Sou do tempo em que chover no inverno era coisa compaginável com a natureza das coisas.
Hoje, qualquer comentador de eventos hídricos, explica que tempestade, “chuva a potes” ou dilúvio em dezembro, não é mais do que expressão de “alterações climáticas”.
As certezas são tantas como as incertezas, no mesmo plano em que a natureza não segue a certeza dos homens, passando rapidamente da seca durável às inundações sem fim.
Um pagode para não deduzirem que o problema reside na insuficiência das infra-estruturas de armazenagem e drenagem de águas, capazes de responder a fluxos anormais de pluviosidade, na ausência de um Plano Nacional de Barragens (e já agora, mini-hídricas) com sustentação inquestionável do ponto de vista das decisões políticas a prazo e com consequências de benefícios garantidos…
O caso de Lisboa é paradigmático: os túneis construídos nos anos de 1990/1997, desde logo se revelaram tecnicamente imperfeitos quanto ao escoamento e drenagem de águas em fluxo anormal.
E que foi feito desde há 25 anos a nível nacional ?
Muito pouco…
Hoje lá vão as inundações a débito das “alterações climáticas” quando deviam ficar no deve/haver dos políticos municipais e nacionais pelo adiamento de obras fundamentais.
Noutras latitudes não foram na conversa da natureza trágica …
No Tennessee por exemplo, o rio que banha o famoso vale, extravasava das suas margens, ano sim ano não, em mais de 1 050 kms de extensão, semeando tragédia e desespero.
E tudo então ficava submerso.
Até que, em 1933, o Presidente Franklin D. Roosevelt aprovou o “Tennessee Valley Authority Act” que criou uma entidade pública para a navegabilidade, o controlo de fluxos, a reflorestação, a preparação das margens e a promoção de barragens e fomento industrial e agrícola…
E onde havia um problema, passou a haver uma oportunidade para milhões de pessoas.
Tal não é o caso por aqui…
Por cá, vão continuar as conferências das ong’s do ambiente sentadas à mesa do orçamento e, daqui a um ano, o fado continua: ui o que chove no inverno…
Neste domínio a mediatização da sociedade e a instantâneidade da comunicação, faz circular de imediato a ideia de que o clima é algo influenciável pela mão do homem, seja para não provocar a destruição, seja para se aceitar a reconversão…
Há nisto algo de verdadeiro mas sem alterar a ideia de que o clima tem portas abertas no futuro, se crescer a sensibilidade dos interessados para a duvida metódica quanto às balelas climáticas.
E é tão fácil recorrer aos especialistas de fundado currículo.
O Professor José Pinto Peixoto, afamado português junto do MIT de Massachussets, autor de uma verdadeira bíblia do clima, Physics of Climate, em co-autoria com Abraham Oort, obra traduzida em mais de vinte idiomas e publicada pelo American Institute of Physics de Nova Iorque em 1992, refere-se ao clima como uma entidade com vida própria (“… the climate is always evolving and it must be regarded as a living entity”).
Nele se explica como os fenómenos ambientais interagem à escala global, recorrendo a uma abordagem integrada das componentes do sistema climático, fora de circunstancialismos regionais no globo.
Apesar de ter sido um dos cientistas de maior notoriedade do seu tempo, Pinto Peixoto não era um homem de certezas absolutas em relação à ciência, de tal maneira que baseado e partindo das Confissões de Santo Agostinho, em que o Santo se questionava sobre o que é o tempo, “Quid est ergo tempus?”, Pinto Peixoto, manifestou as suas dúvidas e perguntou, respondendo de seguida:
– Quid est clima? (O que é o clima?)
– Si nemo a me quaerat, scio! (Se ninguém me perguntar, eu sei o que é!)
– Si quaerenti explicare velim, nescio! (Se me perguntarem e eu quiser explicar, eu não sei!)