É bem evidente que governos tão esclarecidos como os de António Costa utilizam as mais avançadas tecnologias na sua patriótica missão, sequenciando de forma sistemática raciocínios, comandos e instruções, construindo e divulgando os algoritmos ajustados a comprovar o êxito das suas políticas.
E o que já era óbvio para os iniciados tornou-se claro recentemente, quando a secretária de Estado Patrícia Gaspar revelou que o seu bem comandado, instruído e afinado algoritmo tinha determinado que a área ardida em 2022 foi apenas 70% da área que era suposto arder, atestando a governamental eficácia no combate às chamas.
Convenhamos que não se tratava de um algoritmo qualquer, ele era dotado de supremo rigor científico, levando mesmo em conta o “teor médio de humidade das árvores, arbustos, mato e até das folhas”, e indo ao pormenor de calcular a “quantidade desse material disponível para arder e a intensidade do fogo”. Subentende-se que também havia material indisponível para arder, vontade essa obviamente respeitada pelas chamas.
Assinala-se que outros ministros, e o primeiro deles, também já tinham percebido há muito o real valor da algoritmia e adquirido tão indispensável ferramenta, só que, até essa data, a mantinham confidencial.
Aliás, coisa avisada que a ex-ministra da Saúde prontamente fez ao chegar ao Ministério foi adquirir o seu algoritmo pessoal. Tão bem programado que logo calculou que a morte de 70% dos doentes em lista de espera para cirurgia se deveu a não terem aguardado o tempo estatuído para o seu tratamento, tendo morrido antes do tempo programado. Se devido a imprudência ou falta de paciência, culpa deles, interessante é a percentagem de 70%, a indiciar que terá sido formatado similarmente ao do seu homólogo dos incêndios.
Foi esse um algoritmo exemplar, dedicado e fiel, que não hesitou vir em defesa da dona, já em declínio, computando que os problemas do SNS se deviam às políticas dos anos 80, quando o PSD era governo e Cavaco Silva o 1º Ministro.
Algoritmos também notáveis foram os que o ex-ministro Cabrita criou, como o que parametrizava a velocidade das suas viaturas oficiais, registando instantaneamente a que estabelecia a sua condição de ministro ou a que o classificava como mero passageiro e vice-versa.
Mas, como em tudo, também no melhor logaritmo cai a nódoa, e alguns pecaram por manifesto excesso de zelo.
Exemplo lustroso é o que calculou 3 aeroportos em simultâneo para servir a capital, obrigando o ministro Pedro Nuno Santos a fazer mea culpa e a colocar tão solícito algoritmo em hibernação.
Também a excentricidade do algoritmo de Fernando Medina que condicionava o êxito das políticas públicas do Ministério das Finanças à sua parametrização por um consultor tão exclusivo como intransmissível, levou a que fosse rejeitado e, pior que tudo, à eliminação do consultor.
Em contrapartida, noblesse oblige, o aparentemente absurdo algoritmo do 1º Ministro que estipulava a parametrização dos raciocínios e cálculos justificativos da diminuição de 40 para 35 horas do trabalho semanal dos funcionários sem prejudicar a qualidade de serviço ou aumentar os custos foi absolutamente eficaz no seu objectivo eleitoral. Assim como o que atribuía médico de família a todos os portugueses, mesmo que cada vez mais ficassem sem o dito. Um algoritmo sábio que revelava ao 1º Ministro haver mais eleitores com saúde do que doentes sem médico de família e, se a mensagem aos primeiros era indiferente, aos restantes criava-lhes a esperança de atendimento seguro.
Subindo na sofisticação, aí temos agora o novíssimo algoritmo que garante o maior aumento de sempre das pensões, o absoluto cumprimento da lei e a manutenção do poder de compra, mesmo que a inflação seja superior, em soberba demonstração de uma nova geração do cálculo matemático.
Magia em estado puro que retira da cartola, nas vestes modernaças da algoritmia socialista, o mesmo bacalhau a pataco do antigamente.
Economista e Gestor
Subscritor do Manifesto Por uma Democracia de Qualidade
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