Posicionando Portugal como país charneira no combate às alterações climáticas, o PNEC 2030 atribui à Electricidade uma importância critica e central no processo de descarbonização e uma função de backup evanescente para o Gás Natural.
Este contexto enquadra, necessariamente, as decisões de política energética, nomeadamente os investimentos nas interligações. Vejamos:
ELECTRICIDADE
• Na UE, a Península Ibérica, actora relevante das energias renováveis e no GNL, é uma quase-ilha com as interligações para FR das redes energéticas, gás e electricidade, mais fracas de todo o Mercado Único da Energia.
• A UE definiu metas para a capacidade de interligação eléctrica entre 2 países: 10% em 2020 e 15% em 2030. Entre PT e ES estes valores serão cumpridos. Entre ES e FR o valor actual está abaixo dos 4%. Com o projecto do Golfo da Biscaia, actualmente em fase de licenciamento e previsto só entrar em serviço em 2027, a capacidade subirá para os 7%.
• A certeza, de no final da década aquela capacidade ainda estar a menos de metade das da rede da UE, deveria ser motivo de grande preocupação e urgência pois limita fortemente a capacidade de transporte dos fluxos e excessos de produção intermitente, não melhora a eficiência dos mercados e afecta a segurança de abastecimento.
• Segundo o RMSA-E 2022, a importância do GN na estrutura de abastecimento do consumo eléctrico, evoluirá de 36% em 2023, para 9% em 2030 e 3% em 2040.
GÁS NATURAL
• O RMSA G 2021 prevê que nos próximos 8 anos, até 2030, o consumo de gás natural diminua cerca de 25% de 63,5 para 48 TWh. Em 2040 este valor será de 44.
• Portugal tem uma capacidade de armazenagem, medida em dias de consumo, de 24 dias, uma das menores da UE. A capacidade de recepção anual de GNL em Sines é de 69 TWh com uma taxa de utilização de 86%, quase esgotada.
• Deste modo, a capacidade livre em Sines é de 10 TWh. Nos mesmos termos, a Espanha tem 530 e o resto da Europa 550 TWh.
• O corte com a Rússia obriga a Europa a aprovisionar-se, reajustar o mix energético, repensar o ritmo da descarbonização, readaptar a rede de transporte.
• O GNL aumentará de importância relativa, sendo que o GN mais imediato virá da Noruega e do Norte de África.
• A rede de transporte, integrada, optimizada e reforçada, aproveitará a capacidade ainda ociosa, resolverá estrangulamentos, reorientará fluxos.
• O gasoduto Barcelona – Marselha faz assim todo o sentido e oportunidade pois potencia uma disponibilidade de que a Europa Central e de Leste não podem prescindir.
• Neste sentido, o acordo recente é muito relevante para a Espanha e Alemanha, mas não para Portugal.
HIDROGÉNIO E CORREDOR VERDE
• Se é certo que há, por todo o lado, um grande interesse no hidrogénio, as soluções tecnológicas estão, quase exclusivamente, na fase piloto.
• Para além da produção, as soluções de transporte e armazenagem, equipamentos e materiais e a economia dos processos e modelos de negócio, exigem estudo e consolidação nos próximos tempos.
• No transporte de energia, a rede eléctrica tem vantagens económicas, de densidade e flexibilidade sobre os corredores verdes de gases renováveis.
• Num trabalho recente, o Instituto Fraunhofer conclui que, misturas de 20% de hidrogénio na rede de gás, aumentariam os custos do utilizador final até 43% e reduziriam as emissões de gases de efeito estufa em apenas 7%.
CONCLUSÃO
• Interligações eléctricas robustas são essenciais para o processo de descarbonização. A sua falta prejudica-nos e empurra-nos para aventuras arriscadas e caras.
• Só por si, o gás, em phasing-out do nosso sistema energético, já não justifica qualquer investimento.
• As cadeias do hidrogénio ainda não têm maturidade para beneficiar ou avalizar investimentos significativos no mercado público energético.
• A crise actual vai confrontar o país com necessidades e prioridades que não se coadunam com a vaidade esbanjadora e imprudente da adopção de soluções tecnologicamente imaturas sob o pretexto do “combate às alterações climáticas”.
Os líderes de Portugal, Espanha e França decidiram avançar com um “Corredor de Energia Verde” como sendo “a opção mais direta e eficiente para ligar a Península Ibérica”.
Haja Deus! Contrariando a mensagem do nosso PM, sempre direi:
PERDEMOS, MAS… NINGUÉM GANHOU!
Ex- Administrador da GDP e REN; ex-Secretário de Estado da Energia; Subscritor do Movimento Por Uma Democracia de Qualidade