Beatriz Rubio “O dinheiro é importantíssimo mas é o reconhecimento que dá a felicidade”

Beatriz Rubio “O dinheiro é importantíssimo mas é o reconhecimento que dá a felicidade”


É cabeça, corpo e membros da Remax mas conta com uma equipa de cerca de 10 mil pessoas… mais do que a GNR. Contrata em supermercados, Uber e até na Via Verde e não tem dúvidas que o reconhecimento é a principal recompensa no trabalho. Atualmente não tem ninguém a ganhar o salário mínimo e…


Nasceu em Saragoça, numa família de empresários. Sempre quis seguir esses passos?

Estudei Economia e sempre gostei deste meio e de números. O meu pai era engenheiro, tinha uma empresa industrial e ia muito ao vento das crises. Sempre que havia uma crise, o negócio caía e, por isso, tinha um pouco de receio. Por outro lado, gostava muitíssimo de abraçar uma empresa, que era o meu sonho na altura, com 16 anos e já estava super focada nisso, que era a L’Oréal. Uma empresa hiper, mega feminina. Quando termino a universidade, começo o mestrado e, quando acabo, uma das empresas que me apareceu foi a L’Oréal e apresentei-me de cabeça.

E ficou…

E fiquei. Também estive na Mackenzie e em algumas consultoras, mas tinha um objetivo muito claro que era a L’Oréal. Muitas pessoas diziam-me para ir para consultoria porque tinha mais saídas.

A tendência seria essa…

Claro, estudei economia que, na altura, eram cinco anos e ainda fiz um mestrado de dois. Entrei num mestrado que era considerado dos melhores da Europa, em que passávamos seis meses em França. Como falava francês, estava tudo certo. Eram oito mulheres e 80 homens nesse mestrado. As mulheres ainda tinham muito para pedalar nessa altura.

Sempre sentiu que a veia empresarial estava no seu ADN?

Gosto muito que os resultados dependam de mim, porque quando temos um chefe por cima que nos diz o que temos de fazer, esses resultados não dependem tanto de nós. É claro que há sempre condicionantes, como as leis, o Governo, as crises, os condicionantes externos, que nos fazem alterar tudo. Mas isso é uma regra de base com que todos jogamos. Depois vai depender de nós, da nossa atitude, o que vamos conseguir na vida.

E este último ano houve grandes desafios…

Muitos. Mas levamos 29 anos em Portugal, 22 anos com a Remax, dentro dos quais depois já desenvolvemos outras franquias que são a MaxFinance e a LeaseCapital, que é de carros. A MaxFinance trata de tudo o que é de crédito hipotecário e pessoal, o que é muito bom porque vemos qual é a capacidade de investimento que uma pessoa tem antes de comprar uma casa.

Às vezes não há uma sensação de ilusão entre o que as pessoas querem e o que podem?

Há uma ilusão. Por exemplo, os sites têm simuladores para o crédito, mas esquecem-se de que, além do que tem de pagar pela prestação do crédito existe o seguro de vida, o seguro multirriscos, o IMI, os impostos todos, os custos de uma escritura. No fim, se calhar são  quatro mil euros a mais e a pessoa fica com a corda no pescoço a pensar onde é que vai buscar mais esse dinheiro.

É fácil gerir essas expectativas?

Acho que, em vez de criar uma expectativa mostrando casas de um determinado valor, é preferível saber a capacidade financeira que uma pessoa pode ter e começar a mostrar casas desse valor. Se mostro uma casa de 300 mil euros e, depois, só pode comprar por 200 mil há uma grande diferença entre essas duas casas. Então a pessoa irrita-se e diz que não quer.

Em jovem, quando ainda estudava, chegou a trabalhar em empresas como o El Corte Inglés. É importante para o futuro?

