Estou a pouco mais de uma semana de voltar a partir e deixar para trás este País Triste que parece cada vez mais triste, tardes curtas e cinzentas, noites longas e frias, despida de gente nas ruas e nos lugares que frequento, uma necessidade de sol que me assola, o calor que me faz falta para ir sobrevivendo às alcateias da depressão que me uivam aos calcanhares sempre que Setembro acaba na sua melancolia tão única de ser Setembro e nada mais.
É verdade que, entretanto, Outubro passou a ser o Setembro de antes, esticando as tardes de praias quase vazias à custa de temperaturas agradáveis. Mas Outubro passou e é Novembro e Dezembro não tarda. Chove. Chove muito em Lisboa, agora, Rua do Norte, o ruído tilintante do elétrico aqui ao lado, no Largo Camões, turistas perdidos como rafeiros encharcados, a senhora de idade que vende guarda-chuvas (“pequenos e automáticos!”), mártir também ela à porta da Igreja da Nossa Senhora dos Mártires, que motivo menor que a fome a arrasta para aqui nesta segunda-feira-feia, quem lhe compra um guarda-chuva se não há quem a fite nos olhos e entenda o seu ar de súplica?
Lá em baixo, na Baixa, Rua dos Douradores, talvez um homem único de bigodinho, teclasse na velha máquina de escrever que pertencia à empresa para a qual fazia traduções de correspondência banal, elevando-se acima de toda a banalidade da capital e do mundo: “Pois apesar de ser esse/O Natal da convenção/Quando o corpo me arrefece/Tenho o frio e Natal não”.
Detesto o Natal da convenção; detesto o Natal, pura e simplesmente, mas ficamos amarrados à convenção, ficamos amarrados a estar presentes num lugar qualquer há tantos anos repetido mesmo que, a mesa da consoada, esteja cada vez mais cheia de fantasmas dos que se foram entretanto entregando à inevitabilidade da existência. Dizem que alguém nasceu neste tempo em que eu, ano após ano, só morro…