Nos últimos anos tem-se repetido à exaustão que o aeroporto da Portela esgotou a capacidade e precisamos de um novo. Só assim poderemos continuar a lucrar com a galinha dos ovos de ouro que é a indústria do turismo, diz-se.
Mas e se não for preciso um novo aeroporto? João Soares, antigo presidente da Câmara de Lisboa, defendeu corajosamente na última edição do Nascer do Sol que o aeroporto Humberto Delgado pode, com adaptações relativamente pequenas, responder às necessidades.
O problema é que muita gente não está nada interessada em soluções simples e económicas porque não dão dinheiro a ganhar. Pelo contrário, quanto mais caro, melhor.
Suspeito que o novo aeroporto, ao contrário do que têm tentado impingir-nos, não é um imperativo nacional, mas sim um gigantesco negócio.
Mesmo antes da construção começar, há os estudos que, como João Soares lembrou, já custaram milhões que podiam ter sido mais bem usados a melhorar o Humberto Delgado. Depois, há os projetos de arquitetura e engenharia da nova infraestrutura. E a construção propriamente dita – pistas, terminais, hangares, armazéns, estacionamentos, espaços comerciais, etc., etc., etc. Mas isso é apenas o início. Se for preciso construir uma nova ponte e cobrar novas portagens, ainda melhor. E, se tiver de se fazer uma nova linha ferroviária para assegurar a ligação, é ouro sobre azul. Veja-se quanta margem não existe aí para faturar – e para derrapagens…
Claro que o maior negócio de todos talvez ainda seja outro. Assim que os terrenos do “velho” aeroporto forem libertados e os aviões deixarem de sobrevoar aquela faixa, há uma oportunidade única para o mercado imobiliário. Todos vão querer o seu pedaço do bolo.
Quanto aos lisboetas (e aos turistas que nos visitam), em vez de terem um aeroporto próximo, passam a ter de ir a Alcochete, Montijo ou outro sítio qualquer bem longe – em tempos falou-se da Ota e até de Beja – apanhar os aviões. Se alguém ficará a ganhar não serão eles certamente.