A investigação dos fogos florestais deste ano, entre os quais o da Serra da Estrela, que só ontem começou a ficar dominado, está a cargo de uma entidade com um nome longo, a Comissão Nacional para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais.
É certo que só identificando as causas – e as dos fogos hão de ser várias e complexas – se pode resolver os problemas. Mas eu diria que o diagnóstico há muito que está feito e é relativamente consensual. O nosso problema, creio, não vem da falta de diagnósticos, vem da falta de ação.
Porque se insiste então tanto nos estudos, relatórios, etc.? Talvez a razão seja mais simples do que parece: porque é mais fácil. Não iria ao ponto de dizer, como parece sugerir Jaime Marta Soares (entrevista nas págs. 6-9) que os autores desses estudos são uma espécie de treinadores de bancada que não têm muita noção do que se passa no terreno. A culpa dos fogos não é certamente deles – é dos políticos, para quem é muito mais cómodo nomear comissões e encomendar documentos do que realmente atacar o problema.
Quanto aos relatórios, as conclusões são sempre tão desanimadoras – falam em “mudanças estruturais”, sinónimo de “impossíveis de implementar” – que desencorajam qualquer ação.
Impunham-se medidas concretas, simples, mesmo que pequeninas, e tomadas atempadamente, porque se estivermos à espera de fazer tudo o que recomendam os relatórios, provavelmente nunca avançaremos. Falta sobretudo coragem, iniciativa e vontade.
Nunca é de mais recordar o triste caso dos incêndios de Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra. Também foi constituída uma comissão para apurar o que se passou e os erros foram identificados. Em que medida isso contribuiu para mudar alguma coisa? Tanto quanto sei, continua tudo na mesma. O único projeto feito com vista a que a tragédia não se repita foi promovido por uma empresa do setor da celulose, ou seja, do eucalipto…
Quanto aos estudos, desde que tenham contribuído para serenar as hostes nos momentos mais críticos e deixar tudo na mesma, já terão cumprido a sua parte. Nem precisam de sair da gaveta.