Santa Bárbara 4.0


Se diminuir drasticamente o consumo de combustíveis fósseis no nosso quotidiano é um objetivo global, é, na minha opinião, prudente planearmos hoje o futuro dos recursos minerais e energéticos de modo a evitar os erros cometidos na gestão dos recursos naturais durante as últimas décadas.


A 4 de dezembro é assinalado o dia de Santa Bárbara. Para a igreja católica Santa Bárbara é a entidade protetora contra tempestades, raios e trovões e também padroeira de todos os profissionais que trabalham com fogo e dos mineiros. Por este último motivo, o dia 4 de dezembro é celebrado pela comunidade mineira e pelos estudantes em graus académicos relacionados com a engenharia de minas um pouco por todo mundo. No Instituto Superior Técnico a data é assinalada anualmente pelas alunas e alunos da Licenciatura em Engenharia de Minas e Recursos Energéticos com a organização e realização das Jornadas de Santa Bárbara e mais recentemente também com a entrega do Prémio de Mérito Académico Filstone em Engenharia de Minas e Recursos Energéticos. As Jornadas de Santa Bárbara, que já contam com 17 edições e este ano são dedicadas aos recursos minerais na era da transição digital e da indústria 4.0, são um ponto de encontro para partilha de experiências entre estudantes, profissionais e alumni do Técnico.

Numa versão revista e atualizada dos títulos atribuídos a Santa Bárbara acrescentaria outro, o de padroeira do desenvolvimento sustentável. Apesar de pouco discutido publicamente e ainda frequentemente ignorado pelos decisores políticos, é hoje inegável o papel central dos recursos minerais e energéticos na transição energética e digital e na composição da tecnologia que permite a remoção ativa de dióxido de carbono na atmosfera (i.e., o geo-armazenamento de dióxido de carbono em formações geológicas profundas). São exemplos deste novo paradigma as recentes posições da União Europeia (UE ) sobre a importância das matérias-primas críticas, que englobam os recursos minerais, para se fazer cumprir os objetivos da neutralidade carbónica o mais rapidamente e até 2050, na economia circular, na defesa, na exploração espacial. É também a UE que destaca como prioritário o investimento em investigação e desenvolvimento de novos métodos de modelação, extração, processamento e reciclagem das matérias-primas críticas.

Apesar da importância das matérias-primas críticas nos objetivos do desenvolvimento sustentável, é com algum espanto que não vejo este tema como prioritário para a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o clima. Terminou há poucas semanas a vigésima sétima conferência do clima, a COP 27, e mais uma vez deu-se maior destaque às presenças, ausências e à duração do evento do que à falta de medidas concretas para a produção sustentável das matérias-primas críticas. A implementação destas medidas é um desafio. Para que o futuro seja sustentável nas suas várias dimensões, ambiental, social e económica, não chega termos tecnologia de caracterização e extração de recursos mais eficiente e acesso a cadeias de fornecimento mais resilientes, variadas e com menor dependência de nações com governos pouco recomendáveis. É obrigatória a implementação de protocolos para certificar que estas matérias-primas estão de acordo com critérios de exigência ambiental. A minimização dos impactes ambientais durante toda a cadeia de valor das matérias-primas críticas tem de fazer parte da função objetivo das operações do dia-a-dia, de segurança e de condições de trabalho em todo o seu percurso: desde a fonte até à sua integração no produto final.

Se diminuir drasticamente o consumo de combustíveis fósseis no nosso quotidiano é um objetivo global, é, na minha opinião, prudente planearmos hoje o futuro dos recursos minerais e energéticos de modo a evitar os erros cometidos na gestão dos recursos naturais durante as últimas décadas. Se para concretizar este desígnio precisarmos de uma mãozinha divina, Santa Bárbara que tanto terá feito pela indústria mineira até aos dias de hoje, não se irá importar de ajudar.

