, perdeu o apoio do PCP e BE. A contestação na rua e por todo o lado é evidente, constante e marcante.
Marcelo Rebelo de Sousa apesar de ser um conciliador, em vez de revolto e tumultuoso, já percebeu que este governo tem cometido erros de palmatória e que já deu azo, por diversas vezes, para ir embora. O governo tem feito tudo para se suicidar.
Marcelo não tem o impulso de dissolver o Parlamento, mas os nós górdios deste governo podem obrigá-lo a isso.
Marcelo que foi confrontado por um português na rua que lhe disse: “fala muito bem, mas não faz nada”. Pode reflectir no que ouviu e ter que fazer alguma coisa.
Marcelo é um homem educado, avesso a confrontos, mas esta entrevista deu um ponto de viragem na sua forma de entender o seu relacionamento com o governo.
Marcelo nesta entrevista confessou-se aos portugueses: vou manter o governo, mas não eternamente.
A procissão ainda vai no adro, mas o andor está a cair.
Fundador do Clube dos Pensadores