Há décadas que se discute a construção de um novo Aeroporto de Lisboa, mas os diversos governos têm empurrado o problema com a barriga, tentam contorná-lo fazendo estudos e discussões públicas, mas o que é certo, é que até hoje nenhuma decisão foi tomada.
O caos no Aeroporto de Lisboa e a crescente procura de Portugal como país privilegiado para passar férias, fez com que o atual governo fosse obrigado a tomar uma posição o mais rápido possível, uma vez que Portugal precisa, e muito, do dinheiro que os turistas cá deixam, dinamizando de uma forma determinante a economia portuguesa – todos sabemos que o turismo é uma fonte de receita muito importante para o nosso orçamento.
Estamos assim perante um assunto de interesse nacional, cuja resolução deve ser célere, tendo sempre em conta as capacidades financeiras que o país dispõe para a construção de uma infraestrutura desta envergadura, isto se a solução for a construção de um aeroporto de raiz.
Pedro Nuno Santos, ministro das infraestruturas, apresentou uma proposta ambiciosa, que passava por duas premissas. Numa primeira fase procedia-se à adaptação da Base Aérea Militar do Montijo, ficando como um Aeroporto de apoio ao já existente Aeroporto Humberto Delgado, e numa segunda fase à construção de raiz, de um novo Aeroporto no campo de tiro de Alcochete – digno de um país endinheirado, que não somos.
A decisão do governo (ou do ministro das infraestruturas – não sabemos bem) foi apresentada pomposamente na televisão pelo próprio ministro da tutela, e nessa aparição pública manifestou que Portugal não poderia esperar mais e que o governo tinha de avançar o mais rápido possível para uma solução, devido às perdas consideráveis que temos diariamente, fruto da não entrada de turistas no país.
O caricato, ou talvez não, é que no dia seguinte, o primeiro-ministro, António Costa, desautorizou o ministro e deu indicações claras para revogar o despacho que colocava em prática o plano apresentado pelo seu ministro. Para justificar a sua posição, António Costa argumentou que a decisão tinha de ser negociada com o maior partido da oposição, uma vez que uma obra desta dimensão pode durar vários anos e atravessar várias legislaturas.
A decisão do primeiro-ministro e a sua justificação parecem ser acertadas, o que ninguém compreende é como é possível um ministro apresentar um projeto, considerado já concluído e debatido no interior do governo e o primeiro-ministro nada saber sobre o assunto.
Das duas uma, ou o primeiro-ministro sabia e recuou, porventura, porque foi chamado à razão pelo Presidente da República ou o primeiro-ministro não tinha de facto conhecimento do projeto do seu ministro, o que demonstra uma falta de coordenação grave no governo, tendo em conta a relevância do assunto e uma anarquia total dos ministros face ao primeiro-ministro. É caso para dizer quid júris?
Seja qual for a razão, não há escolha, são ambas péssimas para a credibilidade do país e dos intervenientes e demonstram que apesar do governo estar em funções apenas há 3 meses, já se encontra cansado e sem liderança.
Ainda esta semana, o ministro Pedro Nuno Santos voltou ao assunto, colocando o ônus de uma não decisão sobre a solução do futuro Aeroporto na direção do PSD. A afirmação do ministro, que já não o devia ser, foi mera propaganda política. A decisão sobre o novo Aeroporto cabe ao governo e não ao PSD.
O PS governa confortavelmente, tem uma maioria absoluta e tem todas as condições políticas para implementar os seus projetos. É o PS que tem a obrigação de apresentar o seu projeto e só depois disso é que o PSD deverá manifestar a sua opinião. Uma oposição construtiva é totalmente diferente de uma oposição decisória, os portugueses foram expressivos na escolha, o PS está mais do que legitimado para decidir. É assim que funciona a democracia, uns governam, outros fazem oposição.
Nem sempre a legitimidade é sinónimo de capacidade de decisão, e neste caso está altamente comprometida, o governo, está legitimado através de uma maioria absoluta, mas é evidente que não tem capacidade para tomar uma decisão estratégica para o país, mas há sua boa maneira, já tem um culpado, o principal partido da oposição.
Termino com uma factualidade, e como diz o ditado português, “para bom entendedor, meia palavra basta”. O aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, está a cerca de hora e meia do centro da cidade, o Aeroporto de Beja, mais coisa menos coisa, está à mesma distância do Marquês de Pombal, em Lisboa.