 

Professor do Instituto Superior Técnico

Santa Bárbara 4.0


Se diminuir drasticamente o consumo de combustíveis fósseis no nosso quotidiano é um objetivo global, é, na minha opinião, prudente planearmos hoje o futuro dos recursos minerais e energéticos de modo a evitar os erros cometidos na gestão dos recursos naturais durante as últimas décadas.


A 4 de dezembro é assinalado o dia de Santa Bárbara. Para a igreja católica Santa Bárbara é a entidade protetora contra tempestades, raios e trovões e também padroeira de todos os profissionais que trabalham com fogo e dos mineiros. Por este último motivo, o dia 4 de dezembro é celebrado pela comunidade mineira e pelos estudantes em graus académicos relacionados com a engenharia de minas um pouco por todo mundo. No Instituto Superior Técnico a data é assinalada anualmente pelas alunas e alunos da Licenciatura em Engenharia de Minas e Recursos Energéticos com a organização e realização das Jornadas de Santa Bárbara e mais recentemente também com a entrega do Prémio de Mérito Académico Filstone em Engenharia de Minas e Recursos Energéticos. As Jornadas de Santa Bárbara, que já contam com 17 edições e este ano são dedicadas aos recursos minerais na era da transição digital e da indústria 4.0, são um ponto de encontro para partilha de experiências entre estudantes, profissionais e alumni do Técnico.

Numa versão revista e atualizada dos títulos atribuídos a Santa Bárbara acrescentaria outro, o de padroeira do desenvolvimento sustentável. Apesar de pouco discutido publicamente e ainda frequentemente ignorado pelos decisores políticos, é hoje inegável o papel central dos recursos minerais e energéticos na transição energética e digital e na composição da tecnologia que permite a remoção ativa de dióxido de carbono na atmosfera (i.e., o geo-armazenamento de dióxido de carbono em formações geológicas profundas). São exemplos deste novo paradigma as recentes posições da União Europeia (UE ) sobre a importância das matérias-primas críticas, que englobam os recursos minerais, para se fazer cumprir os objetivos da neutralidade carbónica o mais rapidamente e até 2050, na economia circular, na defesa, na exploração espacial. É também a UE que destaca como prioritário o investimento em investigação e desenvolvimento de novos métodos de modelação, extração, processamento e reciclagem das matérias-primas críticas.

Apesar da importância das matérias-primas críticas nos objetivos do desenvolvimento sustentável, é com algum espanto que não vejo este tema como prioritário para a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o clima. Terminou há poucas semanas a vigésima sétima conferência do clima, a COP 27, e mais uma vez deu-se maior destaque às presenças, ausências e à duração do evento do que à falta de medidas concretas para a produção sustentável das matérias-primas críticas. A implementação destas medidas é um desafio. Para que o futuro seja sustentável nas suas várias dimensões, ambiental, social e económica, não chega termos tecnologia de caracterização e extração de recursos mais eficiente e acesso a cadeias de fornecimento mais resilientes, variadas e com menor dependência de nações com governos pouco recomendáveis. É obrigatória a implementação de protocolos para certificar que estas matérias-primas estão de acordo com critérios de exigência ambiental. A minimização dos impactes ambientais durante toda a cadeia de valor das matérias-primas críticas tem de fazer parte da função objetivo das operações do dia-a-dia, de segurança e de condições de trabalho em todo o seu percurso: desde a fonte até à sua integração no produto final.

Se diminuir drasticamente o consumo de combustíveis fósseis no nosso quotidiano é um objetivo global, é, na minha opinião, prudente planearmos hoje o futuro dos recursos minerais e energéticos de modo a evitar os erros cometidos na gestão dos recursos naturais durante as últimas décadas. Se para concretizar este desígnio precisarmos de uma mãozinha divina, Santa Bárbara que tanto terá feito pela indústria mineira até aos dias de hoje, não se irá importar de ajudar.

 

Professor do Instituto Superior Técnico