Brugge. Em honra e glória de Jan Breydel!

Brugge. Em honra e glória de Jan Breydel!


Na próxima sexta-feira, o adversário do FC Porto na Liga dos Campeões, recebe o grande rival da cidade num dérbi que vem desde 1889.


Brugge, no norte da Bélgica, na Flandres Ocidental, a cidade dos canais que sonhou um dia bater Hamburgo no tempo da Liga Hanseática (vem de Die Hanse, em alemão banda, ou tropa), essa conjunção de cidades que durante muito tempo manteve o monopólio comercial sobre grande parte do norte da Europa e sobre o Báltico.

É contra o principal clube da cidade, o Club Brugge, que o FC Porto fará dois dos jogos do seu grupo da Liga dos Campeões, uma equipa recentemente reforçada pelo antigo avançado ucraniano do Benfica, Yaremchuk, e que nesta sexta-feira recebe o seu grande rival, o Cercle Brugge.

Um dérbi é sempre um dérbi, e este é dos mais antigos da Europa continental, disputando-se desde 1899, com altos e baixos, claro está, conforme a força de cada um dos adversários se foi impondo ao longo das décadas. Na Bélgica tem o valor verdadeiramente especial de ser o único dérbi citadino. Antuérpia, Bruxelas ou Liége, por exemplo, chegaram a ter dois clubes mas houve sempre um deles que fraquejou, acabando por cair para as divisões secundárias ou terciárias, ou mesmo desaparecendo do mapa do futebol.

É aqui que entra uma personagem chamada Jan Breydel. Não, não tem nada que ver com o jogo que apaixona o mundo inteiro, mas deu nome ao estádio que Club Brugge e Cercle partilham irmãmente como se não fossem acérrimos adversários. Algo que se vê em muitos países, mas definitivamente não em Portugal.

Breydel foi um herói da Flandres do século XIV, quando a região lutava denodadamente contra o invasivo poder da França. Sabe-se muito pouco sobre a sua vida, inclusive o ano e o lugar em que terá nascido, mas ficou para a História ao organizar, juntamente com outra figura meio lendária, Pieter de Coninck, uma sangrenta revolta, que ficou conhecida por Brugse Mettsen (a Madrugada de Brugge), contra as tropas de Filipe IV de França, a quem chamavam O Justo.

Breydel, filho de um talhante, não tinha aversão ao sangue. Ao nascer do dia 18 de Maio de 1302, os seus seguidores lançaram-se com terrível violência sobre as guarnições francesas que dominavam a cidade de Brugge e desfizeram positivamente o canastro a alguns dos mais distintos representantes de Felipe IV. A missão de Breydel e Conink foi de tal forma bem sucedida que obrigaram o Rei de França a assinar o Tratado de Athis-sur-Orge que garantiu, na altura, a independência da Flandres.

Como se vê, Jan Breydel tem tudo para ser um herói de Brugge e foi com o seu nome que batizaram o estádio erguido em 1975, na zona de Sint-Andries, e no qual os portistas irão jogar no dia 26 de Outubro.

O dérbi O Club Brugge é ligeiramente mais velho do que o seu vizinho Cercle. O primeiro foi fundado em 1891 e o segundo em 1899, tendo-se desde logo defrontado nesse ano, embora o resultado da partida se tenha perdido nos arquivos do olvido. Mas, em novembro do ano seguinte, num novo confronto, um empate a zero prevaleceu. E novo empate, desta vez a dois golos, ainda no mesmo ano.

Só em 1904 é que houve uma vitória, e gorda (5-0) para o Club Brugge. Um sinal que serviu para marcar o futuro dos dois adversários. Porque o Club Brugge afirmou logo aí uma superioridade sobre o Cercle, de tal forma que, nos 19 jogos seguintes que tiveram lugar antes do início da I Grande Guerra, venceu 13 e perdeu apenas dois.

A única fase em que o Cercle tomou a dianteira foi após o conflito, fase em que conquistou dois (1927 e 1930) dos três títulos nacionais que tem em sua posse (o primeiro é de 1911). Tendo sido campeão em 1920, o Club Brugge só reapareceu na década de 70 – foi campeão em 1973, 1976, 1977, 1978 e 1980. No total conta com 13 campeonatos ganhos, aos quais junta nove Taças da Bélgica contra duas do Cercle.

Quando agora entrarem em campo, o Club Brugge é terceiro da classificação, atrás de Genk e Antuérpia, e o Cercle 16º, em zona de despromoção. Há hábitos que custam a ser alterados.