Bem-vindas ao mundial!

Bem-vindas ao mundial!


O selecionador prometeu e a equipa cumpriu. Venceu os Camarões e vai participar, pela primeira vez, no Campeonato do Mundo. É a emancipação do futebol femininio português.


O triunfo de Portugal sobre os Camarões (2-1), com golos de Diana Gomes e Carole Costa, é um momento único no futebol nacional e tornou-se um momento especial quando se ouviu o Melhor de Mim, de Mariza, na instalação sonora do estádio em Hamilton, na Nova Zelândia – os festejos tiveram outro sabor. Depois da participação no Euro 2022, a seleção feminina volta aos grandes palcos com a presença no Campeonato do Mundo, que se realiza na Austrália e Nova Zelândia, entre julho e agosto deste ano. Era escusado sofrer tanto no 13.º jogo da campanha que consolidou o estatuto internacional da seleção porque, na verdade, Portugal foi muito superior aos Camarões em termos individuais e coletivos. 

No playoff intercontinental, Portugal foi a melhor equipa, criou mais oportunidade de golos e revelou também uma arreliadora pontaria, conseguiu que três remates batessem nos postes. Embora a vantagem tenha sido curta, o domínio da equipa das Quinas refletiu-se em 20 remates à baliza contra oito dos Camarões. 

A temida força da equipa africana só apareceu nos minutos finais, quando colocou mais jogadoras no ataque e aproveitou a desconcentração das portuguesas para fazer o empate aos 89 minutos. Já no tempo de descontos, uma grande penalidade a favor de Portugal deu justiça ao resultado. Ganhou quem jogou mais e melhor, e as ‘Leoas Indomáveis’ podem dar-se por satisfeitas por terem perdido pela diferença mínima. 

O dia mais feliz

Carole Costa marcou o penálti (94 minutos) que deu a vitória a Portugal, e estava duplamente feliz: «É o dia mais feliz das nossas vidas. Ainda nem consegui chorar, ainda não me ‘caiu a ficha’. Estamos tão felizes que só queremos festejar. Este grupo batalhou muito para estar no Campeonato do Mundo. Não é um momento fácil sofrer um golo nos últimos minutos mas, felizmente, tivemos a oportunidade do penálti. Queria muito marcar e, felizmente, a bola entrou. É o dia mais feliz da minha vida, sem dúvida alguma», afirmou ao Canal 11. 

Aos 31 anos, Dolores Silva vai cumprir o sonho de uma carreira que é participar no Campeonato do Mundo. «É difícil expressar o que sentimos neste momento, um momento esperado por muitas gerações e que pode abrir portas para o futuro. Ainda não temos noção da grandeza do que acabámos de fazer, mas estamos extremamente orgulhosas porque lutámos muito e trabalhámos muito. Que temos muita qualidade e merecemos estar no Mundial. É o momento de todos perceberem que nós mulheres temos feito um grande trabalho, grande evolução e merecemos que nos continuem a dar a mão e o futebol tem um grande futuro pela frente», afirmou a capitã portuguesa, que confidenciou: «Crescemos juntas, trabalhamos juntas, erramos juntas, choramos juntas, festejamos juntas e aquilo que mais tento passar é isso. E o acreditar. Tento sempre passar a mensagem para sermos nós próprias. Cada uma de nós, com a sua personalidade, pode trazer algo de melhor ao grupo». Dolores Silva fez ainda questão de lembrar gerações anteriores que «foram pioneiras, abriram portas para hoje estarmos aqui e estarmos a ser um exemplo para as mais novas. Este é um momento muito feliz para o futebol português». 

A FIFA atribuiu a Tatiana Pinto o prémio de Melhor Jogadora do encontro. «O prémio não interessa, o importante é estarmos no Mundial. Entrámos muito bem e podíamos ter resolvido o jogo na primeira parte, depois sofremos um pouco por culpa própria, mas conseguimos dar a volta», afirmou a médio.
Foi um caminho longo, mas a equipa portuguesa fez o que nunca tinha sido feito. Francisco Neto assumiu o comando da seleção em 2014 e, no final do jogo, era um selecionador feliz e emocionado. «Levo deste jogo alguns nervos e, acima de tudo, muitas emoções e uma felicidade imensa que quero partilhar com todos os portugueses, com clubes e com a estrutura da Federação Portuguesa de Futebol. Disse às jogadoras que esta direção teve a ousadia de, no seu plano de objetivos para esta época, colocar Portugal no Euro e no Mundial. Conseguimos concretizar o desejo da direção, e isso orgulha-nos muito. Era um objetivo difícil, mas, depois da mensagem do presidente, só tínhamos de o concretizar», sublinhou o técnico nacional. 

Sempre muito extrovertida, a guarda-redes Patrícia Morais estava eufórica com o apuramento. «É aproveitar ao máximo e desfrutar do momento. Atingimos o patamar mais alto no futebol, agora é continuar o trajeto e trabalhar para fazer um grande mundial», disse à televisão da FPF. 

Este apuramento é o corolário da evolução registada no futebol feminino nos últimos anos, e representa a valorização da jogadora portuguesa num meio onde existe discriminação salarial e de condições de treino e jogo. Este êxito desportivo vai, certamente, contribuir para acelerar o desenvolvimento da modalidade, desde os escalões de formação até aos seniores, onde há realidades bem distintas. As 25 jogadoras que estiveram no playoff intercontinental são profissionais, mas no contexto nacional a maioria dos clubes e das atletas que disputam o campeonato nacional ainda estão num estado de (quase) amadorismo. Na última década o número de praticantes federadas quase triplicou, é agora de 13 239, e vai ser curioso avaliar o impacto que esta geração tem no aparecimento de novas praticantes que anseiam repetir os feitos agora conseguidos. 

Se existirem os apoios indispensáveis – os patrocinadores vão ser muito importantes – o futebol feminino pode ter um crescimento sustentado com foco na igualdade entre homens e mulheres, e atingir um patamar elevado no futebol europeu porque ficou demonstrado que temos jogadoras com enorme talento.

Na elite mundial
Concretizado o apuramento para o Campeonato do Mundo, Portugal já sabe o que o espera, e não é coisa boa. No primeiro jogo defronta os Países Baixos, vice-campeões do mundo (23 de julho), segue-se o Vietname (27 de julho) e termina com os Estados Unidos (1 de agosto), campeões em título. Os três jogos realizam-se na Nova Zelândia. As duas primeiras classificadas do grupo passam aos oitavos de final. É um grupo extremamente difícil, que obriga a seleção a jogar ao mais alto nível, mas, por outro lado, dá enorme projeção mediática ao defrontar as duas primeiras classificadas do último Mundial.