Para ganhar alguma experiência… Sim. Em minha casa era muito claro: se queríamos dinheiro tínhamos a mesada e se queríamos mais dinheiro tínhamos de trabalhar. Essa forma de ser dos meus pais marcou-nos muito, tanto ao meu irmão como a mim. Sabe porque é que é importante? Para percebermos que não podemos ter tudo de mão beijada por muito boas condições que tenhamos. E éramos uma família de classe média, média alta com melhores e piores momentos, por o meu pai ser empresário. Ter de trabalhar para ganhar independência é bom e faço o mesmo com os meus filhos. Quando tinha 19 anos comecei a trabalhar nos saldos do El Corte Inglés. Ganhava-se à comissão e como sou muito boa a vender, como crio argumento e empatia vendia muitíssimo. Fui rainha durante um ano, tinha dinheiro para tudo. Podia esquiar, podia comprar o que queria.

E como é que vem para Portugal? Foi amor à primeira vista?

A viagem de fim de ano da universidade foi para Portugal. E lembro-me de estar em Cascais – e já namorava com o meu marido e sócio – e disse-lhe ‘se algum dia casarmos, até gostava de morar aqui’. Engraçado. Gostei do lugar. Também gostei de Lisboa, mas gostei mais do mar. Também porque sou de Saragoça que é uma cidade que não tem mar. Só tem um rio e é um calor no verão que se morre, com 50 graus, e um frio no inverno de -5, -6 graus. São extremos. Então surgiu a possibilidade para o Manuel de vir com o Dia (Mini Preço) e pedi à L’Oréal para mudar. E tive também um fator sorte. Havia uma francesa que queria voltar para França e ocupei o seu lugar. Era chefe de produto em Espanha e vim para Portugal para ser diretora e com aumento.

Nunca se arrependeu dessa decisão?

Não. Viemos por três anos, depois prolongaram-nos por mais três e ao fim de seis anos a empresa já não tinha a mesma regalia de ter uma pessoa de fora. Então propuseram-me Paris e ao Manuel a China. Nessa altura, decidimos que queríamos ser empresários e montarmos a nossa conta. Foi o Manuel que avançou e fui trabalhar para a Jerónimo Martins como diretora de compras para sustentar a família. Na altura já tínhamos duas meninas, uma acabada de nascer, com três meses e a outra tinha pouco mais de um ano e meio. Alguém tinha de sustentar a família. Ser empresário é muito giro, mas é preciso ter sempre dinheiro por trás para dar segurança e sempre quisemos ser muito independentes dos nossos pais. E se corre mal? Como somos empresários nunca sabemos como vai correr. Então metemos todo o dinheiro que tínhamos e não tínhamos e não havia opção: tinha de correr bem.

Antes de lançarem a Remax, houve um projeto com a Expo…

Esse é um projeto que gosto muito porque foi uma loucura. Estávamos a andar de bicicleta na Serra de Sintra e o Manuel diz ‘já ouviste as notícias de que não há camas para a Expo?’. E respondo: ‘Se não há camas, nós arranjamos’. Tínhamos um T2. Imaginem, com duas crianças, onde é que queríamos colocar camas? O Manuel já trabalhava na parte imobiliária de supermercados e sugeriu vermos um terreno para montar um parque de campismo. Mas um parque de campismo era muito rasca e muitos clientes queriam um hotel, queriam a sua casa de banho. Se fossem dormir numa tenda depois iam partilhar as casas de banho? Como ainda estava ligada à L’Oréal tinha de ir esse mês a França, onde havia cabanas pequeninas, muito bonitas de madeira, pré-fabricadas. Alugámos essas cabanas que tinham tudo: casa de banho, uma mini kitchenette, o suficiente para o pequeno almoço e jantar. Colocámos a um preço inferior de um hotel com uma capacidade de quatro ou seis pessoas. Encheram. Depois tínhamos a oferta de campismo para poder dar um leque de produtos para os diferentes tipos de consumidores.

E foi um sucesso?

Tivemos meses muito bons e meses não tão bons. No fim foi bom.

