O sr. Nascimento


Para mim, falar com ele era como marcar um golo. Felizmente marquei muitos. Não marcarei mais nenhum.


tenho históriAs infinitas para escrever sobre pelé. Conheci-o em Lisboa, há mais de trinta anos, numa promoção a cartões de crédito. Nos cinco minutos em que estivemos juntos pedi-lhe uma entrevista para mais tarde, coisa como deve ser, sem interrupções nem entraves. Prometeu que sim. Que mal estivesse livre me ligaria para a redação de A Bola e que me dispensava o tempo que precisasse. Depois foi mais ou menos como a história do Franque e do Tom Jobim. Conhecem?

O Tom vindo de uma experiência pouco feliz, no Estados Unidos, abatido, passando os dias entre casa e o boteco da esquina bebendo chope com os amigos, espreitando as garotas de Ipanema. Volta e meia o dono do estaminé avisava o Tom: “Cara, está aí um gringo teimoso ligando para você faz dias. Um tal de Franque”. E o Tom, encolhendo os ombros: “Não sei quem possa ser. Esquece ele. Ou então pede o número que uma tarde dessas ligo de volta”. Ligou mesmo. O Franque era Frank, claro. Frank Sinatra. Queria que Tom embarcasse no primeiro avião para Miami para gravarem o álbum que seria Frank Sinatra Canta Tom Jobim. Na redação de A Bola, no 2.º andar da Travessa da Queimada, a Maria Augusta, a telefonista, apanhou-me a passar no corredor: “Afonso, ligou uma pessoa para ti há umas duas horas. Não estavas no teu número e esqueci-me. Diz que está à tua espera no hall do Ritz. É um tal de Nascimento”.

Fui a correr, atrasado, envergonhado por fazer esperar Edson Arantes do Nascimento, por extenso Pelé. Não se fazem esperar majestades de tamanho calibre, mas a Maria Augusta era um bocado como o dono da tasca onde o Tom bebia as suas cervejinhas. O sr. Nascimento era o sr. Nascimento e nada mais. Pelé estava à espera, tranquilo. Riu-se da história. Deu a entrevista. Não ficámos amigos, mas promovemos uma comum estima, renovada sempre que nos encontrámos ou falámos por telefone. Para mim, falar com ele era como marcar um golo. Felizmente marquei muitos. Não marcarei mais nenhum.

O sr. Nascimento


Para mim, falar com ele era como marcar um golo. Felizmente marquei muitos. Não marcarei mais nenhum.


tenho históriAs infinitas para escrever sobre pelé. Conheci-o em Lisboa, há mais de trinta anos, numa promoção a cartões de crédito. Nos cinco minutos em que estivemos juntos pedi-lhe uma entrevista para mais tarde, coisa como deve ser, sem interrupções nem entraves. Prometeu que sim. Que mal estivesse livre me ligaria para a redação de A Bola e que me dispensava o tempo que precisasse. Depois foi mais ou menos como a história do Franque e do Tom Jobim. Conhecem?

O Tom vindo de uma experiência pouco feliz, no Estados Unidos, abatido, passando os dias entre casa e o boteco da esquina bebendo chope com os amigos, espreitando as garotas de Ipanema. Volta e meia o dono do estaminé avisava o Tom: “Cara, está aí um gringo teimoso ligando para você faz dias. Um tal de Franque”. E o Tom, encolhendo os ombros: “Não sei quem possa ser. Esquece ele. Ou então pede o número que uma tarde dessas ligo de volta”. Ligou mesmo. O Franque era Frank, claro. Frank Sinatra. Queria que Tom embarcasse no primeiro avião para Miami para gravarem o álbum que seria Frank Sinatra Canta Tom Jobim. Na redação de A Bola, no 2.º andar da Travessa da Queimada, a Maria Augusta, a telefonista, apanhou-me a passar no corredor: “Afonso, ligou uma pessoa para ti há umas duas horas. Não estavas no teu número e esqueci-me. Diz que está à tua espera no hall do Ritz. É um tal de Nascimento”.

Fui a correr, atrasado, envergonhado por fazer esperar Edson Arantes do Nascimento, por extenso Pelé. Não se fazem esperar majestades de tamanho calibre, mas a Maria Augusta era um bocado como o dono da tasca onde o Tom bebia as suas cervejinhas. O sr. Nascimento era o sr. Nascimento e nada mais. Pelé estava à espera, tranquilo. Riu-se da história. Deu a entrevista. Não ficámos amigos, mas promovemos uma comum estima, renovada sempre que nos encontrámos ou falámos por telefone. Para mim, falar com ele era como marcar um golo. Felizmente marquei muitos. Não marcarei mais nenhum.