“Liberalismo em Liberdade” é o nome oficial da Lista B, encabeçada por Nuno Simões de Melo, ao Conselho Nacional da Iniciativa Liberal.
Simões de Melo, de 57 anos, é militar de profissão e membro IL desde 2021, tendo estado no Grupo de Trabalho de Defesa Nacional, do Gabinete de Estudos. É deputado municipal em Mafra, onde “tem a árdua tarefa de trazer medidas liberais a um concelho com uma maioria absoluta social-democrata”, conforme o mesmo revela no seu CV.
A Lista B, por ele comandada, “subscrita por membros de todo o país”, assenta, principalmente, em quatro pilares que quer ver alterados na direção do partido liberal, que critica fortemente. “Há alturas que penso que a IL não pode ser uma ‘melancia azul’, liberal por fora e bloquista por dentro… A defesa de causas, identitárias ou outras, que, em última instância, é a substituição da obsoleta luta de classes marxista por outras mais modernas, é um erro. O nosso foco é centrarmo-nos no que interessa aos portugueses e deixarmos de empunhar bandeiras que não passam da “espuma dos dias”, confessou ao i o também Comendador da Ordem Militar de Avis, para quem o aumentar de deputados da IL foi um feito da atual Comissão Executiva (CE). “No entanto, isso não pode ser um fim por si só. Tirando os últimos dias em que temos assistido a algumas iniciativas por parte da CE, o sucesso parece ter tirado ímpeto e tornado o partido acomodado a esses resultados”, acusa Simões de Melo, disparando: “É normal que quem detém o poder tente arranjar mecanismos para o manter. Dos 75 Conselheiros Nacionais, 25 são, por inerência, os membros da Comissão Executiva. Só 50 são eleitos. Não há uma verdadeira separação de poderes e pretendemos alterar esse estado de coisas. A IL é de todos nós, seus filiados, e é fundamental que os nossos representantes possam exercer o escrutínio de forma independente”.
Ao i, Simões de Melo revelou ter embarcado nesta missão de oposição à direção de Cotrim Figueiredo porque se “revê” no projeto. “Como tal, aceitei o desafio de ser o cabeça de lista da candidatura”. Lista esta que, diz, “se revê numa leitura clássica do liberalismo”, e que “assumiu que era altura de se quebrar um certo unanimismo que parece existir na IL e apresentar uma candidatura alternativa, com propostas concretas para melhoria da democracia interna e para uma maior penetração no território nacional”.
Para o Coronel na reserva, “não podemos ser só para uma determinada minoria urbana, mas temos que ter resposta para as questões diárias de todos os portugueses”.
“Internamente defendemos uma efetiva separação dos poderes, maior descentralização e aproximação do poder de onde ele emana. O indivíduo. No nosso caso, de cada membro do partido. A missão do CN é também auxiliar o partido a cumprir o proposto na moção estratégica apresentada por esta CE e que reuniu a maioria dos votos dos seus membros, pelo que pretendemos ser também motor para o concretizar dessas mesmas propostas”, completa o liberal.
Quatro pilares Em primeiro lugar, defende esta lista de oposição à liderança de João Cotrim Figueiredo, “um partido como a Iniciativa Liberal só crescerá se os seus órgãos nacionais refletirem verdadeiramente a pluralidade de opiniões dos seus membros, simpatizantes e votantes”.
Da mesma forma, “urge que os núcleos territoriais tenham liberdade de ação local e que sejam criadas estruturas intermédias de organização que permitam aos núcleos não estar totalmente dependentes do centralismo atual da Comissão Executiva do partido”, pede a lista coordenada por Simões de Melo, que considera ser “imperativo” que “acabem as inerências da Comissão Executiva no Conselho Nacional, para garantir o regular funcionamento do órgão e a separação de poderes entre os vários órgãos do partido”.
De seguida, os opositores a Cotrim Figueiredo fazem ouvir as suas críticas sobre um alegado enclausuramento do partido nos centros urbanos do país, procurando que o partido se estenda a todo o território nacional. “A Iniciativa Liberal tem que deixar de responder apenas aos anseios de uma elite urbana, tornando-se um verdadeiro partido nacional, plural, com vocação autárquica e ciente de que o seu posicionamento ideológico está à direita do PS e do PSD”, pedem os signatários da lista B.
Logo depois, na lista de ‘demandas’ deste grupo de liberais, há uma exigência de clareza, um pedido de ‘acerto’ do rumo do partido. “A Iniciativa Liberal tem que assumir com frontalidade a vontade clara de nas próximas legislativas afastar o socialismo do poder em Portugal e construir uma alternativa à direita, assente nos princípios liberais”, pede a Lista B, antes de se atirar ao seu mais polémico e contundente ponto: a luta contra a cultura woke e o marxismo cultural, que, dizem, são dois temas já impregnados no tecido do partido nascido em 2017, e que nas últimas eleições legislativas conquistou oito lugares no Parlamento.
“A Iniciativa Liberal deve combater a deriva do liberalismo para causas woke, identitárias ou segregacionistas, adeptas do cancelamento e até do marxismo cultural”, dispara a lista liderada por Simões de Melo, pedindo que “a defesa intransigente do Estado de Direito Democrático, que tem sido posto em causa durante as sucessivas governações socialistas de 2005-2011 e 2015-2022” seja “a prioridade da Iniciativa Liberal, que deve defender a liberdade plena dos cidadãos, devendo deixar de parte o folclore socialista de não problemas nacionais e ter um foco claro na apresentação de alternativas liberais que melhorem a vida das famílias e empresas portuguesas”.
Este é, aliás, o tema mais marcante no que toca às reivindicações da lista B ao Conselho Nacional da IL, criticando, por exemplo, os deputados da Assembleia Municipal de Lisboa que, em julho deste ano, votaram ao lado do PAN num voto de protesto pela realização de touradas em Lisboa, que acabaria chumbado pelo resto da Assembleia Municipal. Ou então, apontando também o dedo ao alegado “atraso” na defesa dos pais da família Mesquita Guimarães, em Vila Nova de Famalicão, conforme contou ao i fonte próxima desta lista opositora.