Em que zona?

Em Alcochete, no terreno mais feio que existia na altura. Não tínhamos mais dinheiro. Não havia nenhuma árvore, imaginem o calor, o sol batia de frente. A ponte Vasco da Gama ainda para ser inaugurada e, um mês antes, as obras pararam porque tinha morrido um engenheiro. Ficámos preocupados porque se a ponte não fosse inaugurada não haveria ligação Montijo-Alcochete. As pessoas já não se lembram, mas para ir do Montijo a Alcochete ou se ia pela ponte de Vila Franca ou pela Ponte 25 de Abril e não havia autoestrada criada. Demora cerca de 1h30 e, se assim fosse, a nossa ideia ão teria sucesso porque o caminho era um drama. A ponte foi inaugurada. Um dia antes da abertura da Expo colocámos autocarros que levavam Alcochete-Expo e Expo-Alcochete, ao nosso camping. Foi mesmo muito criativo. E o que negociámos – porque não tínhamos dinheiro – foi pagar sempre dois meses depois. Ou seja, encaixávamos dinheiro, pagávamos a luz, a água, as despesas todas e dois meses depois pagávamos o aluguer das casinhas de madeira.

E o negócio deu lucro?

Com esse dinheiro comprámos os direitos da Remax para Portugal, na altura, por 20 anos, agora já renovámos por mais 25.

Manuel Alvarez era o rosto da Remax e a Beatriz estava nos bastidores

Sim, totalmente. Primeiro, ainda estava na Jerónimo Martins, mas ao fim de semana controlava toda a parte financeira e o marketing, áreas onde sempre fui muito forte. Dirigimos muitas pessoas, não posso dizer que estou sozinha a dirigir porque não é verdade. A dirigir comigo está o Manuel, o António Falé, que é o diretor geral e, agora, outro diretor e também já tenho uma filha comigo. Somos mesmo muitas pessoas porque são 10 mil em Portugal. Somos mais que a GNR. Sei pelos números de telefone que no outro dia me disseram. A Altice disse-me: ‘vocês já ultrapassaram a GNR’.

Fala português, ainda que com algum sotaque, a língua nunca foi nenhum entrave?

A minha mãe é da Bolívia, fronteira com Brasil. Então havia muitas palavras brasileiras que já sabia. Por exemplo, utilizava em casa a palavra ‘caneca’ que, em espanhol, se diz jarra. No primeiro mês na L’Oréal tinha aulas e mesmo assim só falava em francês. Só pensava em despedir-me. Chorava de noite porque não entendia nada. Mas depois é dar-lhe força. Tenho muito jeito para os números, mas não tenho muito jeito para as línguas. Falo quatro línguas e tudo misturado. Falo ‘espanglish’, falo francês, como dizemos em Espanha ‘franchute’, falo o meu ‘portunhol’ e agora falo ‘espanholês’, como dizem em Espanha.

Vai com muita regularidade a Espanha?

Não muito. A nossa vida já está totalmente aqui. Temos três filhos que são portugueses. A mais velha é médica, a segunda veio para cá [Remax] e o último vai sair agora do 12.º ano e sai de casa.

Com três filhos como foi gerir a vida de mãe e de empresária?

É difícil. Por exemplo, a primeira filha tive-a na L’Oréal, a segunda também, mas já tinha apresentado a carta de demissão porque ia para a Jerónimo Martins. Por exemplo, na Jerónimo Martins, trabalhava na parte do Recheio, um cash & carry, tipo Makro. Eles abrem às 6h da manhã e fecham por volta das 21h, 22h, já não me lembro bem do horário. Entrava às 8h e tinha dois infantários, porque estava em Braga. Como estávamos a iniciar um negócio, um dos dois tinha de levar dinheiro para casa. Foi uma opção de casal. A princípio o Manuel ia ficar com as miúdas mas, como mãe, não conseguia. Não é que ele não conseguisse, ele é muito bom pai, mas tinha uma dor de coração que não conseguia. Mas precisávamos do dinheiro. Não me podia despedir. Então negociei. Eles pagavam-me um infantário no Norte e tínhamos um infantário aqui que pagávamos nós. Se estava no Norte ia com as miúdas.

