O nosso futuro verde


Cascais foi o primeiro município do país a lançar um Roteiro Municipal para a Neutralidade Carbónica. Apontamos para a neutralidade nas emissões em 2050. 


Quase sem darmos por isso, já passou um ano sobre a COP26 em Glasgow.

Em novembro de 2021, o mundo deu passos consistentes para salvar o planeta do aquecimento global, protegendo os ecossistemas da desflorestação, cortando emissões de metano e, sobretudo, criando a visão de um futuro livre de carvão.

Parece que é conversa de outra vida. Um futuro livre de carvão está irremediavelmente comprometido. O consumo desta energia suja saltou a dois dígitos – mesmo nas economias avançadas – em virtude dos dramáticos acontecimentos geopolíticos que temos testemunhado.

A reflexão que nos assalta é perturbadora: estarão os compromissos globais para reduzir o uso de energias sujas e controlar o aumento da temperatura do planeta irremediavelmente em risco? 

Espero que não, temo que sim.

Quando se olha para o gigantismo das alterações climáticas, há quem passe, até como forma de desresponsabilização individual, o ónus de atuação para os governos ou para as instituições multilaterais. As orientações políticas, os quadros normativos e os grandes pacotes de investimento são desenhados pelos Estados ou por organizações supranacionais. Porém, creio que é na ação do poder local que se joga a nossa capacidade de perder ou ganhar a batalha pelo clima. É no somatório de pequenos passos individuais que se operam grandes transformações globais.

Se nada fizermos, se não nos comprometermos todos com metas mais ambiciosas e com políticas concretas, até 2050 o produto interno bruto mundial será cortado em mais de 23 triliões de dólares anualmente.

Com as sociedades em crise por via da inflação e da de-globalização, só temos dois caminhos.

Ou continuamos a depender dos combustíveis fósseis para acelerar a nossa recuperação económica no curto prazo, não resolvendo nada de estrutural para o futuro e mantendo as nossas democracias reféns de poderes autocráticos; ou, por outro lado, ousamos criar uma economia mais verde que nos garantirá sustentabilidade e soberania no longo prazo.

Ao decisor político, seja ao nível local ou nacional ou europeu, cabe equilibrar o crescimento orgânico das comunidades com o planeamento sustentável e o desenvolvimento económico solidário. A sua responsabilidade é criar opções.

Em Cascais, a marcha em direção a um futuro mais sustentável já começou. Estamos a fazer a nossa parte. Iniciámos uma “revolução verde”.

Isto significa que, do ponto de vista político, as preocupações ambientais tutelam transversalmente todas as áreas de atividade municipal e estão na base do nosso desenvolvimento estratégico. 

A revolução verde toca todos os domínios.

Na mobilidade, com o programa de transportes públicos rodoviários universal e gratuito que num ano apenas transportou 8,1 milhões de passageiros. Com autocarros de última geração menos agressores do ambiente, com mais de 6,5 milhões de km percorridos anualmente. 

Com a inclusão de dois autocarros movidos a hidrogénio na frota de serviço público, num total de dez novas unidades movidas a energia limpa. Ou com a renovação de toda a frota municipal, em breve constituída apenas por veículos elétricos ou híbridos.

A nossa ambição de sustentabilidade é visível na produção e uso de energia.

Iniciámos a transição para uma economia movida a hidrogénio, sendo pioneiros no lançamento da primeira estação de produção de H2 no país – um investimento de 4,5 milhões de euros.

Abrimos caminho para as comunidades locais de energia. Isto é, estamos a apoiar a colocação de painéis solares em edifícios públicos de grande dimensão e em breve lançaremos programas para edificações habitacionais e que geram energia para si mesmo e para as comunidades circundantes. A estrada da revolução verde também se faz com mudança de paradigma de governo.  Cascais foi o primeiro município do país a lançar um Roteiro Municipal para a Neutralidade Carbónica. Apontamos para a neutralidade nas emissões em 2050. 

Ao mesmo tempo, lançámos as bases do Conselho Municipal para a Ação Climática, onde vamos envolver todos os stakeholders relevantes para a transição para a sustentabilidade.

Por último, a nossa batalha pela sustentabilidade faz-se operando sobre o território. Entre dezenas de outras iniciativas, sublinharia três que colocam Cascais na vanguarda ambiental: (1) os 50 milhões de euros investidos na recuperação de ribeiras e cursos de água, patrimónios ambientais que foram degradados durante décadas, ao ponto de se tornarem passivos para o ordenamento urbano e para a qualidade das nossas águas; (2) um novo Parque Verde Urbano com mais de 40 hectares, a nascer no coração do concelho, na junção das freguesias de Cascais e Estoril, Alcabideche e São Domingos de Rana que se vai juntar a um outro de grande dimensão em Carcavelos; (3) a Plantação de Algas no Fundo do Mar com o duplo objetivo de capturar CO2 e aumentar a biodiversidade marinha.

Estas linhas, mais do que mostrarem o caminho feito, sublinham o tanto que está ainda por fazer para que a nossa ambição de um concelho (um país e um mundo) melhor, porque mais verde e sustentável, seja uma realidade. 

Cascais será sempre um aliado das universidades, das empresas, dos governos e dos cidadãos no esforço para a descarbonização da economia. Mais do que isso: é um território laboratório, predisposto à inovação e de braços abertos para receber aqueles que, como nós, queiram marchar nesta revolução verde.

Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Escreve à quarta-feira

O nosso futuro verde


Cascais foi o primeiro município do país a lançar um Roteiro Municipal para a Neutralidade Carbónica. Apontamos para a neutralidade nas emissões em 2050. 


Quase sem darmos por isso, já passou um ano sobre a COP26 em Glasgow.

Em novembro de 2021, o mundo deu passos consistentes para salvar o planeta do aquecimento global, protegendo os ecossistemas da desflorestação, cortando emissões de metano e, sobretudo, criando a visão de um futuro livre de carvão.

Parece que é conversa de outra vida. Um futuro livre de carvão está irremediavelmente comprometido. O consumo desta energia suja saltou a dois dígitos – mesmo nas economias avançadas – em virtude dos dramáticos acontecimentos geopolíticos que temos testemunhado.

A reflexão que nos assalta é perturbadora: estarão os compromissos globais para reduzir o uso de energias sujas e controlar o aumento da temperatura do planeta irremediavelmente em risco? 

Espero que não, temo que sim.

Quando se olha para o gigantismo das alterações climáticas, há quem passe, até como forma de desresponsabilização individual, o ónus de atuação para os governos ou para as instituições multilaterais. As orientações políticas, os quadros normativos e os grandes pacotes de investimento são desenhados pelos Estados ou por organizações supranacionais. Porém, creio que é na ação do poder local que se joga a nossa capacidade de perder ou ganhar a batalha pelo clima. É no somatório de pequenos passos individuais que se operam grandes transformações globais.

Se nada fizermos, se não nos comprometermos todos com metas mais ambiciosas e com políticas concretas, até 2050 o produto interno bruto mundial será cortado em mais de 23 triliões de dólares anualmente.

Com as sociedades em crise por via da inflação e da de-globalização, só temos dois caminhos.

Ou continuamos a depender dos combustíveis fósseis para acelerar a nossa recuperação económica no curto prazo, não resolvendo nada de estrutural para o futuro e mantendo as nossas democracias reféns de poderes autocráticos; ou, por outro lado, ousamos criar uma economia mais verde que nos garantirá sustentabilidade e soberania no longo prazo.

Ao decisor político, seja ao nível local ou nacional ou europeu, cabe equilibrar o crescimento orgânico das comunidades com o planeamento sustentável e o desenvolvimento económico solidário. A sua responsabilidade é criar opções.

Em Cascais, a marcha em direção a um futuro mais sustentável já começou. Estamos a fazer a nossa parte. Iniciámos uma “revolução verde”.

Isto significa que, do ponto de vista político, as preocupações ambientais tutelam transversalmente todas as áreas de atividade municipal e estão na base do nosso desenvolvimento estratégico. 

A revolução verde toca todos os domínios.

Na mobilidade, com o programa de transportes públicos rodoviários universal e gratuito que num ano apenas transportou 8,1 milhões de passageiros. Com autocarros de última geração menos agressores do ambiente, com mais de 6,5 milhões de km percorridos anualmente. 

Com a inclusão de dois autocarros movidos a hidrogénio na frota de serviço público, num total de dez novas unidades movidas a energia limpa. Ou com a renovação de toda a frota municipal, em breve constituída apenas por veículos elétricos ou híbridos.

A nossa ambição de sustentabilidade é visível na produção e uso de energia.

Iniciámos a transição para uma economia movida a hidrogénio, sendo pioneiros no lançamento da primeira estação de produção de H2 no país – um investimento de 4,5 milhões de euros.

Abrimos caminho para as comunidades locais de energia. Isto é, estamos a apoiar a colocação de painéis solares em edifícios públicos de grande dimensão e em breve lançaremos programas para edificações habitacionais e que geram energia para si mesmo e para as comunidades circundantes. A estrada da revolução verde também se faz com mudança de paradigma de governo.  Cascais foi o primeiro município do país a lançar um Roteiro Municipal para a Neutralidade Carbónica. Apontamos para a neutralidade nas emissões em 2050. 

Ao mesmo tempo, lançámos as bases do Conselho Municipal para a Ação Climática, onde vamos envolver todos os stakeholders relevantes para a transição para a sustentabilidade.

Por último, a nossa batalha pela sustentabilidade faz-se operando sobre o território. Entre dezenas de outras iniciativas, sublinharia três que colocam Cascais na vanguarda ambiental: (1) os 50 milhões de euros investidos na recuperação de ribeiras e cursos de água, patrimónios ambientais que foram degradados durante décadas, ao ponto de se tornarem passivos para o ordenamento urbano e para a qualidade das nossas águas; (2) um novo Parque Verde Urbano com mais de 40 hectares, a nascer no coração do concelho, na junção das freguesias de Cascais e Estoril, Alcabideche e São Domingos de Rana que se vai juntar a um outro de grande dimensão em Carcavelos; (3) a Plantação de Algas no Fundo do Mar com o duplo objetivo de capturar CO2 e aumentar a biodiversidade marinha.

Estas linhas, mais do que mostrarem o caminho feito, sublinham o tanto que está ainda por fazer para que a nossa ambição de um concelho (um país e um mundo) melhor, porque mais verde e sustentável, seja uma realidade. 

Cascais será sempre um aliado das universidades, das empresas, dos governos e dos cidadãos no esforço para a descarbonização da economia. Mais do que isso: é um território laboratório, predisposto à inovação e de braços abertos para receber aqueles que, como nós, queiram marchar nesta revolução verde.

Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Escreve à quarta-feira