Foi fácil para elas ou não se lembram?

A Paty não se lembra porque tinha seis meses. Foi dos seis meses até aos dois anos e meio. A mais velha lembra-se. Diz que se lembra de ir a um parque gigante em Braga, todos os dias. Era o parque do McDonalds que ficava em frente ao hotel. Mas a miúda lembra-se de estarmos ali as três as brincar. E lembra-se que nevava porque em Braga neva, faz frio. Mas não são traumatismos. Acho que na vida temos de aceitar as coisas sem traumatismos. É assim, é assim. E temos de mostrar toda a força e alegria para que saia bem. Claro, se vou todos os dias a chorar no carro, por muito que fossem muito pequenas, ouviam e  essas memórias ficam. Agora se digo para irmos brincar e mostrar felicidade…

As pessoas que vivem muito tempo cá nunca se sentem totalmente portugueses e, quando vão ao país de origem, sentem-se um pouco estrangeiros. Tem essa sensação?

Isso é verdade, nunca somos de lado nenhum. Mas já sou muito portuguesa. Assumi isso. Quando vim cá por três anos quisemos arrendar uma casa, mas o arrendamento era tão caro, tão caro, que fizemos as contas para comprar. E estamos a falar de há 29 anos. Em Lisboa era impossível, não tínhamos dinheiro. Então fomos para Cascais, que é periferia, uma zona nova que estava a ser feita que é a zona da ria, que agora está cheia, mas há 29 anos os caminhos eram de terra. Lembro-me do primeiro mapa que mando para os meus pais – por fax, claro – a dizer ‘caminho de terra, Boca do Inferno’ e de o meu pai perguntar ‘mas onde é que foste parar?’.

Hoje em dia é o sítio da moda

Mas na altura não era. E até era para aí 30% mais barato do que Lisboa. Por isso, quando me dizem que os preços aumentaram muito, é verdade, mas temos de ter consciência que os preços de arrendamento sempre foram muito caros em Portugal. Também disse ao Manuel que não íamos estar aqui de saída. Fizemos amigos portugueses e ainda bem porque muitas pessoas foram embora e nós ficámos cá.

Entretanto assume a Remax. Houve algum choque?

Não, foi uma mudança muito tranquila, especialmente internamente porque já sabiam que estava a trabalhar. Externamente houve quem questionasse: ‘ai, uma mulher. Será capaz?’. Isso é um aspeto um pouco limitador que têm algumas pessoas e digo algumas pessoas porque não são necessariamente homens. Algumas vezes são mulheres. A minha geração – e acho que alguma da vossa – foi muito criada com um sentimento de que temos de ter cuidado porque se crescemos muito profissionalmente é porque descuramos a família. E não tem por que ser assim. Tenho muita energia. Se ficasse em casa, nestes dias de hoje, não tinha nem marido, nem filhos, nem nada. Há pessoas que podem chegar muito longe sem descurar a família.

Ainda continuam a existir anticorpos por ser uma mulher à frente de uma empresa?

Agora há muito pouco. Mas há 10 anos tive uma pessoa que me disse que não se sentava com uma mulher. Um presidente de uma seguradora.

E o que fez?

Olhei para ele e disse ‘espero que continue casado porque o senhor é uma grande besta’. Levantei-me e fui embora. E nunca assinei protocolo com essa seguradora até que ele foi embora de Portugal, era italiano.

Era o machismo a falar.

Acham normal? Mesmo que o pensemos, acho que é preciso ter o mínimo de educação. Ele estava casado. Já não é por mim. Então o que ele pensava da sua mulher? E das suas filhas? Gostaria que as suas filhas fossem tratadas assim? Temos que nos colocar sempre na posição do outro. Se não gosta de negociar com uma mulher, que não negoceie. Diz que lhe deu uma dor de barriga, por exemplo. Inventava qualquer coisa. Mas pelo menos ficava bem. Dizer isso de caras? Há 10 anos?

Dos três filhos, para já só uma trabalha aqui. Estava à espera que alguns deles seguisse os seus passos?

A mais velha, quando decidiu ser médica, nunca pensei que quisesse ser médica. Juro. Era muito boa em economia e pensei que quisesse estudar isso. Mas mesmo a que veio para cá, esteve antes a trabalhar em consultoria em Espanha e disse-lhe ‘atenção, este foi o sonho do vosso pai e meu. Não tem de ser o vosso sonho’. Não há nada pior que obrigar os filhos. Já é muito triste que passemos 80%, 90% do nosso tempo a trabalhar. Se ainda por cima estamos a fazer algo que não gostamos, mais difícil é.

Deu-lhes asas

Sim. E se decidem agora estar aqui, mas um dia preferem ter uma loja de pipocas, então que montem a loja de pipocas. Por que não? É preferível ser um ser humano feliz do que a seguir o que os pais querem e estar sempre frustrado.

Mas há essa tendência de quem tem um negócio passar aos filhos…

Agora há muito bons diretores. Juro que prefiro isso a que sejam pessoas totalmente frustradas, tristes. Se calhar, pela idade que tenho, são 57 anos, já vi muita coisa. Muitas vezes, quando nos dá a tristeza, é muito difícil sair dela.

Por ser filha de um empresário, quando disse que ia montar um negócio o seu pai não tentou…

Dissuadir-me? Totalmente. Queria que fosse funcionária pública. Eu? Funcionária pública? Eu morro, não posso ser. Deixa-me pelo menos trabalhar para uma multinacional, disse-lhe. Hoje rimo-nos disso. Mas fiz algum mal para que ele me quisesse funcionária pública? Essa é a minha ideia, para mim, atenção. Graças a Deus temos pessoas para tudo no mundo. Há pessoas que trabalham, pessoas que não trabalham e são super felizes. Esta é a minha verdade.

Este mês foi considerada Best Team Leader em Portugal. Como é receber este prémio?

Isso foi o meu melhor presente de Natal. Foi a segunda vez, a primeira foi em 2015. Este ano decidi voltar a apresentar-me e voltei a ganhar com resultados muito bons. O dinheiro é importante, claro que sim, quando temos estabilidade financeira conseguimos até trabalhar de outra forma. Por exemplo, agora os preços são muito altos, há uma inflação brutal, as taxas de juro aumentaram e aumentei ordenados em 40%. Não tenho ninguém com o ordenado mínimo. Porquê? Porque quero que as pessoas estejam a trabalhar e não a pensar como é que vão chegar ao fim do mês. Se a pessoa não consegue chegar ao fim do mês com dinheiro como é que vai estar a trabalhar normalmente? Começa a pensar como é que consegue reduzir custos. O dinheiro é importantíssimo, agora o reconhecimento é que dá felicidade. Se só se ganhar dinheiro, mas é odiado por todos ou ninguém lhe dá uma palavra amiga não vale a pena. Estar no topo também é muito solitário.

E, às vezes, inveja?

Só às vezes? Oxalá que só fosse às vezes.

Desenvolveu uma marca que é a Motiva-te…

Desenvolvi na grande crise de Portugal, em 2011, porque via que as pessoas estavam a sofrer imenso e fiz cerca de 40 sessões de motivação por todo o país, as pessoas não pagavam nada.  A ideia era que fossem para a frente com as suas vidas e não ficassem dependentes de um trabalho. Obviamente que não tinha de ser uma Remax, porque nem todos têm aptidão. Mas o objetivo era continuarem as suas vidas. Caso contrário seria muito complicado.

E teve a noção de quantas pessoas poderá ter motivado? Houve algum reconhecimento?

Recebi muitos emails. Soube de pessoas até muito conhecidas que mudaram a sua vida. Uma delas era jornalista de um jornal e espanhol e deixou tudo para trás e avançou para um novo desafio. É a Virginia López, que entrou no Big Brother em Portugal. Se calhar outras não conseguiram mudar, mas basta uma que consiga que já compensa.

É importante continuar este projeto nesta fase de instabilidade?

É importante. Por exemplo, vou falar agora para o grupo Remax e MaxFinance e, se calhar, depois vou fazer uma sessão aberta ao público. É comum abrir estas sessões em teatros, centros culturais que têm auditórios grandes e as pessoas inscrevem-se e vão.

O que diz nessas sessões?

Por exemplo, na Max Finance vou falar da minha fórmula de sucesso. Não é minha, mas é o conhecimento que vamos adquirindo ao longo da nossa vida – na universidade, nos cursos que vamos fazendo, nos vídeos que vamos vendo – mais habilidades que podem ser inatas ou não. Pode ter habilidade comercial, de empatia. No meu caso era muito virada para mim, não gostava de falar em público, a primeira vez que falei foi na L’Oréal, quase que morria, mas depois faz-se várias vezes e começa a ser mais fácil. Por isso, as habilidades ou são inatas ou têm de ser criadas. A atitude é aquilo que provamos a nós próprios, como vemos a vida e como nos apresentamos perante um problema. Claro que perante um problema digo ‘Ai Meu Deus’, como todos os seres humanos, mas depois tento encontrar soluções. A atitude é que vai determinar o nosso grau de sucesso na vida, seja ele qual for, porque o sucesso nem sempre significa ser uma pessoa muito conhecida ou ser um grande empresário ou ter muito dinheiro. O sucesso até pode representar ter uma vida muito tranquila mas feliz. Há muitas definições de sucesso.

Tem 10 mil colaboradores só na Remax. É fácil motivar as equipas? Falou do aumento de 40% mas tem de ir mais além… Prémios contínuos, tanto internos como externos, e que muitas vezes são placas ou medalhas. Estamos agora a fazer com o marketing umas faixas rosas, como as da universidade, para não ser sempre o mesmo. É o tal reconhecimento que vale a pena. Fazemos também muitas sessões de team building e que acabam quase sempre com um porco no espeto. Fazemos também muitas viagens que foram suspensas com a covid mas temos de retomar. E há o congresso anual, que são três dias e três noites.

Estes 10 mil trabalhadores não têm ordenado fixo…

Não. Os comerciais trabalham todos com comissões. São empresários em nome individual associados a uma marca principal. Os que têm ordenado são os que trabalham na sede.

E isso não é um entrave para captar mais comerciais?

Não. Por isso é que contamos com 10 mil, mas não é para todos. Reconheço isso, mas quem quer consegue. Claro que no início foi mais complicado, aliás quando ligávamos para clientes a dizermos que éramos da Remax chegavam-nos a dizer que não tinham mobílias para restaurar ou quando apresentávamos o balão diziam que tinham muito medo das alturas. Agora é mais simples.

Também é conhecida por recrutar comerciais nos supermercados…

E não só. Também na Via Verde. Uma vez tive de ir à Via Verde e a pessoa que me atendeu era minha seguidora no Facebook e perguntou-me se era a Beatriz Rubio e disse que me admirava muito. Então perguntei porque é que não ia a uma entrevista para ser agente da Remax. Veio, ficou e é uma das melhores.

E nos supermercados também usa esse género de abordagem? Às vezes, sim. Tudo depende de como essas pessoas falam. No outro dia apanhei um Uber e disse que era muito simpático e perguntei porque é que não ia trabalhar para a Remax. Tem agora uma entrevista. Mas faço isso porque acredito no projeto, se não acreditasse não conseguia. Mas como já disse não é para todos, se vejo uma pessoa introspetiva, que não gosta muito de falar então é complicado gerir uma carreira comercial.

E qual é o valor da comissão?

É 50% do valor da comissão. Em 100 mil euros é cinco mil euros, porque o IVA vai para o Estado. Logo é 2500 euros. É um valor simpático. Mas é preciso ter alguém ao lado ou ter poupanças para ajudar nos primeiros meses.

A Remax conta com uma campanha de saldos que não é normal numa mediadora. Como surgiu esta ideia?

Fui eu que pensei nessa campanha. Estava nos saldos da Zara e estava a ver aquelas calças típicas pretas que todas temos, mas queremos mais umas e estava com essas calças nas mãos, vejo outra para ver o tamanho e largo as primeiras. Vem uma senhora e leva-as e isso irritou-me. E pensei se as pessoas quiserem os meus imóveis como querem as calças da Zara isso seria maravilhoso. Fizemos essa campanha que agora chamamos de baixa de preços e conseguimos que muitas casas que estavam à venda, até por valores superiores ao que valiam, baixassem o preço. Até porque a pessoa queria vender mesmo e dava-nos dois meses, janeiro e fevereiro, para vender a um preço inferior. Por exemplo, uma casa de 200 mil euros era colocada à venda por 160 mil. Lembro-me que no primeiro dia, às 3h da manhã estávamos de porta fechada com clientes dentro das lojas. Há arquitetas, não vou dizer o nome porque são muito conhecidas, que esperam a campanha de redução de preços para comprar, remodelar e vender.

Na altura, a concorrência não gostou…

Os meus concorrentes levaram-me a tribunal, mas ganhei.

E como vê o mercado? E qual a tendência?

Até junho de 2022 estávamos num mercado a que chamamos de vendedor, em que quem vendia a casa era o rei. Colocava preços muito altos e como havia falta de produto e havia muitos compradores tudo se vendia. Era caro? Sim, mas as pessoas compravam porque não havia alternativa e achavam que passado dois meses ainda ia custar mais. À medida que as taxas de juro começaram a aumentar deixou de haver tantos compradores. Nem todos os que querem comprar podem, ou podem mas tem de ser uma casa mais barata. E o número de transações desce. Houve um crescimento das transações em 2022, mas porque os primeiros seis meses foram muito bons. Mas no final do ano, o número já estava a descer e o mercado passou a ser aquilo a que chamamos de mercado comprador, onde quem consegue o crédito é o rei. E quem está a vender vai depender muito do comprador. Por exemplo, posso dar por esta casa 185 mil euros. Aceita ou não? Se não aceita vou procurar outra porque é o máximo que posso gastar. O que é que isto faz? As casas já não são vendidas pelo valor que quer o proprietário e começam a descer de preço.

E qual vai ser essa descida?

Pode ser 10, 15 ou 20, mas já começaram a descer. Agora como tudo na vida há um senão. Se querem um típico apartamento na Avenida da Liberdade ou no Chiado como não há oferta o preço continua a ser alto e continua a ser vendido.

Os investidores estrangeiros não contribuíram para este aumento de preços?

Sim, mas no mercado de luxo, porque quer um produto muito específico. Na Remax, a nacionalidade brasileira fez 5.500 compras e pesa 7% e o brasileiro quer sempre um condomínio fechado, por causa da insegurança. Os compradores norte-americanos fizeram 1.400 compras. Mas o nosso mercado continua a ser o português: 87%, seja ele alto, médio, médio-baixo.

E em termos arrendamento?

Em Portugal é muito caro mas porque não há oferta. Claro que uma pessoa quando não tem dinheiro para dar de entrada para a compra de uma casa acaba por arrendar. É como uma pescadinha de rabo da boca porque ao arrendar, essa pessoa depois não consegue poupar para dar de entrada.

O Ministério de Habitação poderá criar essas soluções?

Espero que sim.